Eles contra nós

9 de julho de 2025, 16:22

Essa ameaça da elite brasileira de retirar seus investimentos do país caso o governo aumente os tributos sobre os milionários é pura lorota. Vão tirar o dinheiro do Brasil e levar para onde? Para a Alemanha, que cobra das pessoas jurídicas 29,9% de imposto de renda? Para o Reino Unido, onde a alíquota é de 25%? Ou para o Chile, que tributa empresas em 27%?

Num país onde a desigualdade tributária é sentida na carne pelo andar de baixo, essa chantagem já não cola — não estamos mais nos idos de 1989, quando o então presidente da poderosa Fiesp, Mário Amato, ameaçou deixar o país caso Lula vencesse a eleição presidencial. O candidato dele e do capital, Fernando Collor, venceu — e confiscou a poupança dos brasileiros.

Alguém ainda duvida que Tarcísio de Freitas, ou qualquer outro nome da extrema-direita, adotaria medidas semelhantes contra os que estão abaixo na pirâmide social? Congelar, por exemplo, o salário mínimo por seis anos, como vaticinou Armínio Fraga no Jornal Nacional, da TV Globo?

Pesquisa Atlas, divulgada ontem, mostra que a maioria dos brasileiros apoia a proposta de Fernando Haddad de aumentar as alíquotas sobre os mais ricos. Nada menos que 58% dos entrevistados são favoráveis à taxação de bilionários, bancos e casas de apostas (bets).

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, devem estar se arrependendo amargamente de terem derrubado, na calada da noite, o decreto que aumentava a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Foi uma vitória de Pirro dos representantes do grande capital no Congresso. A reação nas redes sociais contra a manutenção dos privilégios tributários dos mais ricos reposicionou o governo na corrida eleitoral, antecipada, aliás, pela própria mídia corporativa. Alcolumbre e Motta são rejeitados por mais de 70% dos brasileiros.

Em contrapartida, a mesma pesquisa Atlas, realizada entre os dias 27 e 30 de junho — portanto, ainda no início da revolta digital — já aponta uma melhora na avaliação do governo. A aprovação de Lula subiu 1,9%, enquanto a desaprovação caiu na mesma proporção. Hoje, os índices estão praticamente empatados: 47,3% aprovam e 51,8% desaprovam o governo.

Mais que isso: Lula lidera a disputa presidencial tanto no primeiro quanto no segundo turno.

O momento agora é de aprofundar o que a mídia direitista chama de “nós contra eles”, que, na verdade, expressa a essência das contradições de uma sociedade de classes profundamente desigual, como a brasileira.

O desafio ainda maior é usar as ferramentas da inteligência artificial para furar a bolha e comunicar à população o bom momento que vive a economia brasileira. O salário mínimo teve crescimento real de 15,9% em dois anos e meio de governo. A taxa de desemprego, no trimestre encerrado em maio de 2025, chegou a 6,2% — o menor nível desde o início da série histórica, em 2012. O PIB cresceu 2,9% em 2023 e 3,4% em 2024. A produção industrial, as exportações e as vendas superaram todas as projeções.

Na realidade, essa elite que ameaça tirar o dinheiro do país nunca se importou com o Brasil — só com seus lucros e privilégios. Querem um “Estado mínimo” (para os outros) para abocanhar mais vantagens e avançar com a privatização das grandes estatais brasileiras, como a Petrobras. Sabemos, caro leitor, que falar em diminuição de privilégios fiscais para essa elite majoritariamente rentista é um tabu dos mais escandalosos.

É hora de enfrentamento, de defender o Estado Democrático de Direito e começar a desmontar, com coragem, a estrutura de dominação das elites. Se não for agora, seremos eternamente reféns do medo e da mentira.

Durante a Caminhada do Dois de Julho, a população saiu às ruas em massa junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para defender a taxação dos super-ricos, em Salvador. Foto: Ricardo Stuckert/PR.

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247