Os carrapatos da boiada sabem que Salles já está sem munição

30 de outubro de 2020, 09:35

Ricardo Salles tem o perfil do desatinado já com um pé no penhasco. Se Bolsonaro não conseguir segurá-lo e ele for expelido do governo, teremos um candidato a atitudes imprevisíveis.

Salles ataca quem defende o que ele deveria defender, mas agora agride gente próxima, que presta bons serviços ao governo, para se posicionar bem, não necessariamente na estrutura institucional, mas junto à família. Salles assumiu que é o cara dos Bolsonaros, do pai e dos filhos.

Usa a linguagem dos garotos, rebaixa o debate nas redes sociais, ataca com apelidos, defende-se com argumentos precários e desculpas furadas, mas é da confiança da família.

Salles é a bala de borracha deles no olho dos inimigos, com o suporte tático de um general, não qualquer general, mas um vice-presidente da República que lhe assegura cobertura como presidente do Conselho da Amazônia.

Mas resistirá até quando? Força demais quem tenta compará-lo a Abraham Weintraub, o destemperado que brigou com o Supremo e com tudo e arranjou um exílio com mais de R$ 100 mil por mês em Washington.

Weintraub atacava os inimigos da família, e não só do governo, para ficar bem, como ficou, com todos os garotos. Conseguiu o emprego no Bid e agora não se incomoda com ninguém. Nunca tentou fazer escada brigando com gente de dentro do governo.

Salles é o sujeito escalado por Bolsonaro para fazer passar a boiada e a cachorrada na Amazônia, empurrando junto o Brasil arcaico dos grileiros, dos incendiários, dos garimpeiros e dos assassinos de índios. Tem uma missão que poucos assumiriam com tanta desenvoltura e competência.

Mas também é ingenuidade achar que Salles seria apenas o emissário de Bolsonaro para consolidar a presença ‘ideológica’ do governo numa área já marcada, muito antes do bolsonarismo existir, pelo reacionarismo e pela incivilidade de quem tem poder ou almeja ter à força.

As regiões dos devastadores, da Amazônia ao Cerrado e ao Pantanal, têm baixa densidade eleitoral. Não seria pelos eleitores que Bolsonaro brigaria tanto para se acumpliciar com os destruidores do meio ambiente e de terras de indígenas.

O que Salles cumpre é a missão de atender as demandas de velhos e novos fazendeiros que resistem a se modernizar, misturados a garimpeiros, invasores e bandidos em geral, porque no fim todos eles são quase a mesma coisa.

A diferença entre Salles e Tereza Cristina é que o primeiro abre a porteira para a boiada, e a segunda é uma das donas dos bois.

Em nome dessa gente é que Bolsonaro vende a conversa da ocupação da Amazônia a qualquer custo, para proteger o território e oferecer novas oportunidades e renda, e que Tereza Cristina e Salles falam do boi bombeiro.

Weintraub fez um bom serviço, mas em algum momento acabou tombando. Há limites para a falta de escrúpulos, e no caso de Salles os limites não serão estabelecidos por ambientalistas, povos da floresta ou líderes de outros países e de organismos internacionais.

Os limites não virão também do agro que evoluiu para a racionalidade ambiental, nem de empresários e banqueiros ligados ao marketing ambientalista. É mais provável que sejam impostos por gente de dentro do governo, que ele ataca por encomenda dos Bolsonaros, para manter os militares no espaço que lhes cabe.

Salles dá sinais de cansaço e pode se juntar a outros derrotados da ala ideológica liderada por Carluxo. Até os carrapatos da boiada sabem que ele dispara apelidos porque já está desorientado e com pouca munição.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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