
Supremo fica mal, se entubar a agressão de Tarcísio
Tarcísio de Freitas apoiou o ataque de Donald Trump ao Brasil com um objetivo muito claro até para um dedicado estagiário de 5ª série de um curso sobre os primeiros passos para entender o fascismo.
Tarcísio não quis perder mais uma chance de se recuperar com o bolsonarismo. Eduardo Bolsonaro, o preferido de Trump, não poderia capitalizar sozinho, como avalista, o ataque do americano ao sistema de Justiça brasileiro.
Trump escreveu no X: “O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelos eleitores do Brasil. Isso se chama eleição. Deixem Bolsonaro em paz”.
Tarcísio foi atrás e produziu a sua versão, sem muita imaginação, nas redes sociais: “O presidente (Bolsonaro) deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente!”
Trump acha que o Supremo não deve julgar Bolsonaro, o que não surpreende. Mas Tarcísio também acha, o que pode estar surpreendendo muita gente, mas não quem sabe ler os dois recados do que ele diz.
O primeiro recado, dirigido ao bolsonarismo que ainda o observa com desconfiança, é o de que finalmente pode radicalizar quando a pauta é a defesa de Bolsonaro. O segundo recado é dirigido ao próprio Supremo, que fica mal com a atitude do extremista moderado.
Tarcísio manda dizer a Alexandre de Moraes e a todo o STF que pode desafiá-los, na busca desesperada pela fidelização da base raiz bolsonarista, expondo sua dúvida sobre a autoridade da mais alta Corte do país para julgar o chefe do golpe e seu líder supremo.
Duas emissárias dos recados dos comandos bolsonaristas na grande imprensa, as jornalistas Bela Megale e Malu Gaspar, do Globo, já publicaram notinhas em que Moraes aparece como um ministro acossado pelo poder de Tarcísio.
O governador do boné da América grande de novo, informam as jornalistas, é capaz de influenciar decisões de Moraes na soltura de presos acusados de envolvimento no golpe e na decisão de recomendar ao TSE, com a autoridade que tem, que o tribunal não se apresse no julgamento do caso do senador catarinense Jorge Seif.
Desde abril do ano passado o processo contra o bolsonarista Seif está parado no TSE. O relator, ministro Floriano de Azevedo Marques, pediu nova coleta de provas de que ele cometeu delito eleitoral por abuso de poder econômico na campanha de 2022, com o uso de aeronaves do véio da Havan.
Para as emissárias do Globo, Moraes salvou Seif, pelo menos por enquanto, porque convive bem com as demandas de Tarcísio. Que, claro, age como quem adverte: não me ignorem, porque amanhã eu posso ser poderoso, não em São Paulo, mas em Brasília, e terrivelmente mais vingativo do que Bolsonaro.
O Globo deixa claro que Tarcísio toma o melhor cafezinho no STF. Mas terá ultrapassado os limites da imposição de um poder político que poderá vir a ter, afrontando publicamente a autoridade de Moraes? Ficaremos à espera de sinais de que, na visão do Supremo, pode ter se excedido.
O STF será discreto diante da arrogância de Tarcísio de Freitas? O que os ministros poderão dizer, como Lula já disse em defesa da soberania do Brasil, para proteger a instituição e o colega ameaçado, não só por Trump, mas muito mais pelo governador de São Paulo?
Se ficar sem resposta, essa pergunta irá produzir ecos insuportáveis na Praça dos Três Poderes: o STF vai entubar a agressão de Tarcísio?
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apoia agressão de Donald Trump nas críticas ao Judiciário brasileiro. Foto: Reprodução.