Bolsonaro tem mais valor para o fascismo americano do que para a direita brasileira

31 de julho de 2025, 18:20

Bolsonaro conseguiu um feito histórico ainda sem resultados práticos, na sequência dos desastres da extrema direita. Em casa e com tornozeleira, o líder do golpe tem mais poder nos Estados Unidos do que no Brasil.

Bolsonaro interessa hoje mais a Trump, por sua utilidade na estratégia de agressão ao Brasil, do que a Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab. Aqui, Bolsonaro está inerte e quase sem forças. Lá, é terrivelmente prestativo. 

O núcleo do bolsonarismo está numa fase ruim. Carla Zambelli foi presa na Itália. Tarcísio de Freitas entrou em hibernação. O filho Eduardo produz vídeos desconexos sem saber como dar o próximo passo, depois do blefe do tarifaço.

Os coronéis golpistas foram humilhados e perderam até o direito de usar a farda do Exército quando de interrogatórios no STF. E a base em desalento tenta provar nas redes sociais que ainda se move e respira.

A extrema direita acumula derrotas destruidoras. Perdeu a eleição, perdeu ao tentar o golpe e perdeu na tentativa de enfrentar Alexandre de Moraes e inviabilizar o julgamento dos golpistas.

Vem perdendo apoio da velha direita e perde o embate no Congresso para fazer andar o projeto da anistia. E sabe que, se fizer um movimento brusco hoje, em qualquer direção, irá perder de novo.

Mas, como diria o deputado Hélio Lopes carregando nas costas a sua barraca, depois de tentar liderar os novos acampamentos em Brasília, o bolsonarismo terá de reagir.

Coisas escabrosas devem estar em planejamento, depois do fracasso do esforço para produzir fatos políticos com repercussão popular capaz de provocar apoios e caos que abalem Lula, o Supremo, a economia e a democracia.

Tentaram tudo desde o 8 de janeiro, incluindo três aglomerações nos trios elétricos de Malafaia. E tentam agora com a chantagem de Trump e mais as sanções a Alexandre de Moraes.

Nada funciona porque não há o resultado que importa: o apoio dos brasileiros aos gestos extremistas. Falta sustentação popular aos movimentos do fascismo. Esse é o drama de Bolsonaro, dos filhos e dos que ainda estão ao lado deles.18

O bolsonarismo não conseguiu provar que, derrotado na eleição, poderia se reerguer com o golpe e tudo o que veio depois. Fracassou por falta de apoio.

O que resta para figuras com liderança e/ou com mandatos é a fidelização da base eleitoral extremada. É o que fazem líderes estaduais e municipais e deputados que mantêm suas turmas agrupadas e mobilizadas.

Mas nada disso se traduz no que mais a extrema direita precisa, como precisou e conseguiu eleitoralmente em 2018: o alargamento de seu alcance, para que o engajamento às suas ações não fique confinado aos que cantam hino para pneus e fazem contato com marcianos golpistas pelo celular.

A Terra dos Bolsonaros está cada vez mais plana e menor. Pesquisas mostram que o aumento do apoio a Lula é proporcional à perda de vigor das facções que, para continuar produzindo ameaças e gritaria, parecem hoje muito mais trumpistas do que bolsonaristas.

Imagina-se que não esteja com o deputado Hélio Lopes a missão de produzir para a direita no Brasil os ecos do que Trump faz nos Estados Unidos com a ajuda de Eduardo Bolsonaro.

A extrema direita necessita de bem mais, precisa provar, depois de uma goleada atrás da outra, que Bolsonaro continua tão útil para toda a direita brasileira como é para o fascismo americano.

É uma tarefa imensa. Os fracassos esmoreceram e aquietaram muita gente. Imobilizaram a moderação extremista de Tarcísio de Freitas. Desorientaram o lavajatismo que ainda gira em torno de Sergio Moro. Ofereceram a chance da ‘neutralidade’ a Hugo Motta e Davi Alcolumbre.

O bolsonarismo está nas mãos de Trump e já não sabe se pode se fortalecer em 2026 com a ajuda de Valdemar e Kassab, que olham de lado para a família de perdedores.

Bolsonaro é hoje um pré-presidiário com tornozeleira, vendo Corinthians e Palmeiras em casa, enquanto Alexandre de Moraes acompanha o jogo no estádio e, como corintiano, ainda sai vencedor. Até Trump sabe o que isso significa.

  • Imagem gerada em IA

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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