
Sobre a guerra e seus senhores
Independentemente do que anunciaram Irã e Israel sobre a guerra dos 12 dias, não há vencedores. Há um grande perdedor: a humanidade. Não apenas pelas vidas ceifadas e pelos feridos das bombas e mísseis lançadas pelos regimes do aiatolá Ali Khamenei e do sionista Benjamin Netanyahu. Não, caro leitor, os efeitos dessa guerra se projetarão no tempo, tanto na intensificação exponencial da corrida armamentista, quanto na normalização da busca da mais letal de todas as armas, esta última, sob efeito dos ataques de Trump às instalações nucleares do Irã.
Na contramão dos acordos assinados no START I, em 31 de julho de 1991, para a redução de armas nucleares estratégicas entre Estados Unidos e a então União Soviética, o que vemos hoje é a possibilidade concreta de proliferação de armas nucleares, inclusive entre países que se declaram pacifistas e que se sentem ameaçados pelos que já detém armas de destruição em massa.Play Video
Atualmente, nove países possuem armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Reino Unido, França, Paquistão, Israel e Coréia do Norte.
Em um contexto em que organizações internacionais como as Nações Unidas não conseguem mais desempenhar adequadamente seu papel na manutenção da paz, o mundo vive um “salve-se quem puder” generalizado. Chegamos ao ponto de o ex-presidente russo Dmitry Medvedev afirmar, no último domingo (22/06), que “vários países estão prontos para fornecer diretamente ao Irã suas próprias ogivas nucleares”.
No Brasil, jornalistas e especialistas em relações internacionais têm defendido o direito de o país ter a sua própria bomba atômica, como forma de garantir a soberania nacional.
Após os ataques dos EUA às instalações nucleares do Irã, a continuidade do genocídio em Gaza e a guerra entre Rússia e Ucrânia, a OTAN propôs um aumento significativo dos gastos militares dos países-membros. O novo secretário-geral da organização, Mark Rutte, sugeriu que cada país destine 5% do PIB a investimentos militares, priorizando segurança cibernética, defesa aérea, satélites e logística. Isso representa um crescimento global de 30% no setor.
Somente no ano passado, os Estados Unidos gastaram quase um trilhão de dólares em despesas militares — mais que o triplo do gasto da China e seis vezes mais que o da Rússia.
Enquanto guerras e conflitos se multiplicam mundo afora, as ações de empresas de armamentos explodem em Wall Street. As três principais corporações do setor que mais faturaram na Bolsa de Nova York foram RTX Corporation, Lockheed Martin e Northrop Grumman, todas sediadas nos EUA.
Diante desse cenário sombrio, a humanidade se vê novamente à beira do abismo. Evitar uma guerra nuclear deixou de ser um ideal pacifista e se tornou uma urgência existencial. É preciso retomar com seriedade os compromissos com o desarmamento, fortalecer o papel das instituições multilaterais e combater a lógica perversa que transforma a guerra em negócio. Após a morte do Papa Francisco, o presidente Lula tem sido uma voz solitária no mundo em defesa da reforma da ONU, como uma voz a clamar no deserto.
Nesta quarta-feira (25/06), no Palácio do Itamaraty, a jornalista canadense-egípcia Heba Aly, do The New Humanitarian, alertou que se nada for feito para reescrever a Carta da ONU, a organização desaparecerá.
Como disse o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, jamais vivemos um momento tão ameaçador. A continuarmos nessa quadra de alienação do outro, de individualismo e de sanha armamentista, não será apenas uma nação ou outra a se perder. Seremos o planeta inteiro. E talvez, desta feita, sem chance de reconstrução. Esse tempo de crise e riscos existenciais, é também tempo de urgências conciliatórias para a preservação da humanidade.
Imagem de arquivo de Benjamin Netanyahu e Donald Trump. Foto: Reuters.