Condenado na Itália por estupro, Robinho chega pra jogar no Santos - Foto: Divulgação
Condenado na Itália por estupro, Robinho chega pra jogar no Santos – Foto: Divulgação

E por falar em futebol, contratação de Robinho pelo Santos é um estupro

13 de outubro de 2020, 13:22

É um acinte a contratação do jogador Robinho pelo Santos Futebol Clube, fato que dá a exata medida da irresponsabilidade e da certeza da condição de deuses que a maioria dos dirigentes do futebol brasileiro possui. Robinho foi condenado pela justiça italiana, em 2017, a 9 anos de prisão por um estupro coletivo, ele e mais cinco, contra uma jovem torcedora albanesa, crime cometido quatro anos antes. Responde em liberdade e tem direito a recurso em mais duas estâncias.

Do ponto de vista jurídico, o Santos não comete crime algum. Pelo ângulo moral, no entanto, o clube que revelou Pelé comete crime hediondo contra a consciência nacional. Com a desculpa de que a condenação tem instâncias a cumprir, o clube violenta e estupra, figurativamente,  as mulheres brasileiras. Mais, ao por em dúvida a própria infração cometida, usam do mesmo desdém com o qual – segundo a sentença – Robinho reagiu para com a romena ao longo do ato abominável.

Não é de hoje que os dirigentes de futebol, salvas honrosas e quase inacreditáveis exceções, têm certeza de que são personalidades acima da Lei e da Ordem. Isto foi, ao longo da História, alimentado pelos dirigentes das federações, a começar pela própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que tem hoje ex-presidentes sem poder sair do Brasil ou sem ter como voltar ao País. Mudou alguma coisa? Não dá pra saber com exatidão. Mas a soberba que esses senhores do bem e do mal tratam seus próprios cargos, ao que tudo indica, permanece intocável. Ao futebol, tudo.

Pensassem mais na sociedade, nos jogadores, nos funcionários dos clubes, que nos próprios lucros, os dirigentes ainda estariam, como manda a razão, esperando a pandemia da Covid-19 dar sinais de arrefecimento para pensar em retornar com o futebol nos estádios. Pelo contrário, a bola voltou a rolar e, em seguida, explodiram os casos de contágios pelo Novo Corona Vírus. Realizar os jogos sem público é uma empulhação e um desrespeito a quem trabalha com o futebol, todos ao alcance do vírus. Em determinado momento, o contágio bateu à porta de mais de 30 pessoas de uma única vez, em clubes como o Flamengo, exemplo dessa mentalidade gananciosa e impune – vide o incêndio que matou jovens no Ninho do Urubu e que, para a diretoria do clube, não é motivo para providências eficazes e indenizações decentes.

Portanto, contratar um estuprador com a desculpa de que não houve, ainda, uma condenação em última estância, é o de menos, se levada em conta a condição sobre humana a qual esses senhores se atribuem. Já vimos outros absurdos, como foi outra contratação de outro criminoso, no caso o goleiro Bruno (ex-Flamengo), matador da ex-namorada Eliza Samúdio, cujo corpo esbagaçado teria sido servido em banquete macabro a cães ferozes.

Robinho, assim como aconteceu com Bruno, será aplaudido por uma parte da torcida que não está nem aí para a ética, para a decência e para a Justiça. Dará entrevistas e será convidado para mesas redondas. Se brincar, terá sua saga contada em matérias especiais. Em um breve exercício de futurologia, vejo profissionais da nossa imprensa esportiva entrevistando o estuprador como se crime nunca tivesse havido. Sou otimista e acho que vários não o entrarão nessa. Mas, não tenho dúvida de que outros o farão, com desenvoltura e cara de pau. Espero o primeiro repórter se negar a abrir o microfone para Robinho jactar-se de um gol ou de uma pedalada. Seria o mínimo.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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