
Novo papa faz mal à esquerda depressiva
O pessimismo das esquerdas é mais devastador do que o otimismo que o fascismo vem ostentando com euforia nos últimos anos. Tomada por esses pessimistas, um bom pedaço das esquerdas entrou em depressão com a escolha do novo papa.
Contrariam assim um sentimento primário da compreensão política de que a Igreja escolheu um papa que possa desafiar o avanço da extrema direita. São muitos os sinais. Sabemos que o novo papa, de origem americana, falou até em espanhol ao saudar o povo.
Não falou em inglês, a sua língua, nem citou nada que o remetesse à sua condição de nascido em Chicago. Mas citou Chiclayo, a cidade peruana onde viveu metade dos seus 20 anos de permanência no país.
E escolheu o nome de Leão XIV em homenagem ao Leão anterior, que se dedicou a pregar a Igreja que compreende, acolhe e se envolve com as questões sociais.
Mas parte da esquerda que pensa, analisa e fala em voz alta alertou: calma lá que esse papa não é um cara progressista. Com outro alerta complementar: Leão XIII, o papa que veio antes com esse nome, não foi bem o que vocês pensam.
Temos um papa pastor, com alma latina, que era amigo de Francisco, que vai pregar em meio ao crescimento do fascismo americano e mundial e que tem compromissos com a sequência das ações do antecessor – mas alguns nos alertam: cuidado com ele.
As esquerdas chegaram ao ponto, em textos já publicados na internet, de advertir que o papa não tem, como possa parecer, inspirações marxistas. Mas quem esperava, numa hora dessas, um papa leitor de Marx? Por favor, não nos neguem o que ninguém pediu.
Queremos apenas, porque eu também quero, um papa que incomode o neonazismo propagado pelos poderosos do país dele. É possível que, ao invés disso, tenhamos mais dogmas, mais tradição, mais reacionarismo, como já tivemos com dois papas recentes?
Andaremos para trás? Em busca de respostas e luzes, podemos afundar na escuridão da esquerda pessimista. Porque, dizem, Leão XIV pode vir a ser uma terrível armadilha da Igreja depois de Francisco.
Muito já se repetiu, porque citada por Antonio Gramsci, uma ideia do francês Romain Rolland, que está em qualquer wikipedia e se resume no seguinte: o pessimismo da razão não pode se sobrepor ao otimismo das vontades, da ação política. Essa era uma lição de curso para esquerdistas do século 20.
Chegamos hoje à situação em que fomos tomados não por pessimismo, mas por uma depressão compulsória, permanente, que imobiliza pensamento e ação. Tudo o que o novo papa nos oferece como esperança aparente é, segundo parte da esquerda, pura miragem.
E fazem alertas com ênfase, mesmo que a Igreja tenha conseguido, com a escolha de Robert Prevost, o papa americano e peruano, afrontar Trump e o fascismo em geral de um jeito que as esquerdas não conseguem há muito tempo.
Resta rezar, por convicção ou por ironia, para que os deprimidos se recolham e voltem a falar sobre a ameaça de anistia dos chefes golpistas e a redução das penas para os manés. Que se dediquem às lacrações que vêm embebedando muita gente.
Vamos dormir em alerta, porque que esse ainda não é, pelo ponto de vista da esquerda depressiva, o papa perfeito. Esperemos que tudo se resolva com os milagres da inteligência artificial daqui a alguns anos. Rezem.
Foto: Claudia Greco / Reuters