Livro de Obama vai encalhar no Brasil

19 de novembro de 2020, 09:43

Barack Obama só não deu entrevista ainda para The Caverá Times, o jornal satírico editado no Alegrete. Dizem que tem rádio, TV e jornal refugando entrevistas de Obama, oferecidas no atacado pela editora do livro de memórias dele no Brasil. Uma Terra Prometida foi editado pela Companhia das Letras. É preciso vender o livro.

Nas entrevistas, Obama não tem dito nada com nada. Os petistas reclamam porque ele anda falando mal de Lula, para fazer média com a direita. Mas o cara acha mesmo que a direita vai comprar o livro?

Obama aderiu ao cansativo truque do reacionarismo brasileiro. Se falar de qualquer assunto, tem que meter Lula na conversa. Ah, o Bolsonaro é isso e aquilo. Mas o Lula foi processado e preso como corrupto. Obama ouviu dizer que foi assim e decidiu repetir o que a direita repete.

Mas não acho que seja esse o maior problema das entrevistas. Vi a conversa dele com o Pedro Bial na Globo e a entrevista a Sergio Davila, diretor da Folha, por escrito.

O resumo das duas conversas é esse: Obama esconde um pensamento raso em declarações fofas sobre liberdades, diversidade, combate ao racismo, ambientalismo e humanismo. Todos temas de uma conversa feijão com arroz. São assuntos colegiais.

Obama fala obviedades, discorre sobre platitudes, é mediano, quase simplório. É como se fosse um sábio americano falando para o povo atrasado do sul. É o que antigamente se chamava, de forma pejorativa, de conversa para índio.

Obama trata a inteligência dos brasileiros com desprezo, o que talvez até faça sentido e seja coerente com a imbecilização produzida pelo bolsonarismo.

Mas Obama seria assim mesmo ou está tentando enganar para vender o livro? Alguns dizem que é, que Obama é mais pose do que conteúdo. O certo é que quase tudo o que ele diz nas entrevistas o Luciano Huck e o Datena também poderiam dizer.

Na entrevista à Folha, ele diz: “Não há como negar o dom que Lula possuía de se conectar com as pessoas e o progresso que foi feito nesse período para tirar pessoas da pobreza. Mas, como escrevi, sempre havia rumores girando em torno dele sobre clientelismo, e está claro que o Brasil ainda tem problemas profundos com a corrupção sistêmica”.

Mais um pouco e Obama vira um Sergio Moro com essa conversa de corrupção sistêmica.

A Companhia da Letras deve ter orientado mal o ex-presidente. Deve ter dito que ele falaria para a maior TV do Brasil, que lidera o antilulismo e liderou o golpe, e para o maior jornal, também marcadamente antiPT, antiesquerda e antitudo que não seja ‘liberal’.

E aí Obama veio com tudo, com a conversa básica que um republicano inteligente não repetiria. Obama passou do ponto.

O livro vai encalhar no Brasil. A única solução é a direita lavajatista fazer encomendas e distribuir para os seus leitores. Dariam de brinde junto com o vídeo em que Putin fala da masculinidade de Bolsonaro.

http://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/cronica/chico-e-luis-fernando-na-confraria-do-empate/?fbclid=IwAR2HUK55Me3WXYGjTI41r-LYIJs4PyRpX3AaBvf7x2xcmBQDTNndiTqDIvc”>https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/cronica/chico-e-luis-fernando-na-confraria-do-empate/

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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