
Léo Lins, o clown escroto surgido nos anos Bolsonaro, fugiu do país
Existem pessoas más. Deploráveis. Desprezíveis. Abomináveis. Obscenas. Asquerosas. Repulsivas. E sórdidas. E há Léo Lins. Não há muito o que falar sobre o “influenciador” e “standuper”, com 42 anos na cara, que reúne esse e outros adjetivos abjetos. Não consigo tratá-lo como ator, comediante, youtuber, cômico, palhaço de circo, improvisador, intérprete, animador de auditório, dublê de Bozo – seriam elogios para ele e desabonaria quem faz isso com alguma ética. Léo Lins é escroto. Um verme, de direita, claro. E não faz uma distinção entre sua persona no palco e na vida pessoal – até porque são o mesmo crápula. Ele é um sócio, sem disfarces, da trupe que confunde “liberdade de expressão” -, onde você pode dizer o que quiser – com a indignidade e o indecoro. É uma farsa dizer que se trata de um debate sobre limites do humor e da liberdade de expressão. Não se pode falar, num palco, nas redes ou no mundo real, a merda que vier à cabeça, seja uma apologia ao nazismo, seja uma esquete repleta de conteúdo racista, capacitista e discriminatório, reproduzidos em vídeos que ultrapassam milhões de visualizações no YouTube – afinal, já concordamos, somos um país predominantemente fascista. E deveria estar tudo bem?
É o caso do palhaço canalha, um párea entre os páreas. É um homem preconceituoso e sem limites- o Monark dos stand ups. Não existe lei anti-piadas, mas existe bom senso, humanidade e empatia – características que o piadista descerebrado desconhece completamente.

Léo Lins não é um adolescente ingênuo, hoje é um quarentão com síndrome de Highlander, -, e que, depois de alguns stand ups para um público do seu nível, ganhou visibilidade a partir no programa “The Noite”, do amigo Danilo Gentilli, transmitido pelo SBT – e que cresceu nos anos Bolsonaro – aliás entrevistado como um pop star logo depois de eleito – relembre.

Depois de algum tempo no “The Noite”, Léo levou um pé na bunda depois de repetir, em um show, seu modus operandi grotesco, citar o Teleton e uma criança cearense com hidrocefalia. “O lado bom no Ceará é que o único lugar que tem água é a cabeça dele”, debochou. Isso é literal. O Teleton arrecada dinheiro em ações do SBT para ajudar menores de idade com problemas de saúde. Assista aqui.

O show que levou à demissão de Leo Lins do SBT: piada com hidrocefalia durante um standup. Ele não é só fascista e preconceituoso, é burro. Reprodução do Youtube.
Difícil citar a ficha corrida de Léo Lins, mas, pra resumir a obra, em junho passado foi condenado a oito anos e três meses de prisão pela Justiça Federal de São Paulo, em regime inicialmente fechado, após “proferir discursos preconceituosos durante um show”, em 2022, em Curitiba, o especial de comédia “Perturbador” – exibido no Youtube. Na sentença, a juíza do caso declarou que atividade artística de humor não serve como ‘passe-livre’ para prática de crimes. Até agosto de 2023, quando foi retirada do ar por decisão judicial, a gravação acumulava mais de 3 milhões de visualizações. Ele vai recorrer da decisão, mas, depois de um tempo em turnê com o show “Enterrado vivo”, fugiu do Brasil, como admite em vídeo gravado e postado há dois meses no Youtube- veja aqui.

No show que o condenou, ele faz declarações preconceituosas contra negros, obesos, idosos, pessoas com HIV, indígenas, homossexuais, judeus, nordestinos, evangélicos e pessoas com deficiência. É tão ultrajante e perturbador que há alguns dias até um conhecido reaça, o dramaturgo e encenador Gerald Thomas, publicou um vídeo em suas redes sociais, no qual expressa arrependimento por ter defendido Léo Lins. Thomas destacou que suas declarações foram baseadas apenas nas manchetes e que ele não conhecia o conteúdo exato das canalhices que ele havia dito. Thomas se disse “consternado, envergonhado e triste consigo mesmo” por não ter analisado a situação com mais cuidado antes de se manifestar. Ele apagou todas as postagens anteriores em que havia defendido Léo Lins, e pediu desculpas aos seguidores que se sentiram ofendidos.
Piadas discriminatórias
Léo Lins tem experiência em processos judiciais por seu “método” discriminatório de fazer “humor”. Em agosto de 2022, a Justiça de São Paulo condenou o humorista a pagar uma indenização por danos morais no valor de R$ 44 mil por ter ofendido a mãe de um jovem autista em uma rede social.
Em 2021, a Prefeitura de Guarujá, no litoral de São Paulo, cancelou a apresentação de Léo Lins no Teatro Municipal, alegando que foram detectados problemas nas instalações elétricas do espaço. O comediante, por sua vez, definiu a atitude do município como censura e afirmou que o cancelamento ocorreu logo após ele postar um vídeo com piadas citando a prefeitura.
Mas praticamente qualquer show dele é uma usina para processos – apesar das hienas rindo, de forma constrangedora, na platéia. Esse é o vídeo do show “Bullting Arte”, onde reúne no palco pessoas com deficiências, inclusive um cadeirante com problemas motores. Menores de idade também sobem ao palco. “Qual a sua doença?”, pergunta pra chamar ao palco. Esse é outro stand up – veja o vídeo -, onde debocha do nanismo, pessoas com problemas físicos e obesos.

Nesse show – veja o vídeo -, ele também chama pessoas com alguma deficiência ao palco e faz piadas discriminatórias. Esse é o mote de Léo Lins, o preconceito. Ele chama os “convidados” de “escola de mutantes”. Para um funcionário público com câncer, ele comentou: “Deve ser recente, não emagreceu.”. Para um homem com uma perna mecânica, que nasceu com má formação na tíbia, ele diz: “Seu parto deve ter sido difícil.” “Normalizar” a deficiência e o preconceito é humor?
Clonagem de canalhas internacionais
Léo Lins certamente se inspirou em coleguinhas ao redor do mundo que praticam seu “humor” ancorado no preconceito. O mais famoso deles talvez seja o “comediante, roteirista, ator, diretor, produtor de televisão e ex-músico pop britânico” Rick Gervais, que, no stand up “Rick Gervais: Supernatureza”, transmitido pela Netflix, debocha dessas “novas mulheres” com barba e pênis – como se refere, em tom de deboche, e apoiado por risadas, às mulheres trans. O “comediante” também ataca o uso de banheiros conforme a identidade de gênero, esnoba o uso de pronomes adequados e faz piadas ligando o HVI à comunidade LGBTQIA+ – que faz campanha pelo seu cancelamento. Costuma ser chamado para apresentar o Globo de Ouro, e isso é aceito por lá. “Todos têm o direito de parar de assistir ao seu conteúdo”, declarou uma vez.

Outro a rumar por esses mares foi Dave Chapelle, com “The Closer”, também disponível na Netflix, igualmente com piadas consideradas transfóbicas. Funcionários desse canal de streaming organizaram protestos, sem resultados. E, para não ficar numa lista intermiável, cito Gregg Turkington, que encarna nos palcos o seu alter-ego Neil Hamburger, se apresenta por trás de seus óculos de aros grossos, trajando um smoking barato, cabelo seboso e sempre carregando copos com doses extras de drinks que sorve com um canudinho enquanto conta piadas como essa. “Por que estupradores não comem no TGI Fridays em uma sexta-feira à noite? Bem, é difícil sair para estuprar com uma diarreia.” Desce o pano.
Na imagem de capa, Léo Lins quando voltou ao “The Noite”, com Danilo Gentili, já em tom de despedida, em março passado. Captura: SBT.