
Abandonada por Bolsonaro, Zambelli enfrenta extradição iminente
A tarefa dos advogados de Carla Zambelli em Roma não será fácil. Na Itália, a extradição de uma pessoa com dupla cidadania é regida por princípios e condições específicos; a extradição não é concedida para crimes políticos.
Qual será o argumento utilizado pela defesa de Zambelli para convencer o ministro da Justiça italiano de que a deputada foi condenada por perseguição política? Vamos aos fatos: Carla Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão por crime cometido em parceria com o hacker Walter Delgatti, envolvendo a adulteração de documentos e a invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os dois foram condenados na Ação Penal (AP) 2428 pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Além da pena de prisão em regime inicial fechado, Zambelli terá de pagar multa equivalente a dois mil salários mínimos.
O crime cometido por ela e Delgatti, entre agosto de 2022 e janeiro de 2023, é extremamente grave. Os dois adulteraram documentos da Justiça brasileira, incluindo certidões, mandados de prisão, alvarás de soltura e quebras de sigilo bancário. Para se ter uma ideia da gravidade, um dos documentos falsificados e inseridos no sistema foi um mandado de prisão expedido contra o ministro Alexandre de Moraes.
A desfaçatez do crime demonstra que Zambelli tinha convicção de que Jair Bolsonaro não deixaria o poder de maneira alguma — fosse pela vitória nas eleições de 2022 ou por um golpe de Estado, que acabou fracassando.
E convenhamos: a deputada conhece como poucos as estratégias da família Bolsonaro para escapar de processos na Justiça. Ela acompanhou de perto seu padrinho de casamento, o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro, ser defenestrado do Ministério da Justiça após denunciar “interferências políticas” do então presidente Bolsonaro na Polícia Federal. À época, tramitava no Judiciário do Rio de Janeiro a investigação do Ministério Público estadual sobre o esquema de “rachadinha” liderado por Flávio Bolsonaro quando era deputado estadual — caso que acabou sendo arquivado pelo TJ-RJ sob forte pressão política do Planalto.
Aliás, para fugir de condenações judiciais, a família Bolsonaro é inigualável. E Zambelli sabia disso. Ela acreditava que seria blindada pelo clã pelos crimes que cometeu para tentar desacreditar a Justiça brasileira. Talvez ainda hoje acreditasse que seu colega no Parlamento, Eduardo Bolsonaro, pudesse convencer Donald Trump a incluir a anulação da condenação dela na exigência de suspensão do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, feita pelo presidente dos EUA no anúncio do tarifaço de 50% contra o Brasil.
Talvez agora tenha caído a ficha de Zambelli: para o clã, a família Bolsonaro está acima de tudo. Ela, assim como o ex-deputado federal Roberto Jefferson, foi simplesmente jogada ao mar.
É praticamente impossível que Zambelli escape da extradição na Itália alegando perseguição política. Sendo assim, talvez seja a hora de ela abrir seus arquivos e revelar tudo o que sabe sobre os crimes cometidos pela “familícia”. Seria um ato de solidariedade ao povo brasileiro num momento em que nossa soberania está sendo ameaçada pelos Bolsonaro. Mas será que Zambelli teria essa grandeza?
- Foto de arquivo de Carla Zambelli: presa na Itália, tenta evitar extradição. Foto: Lula Marques/Agência Brasil