A extrema-direita aposta na CPI do INSS para desgastar Lula

CPMI do INSS: pra que e pra quem?

14 de maio de 2025, 15:15

A extrema-direita apresentou na segunda-feira (12/05) o pedido formal para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o esquema bilionário de fraudes no INSS, o Instituto Nacional do Seguro Social. Através da falsificação de assinaturas, o esquema que começou em 2019, cobrava indevidamente mensalidades não autorizadas pelos pensionistas, que somam algo em torno de 6,3 milhões de reais.  

O requerimento de instalação da CPMI foi capitaneado pela deputada Coronel Fernanda (PL-MT) e pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Através da CPMI propõe investigar as fragilidades institucionais no INSS; como funcionários públicos e pessoas externas conseguiram desviar tranquilamente, durante seis anos, de 2019 a 2024, recursos das aposentadorias de milhões de idosos e pensionistas. Play Video

A pergunta que não cala: por que a oposição bolsonarista está tão interessada nessa CPMI? Afinal, a denúncia do esquema de corrupção era do conhecimento do governo Bolsonaro que nada fez para apurar a fraude. Aliás, foi a administração petista quem pediu a investigação séria e profunda sobre a subtração ilegal de parte das aposentadorias. E isto a PF tem feito com independência. 

Mas como nesse tempo de pós-verdade, o que vale é a melhor mentira, o deputado Nikolas Ferreira não poderia faltar. Expert na distorção dos fatos, useiro e vezeiro na criação de narrativas falsas nas suas postagens pontuadas de tom indignado para ludibriar a população mal informada, o deputado “influencer” tratou de povoar as redes sociais com seus vídeos. A ideia e objetivo é passar o malfeito e a inação de seu próprio grupo político para o colo dos seus adversários.

Com o controle da CPMI, os bolsonaristas podem produzir nuvens densas de mentiras, para a criação de uma dissociação coletiva da verdade dos fatos. Um caminho que vem se mostrando eficiente no mundo virtual, garantindo a impunidade dos fascistas. 

Sendo assim, vamos aos fatos.

Veja só que coincidência: um dos acusados de ser o “epicentro” da corrupção ativa no INSS é o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”.

Segundo a investigação da Polícia Federal, Antônio Carlos seria o responsável por obter dados de pensionistas com os quais as associações faziam descontos nas folhas de pagamento. O nome e o CPF de Antônio Carlos Camilo Antunes constam no site do Tribunal Superior Eleitoral como doador da campanha eleitoral de Bolsonaro, em 2022.

Já o ex-ministro da Previdência de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, recebeu 60 mil reais em doações de campanha em 2022 de duas offshore do empresário Felipe Macedo Gomes. 

Segundo o site Metrópoles, Macedo foi presidente da associação Amar Brasil, uma das entidades investigadas no esquema das fraudes contra aposentados do INSS. Ela arrecadou 143 milhões de reais com descontos nas aposentadorias. 

Importante apuração do jornalista Octavio Guedes, no G1, dá conta de que o nome de dois investigados na CPI da COVID, durante o governo Bolsonaro, aparecem também nas investigações da fraude bilionária do INSS. São eles Mauricio Camisotti e Danilo Trento, ambos investigados por tentativa de venda de vacina superfaturada durante a pandemia. O nome de Camisotti surge como financiador oculto da Precisa Medicamentos.

O senador Omar Aziz alertou que essa empresa intermediou a compra de vacinas Covaxin. A vacina indiana foi a mais cara negociada pelo governo Bolsonaro: R$ 80,70 a unidade, valor quatro vezes maior que a vacina da AstraZeneca e a da Fiocruz. 

Camisotti teria sido o responsável por uma transferência de R$ 18 milhões à Precisa Medicamentos. O laboratório indiano Bharat Biotech era representado no Brasil pela Precisa, que chegou a comprar 20 milhões de doses da Covaxin, mas por conta da divulgação da suposta corrupção do negócio na CPI, o governo Bolsonaro suspendeu o contrato e a compra. A CPI da COVID apurou ainda que Danilo Trento chegou a ir à Índia para comprar a tal Covaxin.

Indiciado e acusado pela CPI de pertencer a uma organização criminosa, Trento foi acusado de participação em fraude à licitação. 

Fico imaginando o caminhão de crimes cometidos por essa gangue que roubou milhões de aposentados e pensionistas. Uma CPMI poderia revelar as entranhas de uma estrutura muito maior e que teria funcionado desde o governo passado.

Mas eu, você e a torcida do Flamengo, sabemos que os interesses na instalação da CPMI passam longe da investigação a que se propõe. A intenção ali é fazer da CPMI um teatro grotesco, um território de lacrações para produzir conteúdo de postagens nas redes sociais. E nas redes, caros leitores, a extrema-direita surfa. O objetivo também sabemos: desgastar o governo Lula.

Nessas “preliminares”, antes da instalação da CPMI, a máquina de mentiras já foi acionada e muita gente está capturada pelas fake News.

Ao contrário da inação que se viu quando da pandemia de COVID e que justificou a instalação da CPMI, a Polícia Federal tem avançado nas investigações da fraude ao INSS com a independência e seriedade devida. Prova maior do caráter exclusivamente político da comissão parlamentar de inquérito que, pelo visto, pode mesmo vir a ser instalada.

Resta agora ao Governo seguir na busca pela recuperação de parte do dinheiro desviado e apontar os nomes dos meliantes. Tudo com muita divulgação nas redes sociais e nas mídias convencionais. Publicizar os fatos e apresentar a verdade, se antecipando às fake News que brotam diuturnamente é tarefa hercúlea no mundo distópico em que vivemos.

Foto: Agência Câmara I Agência Brasil

Fonte: Brasil 24

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247

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