
Em nome do pai
Quanto mais se aproxima o desfecho do processo que vai levar para a prisão Jair Bolsonaro, ele e os seus filhos entram em desespero, tal como Maria Antonieta, que tentou – por uma passagem secreta do seu quarto, em Versailles -, escapar da guilhotina. Há provas, depoimentos, e um país inteiro por testemunha, da sua reação ao não aceitar o resultado das urnas. E, são vãs os seus argumentos de que fez “tudo dentro das quatro linhas”, quando sabemos que agir à luz da Constituição seria reconhecer a derrota, que até hoje não lhe desce goela abaixo. E como o corpo fala, Jair tem soluços intermitentes.
Dos Estados Unidos, onde se colocou à salvo da Justiça brasileira, Eduardo Bolsonaro é o mais estridente. Sobe o tom e parece apontar arma para a cabeça de todos nós, povo brasileiro, que ele quer ver de joelhos, como um sequestrador que escala nas exigências, à medida que o cerco se fecha.
Aqui, em terras brasileiras, Flávio, o irmão mais velho – e tido pela mídia como o “mais sensato -, reverbera os arroubos do irmão, ecoando as ameaças, embora sem a mesma “valentia”. Talvez avaliando que pode ser apanhado a qualquer momento. Basta aumentar o tom.
Estão irremediavelmente perdidos, tanto politicamente como judicialmente. Passaram da conta nas transgressões e vão ficando pelo caminho, enquanto a “direita” se organiza em trincheiras para salvar suas exportações, que os filhotes atacaram sem dó, tentando fazer o país se curvar aos seus caprichos. Esperneios e ranger de dentes de um fedelho, que se jogou no colo de Donald Trump, não vão adiantar. Tampouco os urros de Jair, hoje um leão desdentado que ruge para o nada. Estorvo, foi nisso o que se transformou.
Antes, cismava em não abandonar o posto de candidato, mesmo diante da realidade da sua inelegibilidade, impedindo o ultradireitista Tarcísio de Freitas de substituí-lo, travestido em pele de cordeiro. Ao menor sinal de Trump, Tarcísio colocou o seu boné de Maga e despiu a imagem de bom moço, com a qual pensava ir para as urnas em 2026. Mas, como não há farsa que perdure, o governador traiu o Brasil, se colocando ao lado do mandatário estadunidense contra os interesses do estado que governa, em defesa de Bolsonaro. Levou um susto ao tomar uma prensa da turma do agro, da turma dos cítricos, da turma dos empresários exportadores, que exigiram uma fala mais equilibrada do governador, candidato a candidato.
A fala veio, entre gaguejos e “descadenciada”, porque era recado encomendado, quando o que ele queria mesmo era continuar no discurso radical contra o país e a favor do padrinho. O mesmo país, que jurou defender na condição de militar, de cujas fileiras emergiu para a política. Visivelmente tentou se agarrar ao aceno do editorial do Estadão, que em tom “patriótico”, na verdade mandava um recado: desce agora da condição de traidor enquanto ainda é tempo. Lá na frente a gente ajuda a limpar a sua barra, desde que você se coloque agora como “moderado”.
Para Bolsonaro, o estorvo da direita, a Suderj informa: “os ponteiros marcam”. Seu tempo escorre pelos dedos. A sua parca biografia derrete. Saia do caminho antes que o caminhão da limpeza urbana recolha o que sobrou e jogue no lixo da história, que é onde o seu nome vai fulgurar.
Jair atrapalha: o Brasil que quer caminhar, o Centrão, que já vislumbra os sons de 2026 e quer se colocar para onde o vento sopra positivamente. A terceira via, que não renasce por conta do seu radicalismo. O único bem que Jair fez ao Brasil foi deixar claro para todos onde estava a nascente da “polarização”. E não era na trincheira das esquerdas, como queriam os comentaristas. Jair é o mandante do golpe, do sequestro, das tarifas, e das ameaças vindas dos seus pirralhos. Em nome do pai.
Hoje, nesta segunda-feira (14) quando a Procuradoria Geral da República (PGR) apresenta suas alegações finais na ação penal contra ele e os outros sete réus, o chão lhe foge dos pés. Jair Bolsonaro encabeça a lista de todos que integram o chamado “núcleo essencial”. Eles são investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). São réus do “núcleo 1”: ele, Jair Bolsonaro, ex-presidente da República; Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens; Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Defesa e da Casa Civil; Alexandre Ramagem, deputado e ex-diretor da Abin; Almir Garnier, almirante e ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF; Augusto Heleno, general e ex-ministro do GSI; Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa.
O parecer de Paulo Gonet é a última manifestação da acusação antes do julgamento do mérito e consolida todas as provas colhidas durante a instrução. O documento vai expor o posicionamento do procurador-geral pela condenação ou absolvição dos acusados e pode sugerir as penas aplicáveis, conforme os crimes atribuídos a cada réu.
Bolsonaro e os demais réus respondem por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem ultrapassar 40 anos de prisão em regime fechado. O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) é a única exceção. Ele teve duas das acusações suspensas pelo Congresso e responde agora somente por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito e organização criminosa. Em nome do pai, seus filhos esperneiam. Em nome do país, nós nos unimos e resistimos.
- Imagem do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro. Foto: Reprodução