
Tarcísio sangra por estupidez política e torna sua pré-candidatura presidencial um sonho de uma noite de inverno.
Pré-candidato à Presidência da República em 2026, articulada pelo Centrão, contra o desejo da própria famiglia Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não deu um tiro no pé – isso a foragida Carla Zambelli fez com um revólver de boutique na véspera das eleições que deram a Lula o terceiro mandato -, ele enfiou as duas patas numa armadilha para ursos, dessas com mandíbulas com dentes serrilhados, e dilacerou seus músculos e tendões políticos. Ao colocar sua subserviência e puxa-saquismo políticos acima dos interesses do próprio estado que administra, um dos mais prejudicados com o tarifaço de Donald Trump – posando, nas redes, num gesto imbecil e subserviente, com uma foto com o boné vermelho MAGA (Make América Great Again), em apoio ao presidente norte-americano -, Tarcísio abriu suas veias para uma hemorragia não só governamental, mas eleitoral, que deve drenar suas chances de seguir em frente no ambicioso – quase irrealista, considerando sua minúscula imagem nacional – sonho de chegar ao Planalto.

São Paulo, do lambe-botas Tarcísio de Freitas, é o estado com maior concentração de investimento americano no Brasil e reúne as maiores corporações exportadoras do Brasil. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, São Paulo é o estado nacional que mais exporta produtos para os Estados Unidos: foram US$ 13,8 bilhões em 2024. No primeiro trimestre de 2025, o estado representou 31% das vendas brasileiras aos americanos. Os itens mais enviados foram sucos de frutas, especialmente de laranja, aeronaves e combustíveis. Num gesto mais patético do que de reconhecimento do erro – como se na Internet isso adiantasse alguma coisa – Tarcísio apagou nesta sexta-feira, 11, publicação em seu perfil no Instagram em que usava boné símbolo da campanha de Donald Trump. É como tirar a Monalisa do Museu do Louvre, em Paris, e colocar no lugar uma placa “Estamos em reformas”.
O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), Jorge Viana, confirmou que, mantidas as supertarifas de Trump, o estado de São Paulo será o mais afetado pela tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. A região Sudeste – composta por Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, além de São Paulo – será a mais prejudicada, seguida do Rio Grande do Sul. Segundo ele, mais de 70% do que o Brasil exporta para os EUA sai desses quatro estados. “Eu espero que o governador de São Paulo, independente das posições ideológicas que tenha, reflita e veja que o estado mais afetado será São Paulo com desemprego, com empresas tendo dificuldade de seguir adiante. Em vez de fazer disso uma disputa, deveríamos estar unidos para encontrar melhor solução”, declarou Viana.

Durante visita a um dos trechos de obras da Linha-6 Laranja do Metrô, Tarcísio reconheceu que a tarifa imposta por Trump trará consequências ruins. “O impacto é negativo, porque São Paulo é um grande exportador para os EUA”, admitiu, escondendo o aspecto político do ato arbitrário de Trump. Em uma manifestação na Avenida Paulista, atrelaram a imagem de Trump à do ex-presidente Jair Bolsonaro – inclusive em cartazes onde são apontados como “Inimigos do povo”. O deputado fujão Eduardo Bolsonaro também foi alvo dos manifestantes e considerado responsável pela crise entre os dois países. Um dos organizadores da manifestação, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), cravou que o presidente Lula deverá aumentar tarifas em reciprocidade ao determinado por Trump. Sobre Tarcísio, Boulos disparou: “Uma postura vergonhosa. São Paulo é o estado mais industrializado do Brasil e vai ser o mais prejudicado nas industrias, empregos”, lembrou.

O ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, afirmou que o governador Tarcísio de Freitas deveria renunciar ao cargo – leia aqui – por apoiar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Veja o post. “Quando os orientais cometiam um erro muito grande e eram homens dignos, eles tinham um ritual. Faziam haraquiri. […] Lógico que hoje em dia não é mais isso que você exige das pessoas. Basta que você renuncie às suas funções”, declarou o ministro em um vídeo nas redes sociais. E postou:”O haraquiri moderno é um só: #RenunciaTarcisio.”

A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) chamou o governador paulista de “traidor da pátria”. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) publicou uma imagem de Tarcísio com o boné do Maga e uma bandeira dos EUA ao fundo. “E agora Tarcísio de Freitas? O governador de São Paulo vai seguir aplaudindo o Trump? Porque São Paulo será diretamente e brutalmente penalizado com essa decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros”, escreveu. O deputado estadual Guilherme Cortez (Psol-SP) disse que São Paulo será um dos Estados mais afetados pela tarifa dos EUA e que Tarcísio deve “assumir a responsabilidade”. Ele também publicou uma imagem do governador com um boné do Maga. “Não adianta fazer tweetzinho para tentar aliviar a culpa, Tarcísio”, escreveu.
Os factóides do “gabinete de crise” de Tarcísio
O “gabinete de crise” do governador, diante da impossibilidade de apagar a foto fatídica, procurou criar factóides, como espalhar que o governador de São Paulo sugeriu a ministros do STF que autorizassem Bolsonaro a sair do Brasil para negociar diretamente com Trump a redução da tarifa de 50% imposta a produtos brasileiros. Tarcísio alegou que Bolsonaro manteria influência suficiente sobre Trump para conseguir uma trégua comercial entre os dois países. Isso só piorou a coisas. Ministros do STF consideraram uma piada de mal gosto, uma ótima chance, por sinal, para o ex-presidente, tentar asilo político. Paradoxalmente, também se espalhou que o governador teria se encontrado – que gesto! – com o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil para buscar diálogo sobre as tarifas. Minutos depois, o deputado foragido Eduardo Bolsonaro ironizou. “Qualquer tentativa de acordo sem um primeiro passo do regime em direção a uma democracia será interpretado como mais um acordo caracu”, escreveu. O termo chulo não está vinculado à cerveja preta horrososa, é uma expressão que se refere a uma situação em que uma das partes entra com a cara e a outra com o resto – aquilo mesmo que rima com caracu.
- Caricatura do governador Tarcísio de Freitas. Arte: Kleber Sales/CB.