Os skatistas estão chegando: Bolsonaro é abandonado, Lula vai ao encontro do povo. “Lula retornará às bases, mas encontrará os mesmos que sustentaram sua história até aqui?”.

30 de junho de 2025, 20:44

Skatistas abusados invadem a pista dos bolsonaristas. Lula avisa que voltará às periferias. Os tios do zap desistem de Bolsonaro na Paulista. E os bacanas do beach tennis da Faria Lima só querem saber de Tarcísio.

Veja o vídeo.

A democracia brasileira, desafiada pelas máfias dos emendeiros, chega à encruzilhada de 2025 antes do tempo. E antes da condenação de Bolsonaro e seus generais trapalhões.  

Em São Paulo, no domingo, Silas Malafaia produziu o gran finale da sequência de aglomerações para Bolsonaro, consagrando um fenômeno novo na política. 

O pastor conseguiu reduzir o público em volta do líder a cada manifestação em São Paulo e no Rio. No próximo ato, se acontecer, é possível que a Paulista tenha mais skatistas do que velhinhos com camiseta da seleção. Se for em Copacabana, poderá ter mais surfistas.

Malafaia patrocinou a festa de despedida para Bolsonaro antes da prisão e teve que oferecer, contrariado, o palco a Tarcísio e não à ausente Michelle. Ao Tarcísio que tem muito mais a confiança do centrão e da Globo do que do bolsonarismo.

É o Brasil a caminho de agosto. Os skatistas atravessaram a Paulista e sumiram sem dizerem de onde saíram. Mas nos encantaram com a ilusão de que os jovens voltarão às ruas, desde que não seja como em 2013, quando abriram as passeatas para a classe média que derrubaria Dilma.

E Lula? Lula vai fazer o que mais sabe. Irá onde o povo está. Para alertar o centrão de que ainda tem a base social dos que cantavam seus jingles. Que com essa trincheira pode enfrentar a reorganização do cangaço das emendas e que ainda se entende com quem pode levá-lo ao quarto mandato.

Mas temos as dificuldades dos novos tempos. Lula se dispõe a ouvir o povo, como parte da esquerda cobrava que fizesse, mas o que povo está mesmo disposto a ouvir dele? O que o povo espera de Lula?

Os mais deprimidos podem se perguntar: cadê o povo que estava aqui e que desfrutou dos avanços dos governos anteriores do PT, até a ruptura de 2018, provocada pelo lavajatismo que vinha desde o golpe contra Dilma?

O povo não se contenta só com diversão e arte. E manda sinais de que sonha com as coisas até que os South Summits chamam de prosperidade das ações disruptivas. O povo quer mais do que comida com ovo, Bolsa Família e cotas na universidade.  

E, mesmo que as esquerdas gritem alto, talvez muitos do povo não assimilem que os 300 picaretas do Congresso são agora membros de facções trabalhando de forma mais organizada contra esse povo.

Lula não pode subestimar a capacidade do povo de se fingir de surdo, diante do avanço do fascismo. Tem povo desconfiando até da promessa de isenção dos R$ 5 mil do Imposto de Renda.

Lula vai conseguir convencê-lo de que Arthur Lira, Kassab, Hugo Motta, a Globo e Alcolumbre não querem a isenção? Que, para a direita, ele não pode oferecer esse ganho à classe média que há anos pede alguma esmola ao governo.

Lula vai conseguir dizer que os 300 das facções do Congresso preparam a armadilha para que ele não melhore a arrecadação com a tributação dos ricos e que acabe cortando gastos sociais? Que esse Congresso deseja vê-lo ‘moralizando’ com alarde o BPC (Benefício de Prestação Continuada) para velhinhas e pessoas com deficiência. Para dizer depois que ele persegue velhinhas.

Que vão tentar obrigá-lo a matar o Pé-de-Meia e o Vale-Gás e a cortar as verbas para remédios e para o ganho real do salário mínimo todos os anos? O povo tem clareza de que dois terços do Congresso são de inimigos do povo?

Na cabeça mágica de quem está mais à esquerda, Lula irá a campo para reconquistar o que foi perdido nesse tempo todo. Não perdido por ele, mas por quem teve ou ainda tem mandatos.

Um campo perdido pelo recuo do ativismo comunitário, dos que que poderiam ter mantido vínculos, mesmo que precários, com as periferias e o que ainda chamam de movimentos sociais.

Lula terá que resgatar o que as lideranças das esquerdas perderam nos últimos anos, por se dedicarem demais às eleições como resultado final, enquanto a extrema direita avançava. 

É o cenário resumido de hoje e que pode mudar amanhã. Enquanto isso, os skatistas nos enredam em mais uma dúvida: eles vão voltar?

Imagem gera em IA.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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