Os drones de fibra óptica são um novo e terrível perigo na linha de frente das guerras.

O odor acre das guerras tecnológicas: a novidade maligna nos fronts são os drones com cabos de fibra óptica

31 de maio de 2025, 15:10

A tecnologia dos drones – nome popular do veículo aéreo não tripulado (VANT, ou, em inglês, UAV), aeronave que pode ser controlada sem pilotos embarcados para ser guiada – se sofistica a cada dia. Como a maioria das tecnologias, criadas por fortunas em investimentos de indústrias, tem origem militar. Não foram feitos para você se divertir dando piruetas aéreas na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Ibirapuera ou no Lago Sul – esse é o efeito marketing – e lucros extras, claro, do mercado. Mas o drone tem origem bélica –  equipados com armas guiadas de precisão e sistemas avançados de mira – para uso em guerras, origem, como o foram, por exemplo, a própria internet, o GPS, o rádio sem fio (bisavô do celular) e até o relógio de pulso. A nova e aterrorizante arma que está mudando o rumo de guerras como na Ucrânia e o massacre em Gaza, “darlings” da engenharia de drones, são os drones com cabos de fibra óptica, que permitem, por exemplo, que a transferência de soldados para suas posições se torne mais mortal do que a própria frente de batalha.

Baratos e quase indetectáveis pelos radares militares, os pequenos robôs voadores têm tido destaque em disputas como entre Rússia e Ucrânia. AFP/foto

Porque as guerras, apesar da propaganda dos tantos cessar-fogos, nunca duradouros, e dos supostos acordos de paz – ah, sim, agora vamos acreditar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é o novo herói Peacemaker, e não mais o John Wayne do planeta -, estão a todo vapor – e os drones vem bem a calhar. A Rússia intensificou seus ataques à Ucrânia e a Ucrânia responde como pode. Em Gaza, todos os dias aumenta a morte de civis e agrava-se a crise humanitária no território. A ONU alerta que 2 milhões de pessoas estão em risco de fome após 11 semanas de bloqueio israelense à entrada de ajuda. Já são, por baixo, 54 mil palestinos mortos, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Mas esqueça os soldadinhos e os tanques, fetiches blindados da Segunda Guerra Mundial, a arma mais mortal destas guerras são os drones. E não se engane: obviamente, em proporções bem diferentes, eles são usados por todos os lados.

Sim, a Ucrânia usa drones a rodo. Veja esse vídeo de “propaganda” do drone da Signum Army, criado e usado pela Ucrânia na guerra. Atualmente, Signum está se expandindo como parte da 53ª Brigada Mecanizada, nomeada em homenagem ao Grande Príncipe Monomakh, que passou seu reinado fazendo guerras. Não estranhe se fizer parte de um dos regimentos ucranianos que a Ucrânia, acuada, devia rechaçar. O correspondente militar russo Alexander Kots publicou um vídeo na plataforma de mídia social Telegram mostrando militares ucranianos na região de Kursk usando capacetes com sinais da SS. Ou alguém alguém acha que é uma lenda urbana o Regimento Azov, uma milícia paramilitar fundada por neonazistas e ultranacionalistas ucranianos? Pelas últimas notícias, integrava a unidade da Guarda Nacional da Ucrânia, sediada em Mariupol.

Regimento Azov – lenda urbana? Foto: Reprodução/Twitter

Para entender a novidade – que logo será superada: uma bobina com dezenas de quilômetros de cabo óptico é fixada à parte de baixo do drone e a fibra física é conectada ao controlador que fica com o piloto. O sinal de vídeo e controle é transmitido de e para o drone através do cabo, não por frequências de rádio. Isso faz com que ele não sofra interferências por interceptores eletrônicos. Exércitos, então, equipararam seus veículos com sistemas eletrônicos que, com alguma regularidade, conseguiam neutralizar os drones. Mas esta proteção evaporou com a chegada dos drones de fibra óptica. Efeitos colaterais: eles são mais lentos, e o cabo pode ficar preso em árvores. Segundo militares, porém, estes drones podem ser usados em locais onde é possível voar mais baixo do que os drones habituais. Pode-se até entrar em casas e procurar alvos em seu interior. Sim, apavorante.

Soldado abnegado, com fartos conhecidos de engenharia bélica, trabalha nos drones de fibra óptica da Ucrânia. Foto: BBC

Outros drones: asa delta

Drone iraniano Shahed 136 – engenharia reversa, desmontagem e teste. Foto: Divulgação/fontes militares.

Quando atacou Israel, em abril do ano passado, o Irã apresentou ao mundo o modelo Shahed-136 – um drone-kamikaze não tripulado em formato de asa delta. O ataque, na época, foi uma retaliação ao bombardeio israelense à embaixada iraniana na Síria, que matou comandantes da Guarda Revolucionária no início do mês. Veja imagens do Shahed-136 acima. Sua principal característica é a combinação de design em asa delta e capacidade de voo em baixa altitude, só que connected wireless. Mas há muitos tipos de drones no showroom da indústria bélica, uma das mais lucrativas do planeta. As Forças Armadas dos EUA utilizam diversos drones – desde modelos de vigilância até modelos de combate -, incluindo o MQ-9 Reaper, o RQ-4 Global Hawk, o RQ-11 Raven, o K-MAX e muitos outros.

Então se sua imagem romântica de drone for só essa, divirta-se no mundo de Alice – mas leia mais a respeito.

Foto de abertura: Getty Image.

Fontes diversas: G1, BBC, Institute for Science and International Security e outros

Escrito por:

Jornalista há 40 anos, já foi repórter e editor nos maiores veículos do país - O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, Istoé - assessor de imprensa, analista sênior de informações e/ou ex-diretor de agências de comunicação corporativa - FSB Comunicação, Santafé Ideias, entre outras -, ex-professor de Jornalismo da PUC-RJ, trabalhou no Senado Federal e na Prefeitura do Rio. Já foi assíduo colaborador dos sites Os Divergentes e DCM. E criador, com meu irmão Paulo Henrique, da revista cultural Tablado, que durou 20 anos a acabou na pandemia. Premiado, entre outros, com Prêmio Esso, Embratel e Herzog. E, PRINCIPALMENTE, pai do Bruno e da Gabriela, orgulhos da minha vida.