
Eduardo Bolsonaro sobe o tom
Na ficção, esse texto começaria contando a história de um jovem que tomou a pílula do empoderamento e se sentiu tão grandioso que decidiu subjugar todo o seu povo. De posse de uma arma potente, ameaça sequestrar todos os recursos dos cofres do país, caso não obedeçam às suas ordens.
Mas, como trata-se de um artigo, vamos falar de um jovem ressentido contra o seu povo, que passou a chamá-lo “bananinha”, depois de ele ter namorado uma moça nada discreta, que foi a público descrever o seu “caráter”, usando para isso o diminutivo. Ridicularizado por esse “particular”, desde então foi buscar afirmação em atitudes cada vez mais ousadas e vistosas, perdendo a noção entre a linha do certo e do errado. Entre o permitido e o ilícito, querendo ações além-fronteiras que lhe conferissem o que lhe faltava desde aquele namoro: autoconfiança.
Sim, estamos falando de Eduardo Bolsonaro, que de hora em hora sobe o tom de um discurso sem volta contra o seu país. (Mas Hugo, o presidente da Câmara, não se importa). Eduardo está licenciado do cargo de deputado federal desde março e o prazo para o fim de sua licença expira neste domingo (20/07). Contudo, nada foi feito no sentido de puni-lo pelas transgressões. Há pedidos de seus pares por sua cassação, mas o que parece andar, mesmo, são os projetos que permitam a sua atuação como deputado da Câmara, lá dos EUA, onde se autoexilou. Ops, isso é importante. Eduardo Bolsonaro se autoexilou.
Antes de se tornar “o filho do presidente”, bananinha foi um rapaz comum, que teve bons colégios – estudou nos colégios Batista e Palas -, e deve ter tido bom desempenho escolar, pois conseguiu ser aprovado na mais renomada universidade pública do Rio, a UFRJ. Ali, formou-se em Direito, onde deve ter aprendido alguma coisa sobre o Código Penal, a Constituição e os princípios basilares legais. Ao tornar-se político, a exemplo do pai e dos irmãos – a isso eu chamo vocação! -, parece ter esquecido tudo isso, para tornar-se um radical de extrema-direita ou, na avaliação geral, um fascista.
Chegou a fazer um pit stop na Polícia Federal, onde prestou concurso e obteve o cargo de escrivão.
Como na família as decisões parecem vir de cima para baixo – Carlos Bolsonaro teve sua maioridade antecipada para concorrer ao cargo de vereador e derrotar a mãe, sob os ditames do pai -, Eduardo seguiu o estabelecido se filiou ao Partido Social Cristão (de direita) e disputou o cargo de deputado federal pela primeira vez, em 2014, obtendo 82. 224 votos. Já em 2018, surfando na popularidade do pai, (o eleito para a presidência naquele ano fatídico), foi o deputado mais votado do país, com 1.843.735 votos. O volume de votos, porém, caiu a menos da metade em 2022, quando Jair foi derrotado. Foi reeleito, mas com 741.701 votos, desta vez pelo PL-SP.
O mandato foi praticamente abandonado, em nome de uma “fuga” – de quem, mesmo? -, para fixar residência nos EUA. De lá, tanto esperneou, percorreu gabinetes, insistiu, que acabou provocando o tsunami político que, desde o dia 9 de julho, quando o presidente Donald Trump postou uma cartinha pelas suas redes sociais ameaçando o Brasil de um tarifaço de 50% sobre os seus produtos, só faz pôr em risco os empregos dos seus conterrâneos, os negócios dos seus ex-aliados, a tranquilidade econômica do país.
Não satisfeito, ameaça também as eleições de 2026, e delira com imagens absurdas, do tipo: a chegada de um transatlântico no lago Paranoá. Será que ele tem noção de proporção? Afeito a fritar hamburguer, deve ter se acostumado com o calor da chapa e não percebeu que a sua já esquentou além do que consegue controlar.
Com tudo isso, por aqui, a discussão ainda é se Eduardo Bolsonaro, o ex-filho caçula de Jair – perdeu o posto para Jair Renan, irmão apenas por parte de pai -, cometeu ou não cometeu crime contra a soberania nacional, incurso no artigo 359 – I, da Constituição. Enquanto juristas se apegam a filigranas, “bananinha” segue no seu exercício de autoafirmação, nos states. Fala grosso, aponta o dedo, e bate na mesa com aquilo que tem. Pelo barulho e avanços que conseguiu, parece estar derrubando o adágio: tamanho não é documento.
- Deputado “exilado” Eduardo Bolsonaro. Foto de arquivo: Elizabeth Frantz/Reuters