Bolsonaro News na Jovem Pan Esportes: minutos antes do jogo Flamengo x Bayern, canal de futelol mostra que mídia golpista não joga nas quatro linhas – nem do gramado
Que a Jovem Pan faz parte do núcleo golpista e bolsonarista da mídia brasileira, há muito tempo, nunca tive dúvidas. Mas a Jovem Pan Esportes, cujos principais programas são conduzidos pelo bolsonarista de carteirinha Thiago Asmar, auto-denominado “Pilhado” -, que sempre restringiu seus comentários asquerosos ao seu canal privado – , vinha mantendo distância dessa linha editorial, atendo-se a falar de futebol. Nesse domingo, 29 de junho, aproveitando um pico de audiência, com a pré-transmissão de Flamengo x Bayern de Munique – nessa busca de uma vaga nas quartas de final do Mundial de Clubes -,a JP interrompeu durante alguns minutos os comentários sobre o jogo para, de repente, tansmitir, ao vivo da Avenida Paulista, do alto de um carro de som, com Bolsonaro presente, o ato mobilizando o gado a pressionar contra o julgamento no STF que pode mandar o ex-presidente para cadeia.
E transmitiu, por minutos a fio, discursos de políticos bolsonaristas, com a desculpa de ser uma breaking news – como se mais nada estivesse acontecendo nesse país. Uma coisa vergonhosa, uma clara intervenção editorial, intrometendo sua linha política num debate esportivo. Comentaristas com vergonha na cara, falando direto do Estádio Hard Rock, em Miami, na Flórida – entre eles Mauro Cesar Pereira, que pose de progressista em seus canais -,teriam pedido demissão ou se recusado a entrar no ar. Fingiram que nada aconteceu, fizeram cara de paisagem quando o noticiário esportivo voltou. Era como se fosse um horário eleitoral gratuito. Vergonha alheia, de quem tem 40 anos de jornalismo. Nem tudo vale por um emprego, meus amigos, tenham brios. No mínimo, se posicione.
“Eu vou ter que chamar , rapidinho aqui, galera, nossos jornalistas, para passar toda a informação da manifestação que está acontecendo aí na Avenida Paulista”, chamou “Pilhado”, do nada, acionando o plantão. Eram pouco mais de 14h18. O pseudo-jornalista Bruno Pinheiro interrompou o programa “Canelada ao Vivo”, entrou, do estúdio, em seu plantão homérico, e chamou outro proto-repórter, Matheus Dias, posicionado do local do evento, embaixo do carro de som, com imagens ao vivo, da Avenida Paulista -inteiramente fechada pelo candidato governador – , com Bolsonaro e trupe falando. Não se sabe quem gravou as imagens do alto do carro de som, mas não me surpreenderia se tivessem sido “cedidas” pela equipe bolsonarista, lá de cima.
“Ele estão exigindo aí Justiça, e uma discussão sobre anistia, e outros assuntos também”, improvisou o “repórter”, com um terno que parecia ter sido emprestado pela turma do Pânico na TV. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que quer ser o candidato em 2026, estava lá. Houve, pelo menos, mais uma entrada ao vivo, às 14h58, exatamente quando Tarcísio falava, puxando, falsamente, gritos de “mito” para Bolsonaro – que parecia desconfortável, nem sorriu. O “Canelada” acabou, e, confesso, tive asco demais para saber se a emissora entrou com outras “breaking news” em outros programas da JP Esportes ou da JP News – provavelmente -, inclusive o discurso de Bolsonaro, mas, pra mim bastou.
No final de 2021, o canal Jovem Pan foi lançada para a TV fechada do país. Desde então, a emissora se posicionou como um dos bastiões do bolsonarismo na televisão brasileira, abriu espaço para comentaristas e colunistas que apoiavam o golpista, gente deprimente da pior estirpe, como o ex-Veja Augusto Nunes, o dublê de escritor Guilherme Fiuza, e Caio Coppola, que recentemente vinha falando suas asneiras na CNN Brasil. Virou a principal voz do bolsonarismo, incluindo gente como a ex-atleta e agora comentarista Ana Paula Henkel.
Exaltações à emissora se somaram ao coro de “Globo lixo” e aos ataques a ministros do STF, tara da emissora, e ao sistema eleitoral no evento em apoio ao candidato à reeleição. Mas, claro, nos anos Bolsonaro, abriu à JP um crescimento exponencial de audiência, aumento de verbas recebidas do governo federal e patrocínios de empresas comandadas por apoiadores do presidente. Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, assumiu o comando do grupo no lugar do pai, e a empresa estreou o Pingos nos Is, na época apresentado – é, gente, vamos ter memoria – pelo “petralha” Reinaldo Azevedo, então colunista da Folha. Reinaldo deixou a bancada em 2017, após o vazamento ilegal de conversa sua com Andrea Neves, irmã do então senador Aécio Neves (PSDB). Hoje está na BandNews, posando de decano do esquersdismo – e acredite se quiser.
Com Lula de volta, ao menos preventivamente, a “Pan” fez uma limpa e organizou uma reformulação, sem nunca deixar de ser conservadora. Era só um sinal de paz, verbas publicitátias, sabe como é, A maioria migrou para a Revista Oeste, um dos maioes lixos que se dizem imprensa no país, onde estão o próprio Augusto Nunese Fiuza, ex-global Alexandre Garcia – o homem do comercial de cuecas do governo João Figueiredo – , o ex-Veja J.R. Guzzo, Rodrigo Constantino, que dispensa apresentações. É como se, na “Divina Compédia” da mídia brasileira, de Dante Alighieri, os portões do inferno tivessem sido abertos para as bestas do “jornalismo de extrema-direita. Mas a direitista JP nunca se corrigiu nunca e seguiu bolsonarista raíz, ainda mais agora, com Lula em viés de baixa.
Além da audiência pela internet, o programa usufrui da capilaridade de pequenas emissoras que transmitem no interior as duas horas de opiniões que muitas vezes casam com a expectativa do ouvinte.Os links para vídeos da emissora, em especial do Pingo nos Is, pipocam em grupos bolsonaristas de WhatsApp e de Telegram e ganham destaque como a voz jornalística em meio à cacofonia de youtubers de direita que improvisam estúdios em casa. Profissionais do mercado publicitário, entretanto, relatam que a linha editorial adotada espantou anunciantes no início do projeto. Até hoje, a empresa tem dificuldade de atrair as maiores companhias, que buscam elos com temas como diversidade e preservação ambiental.
Minutos antes do início de Flamengo x Bayern, pelo Mundial de Clubes, o programa “Canelada”, da Jovem Pan Esportes, do bolsonarista Thiago “Pilhado” Asmar, corta os comentários de futebol para entrar ao vivo com comício de Bolsonaro na Avenida Paulista. Corte do próprio programa, ao vivo.
Escrito por:
Jornalista há 40 anos, já foi repórter e editor nos maiores veículos do país - O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, Istoé - assessor de imprensa, analista sênior de informações e/ou ex-diretor de agências de comunicação corporativa - FSB Comunicação, Santafé Ideias, entre outras -, ex-professor de Jornalismo da PUC-RJ, trabalhou no Senado Federal e na Prefeitura do Rio. Já foi assíduo colaborador dos sites Os Divergentes e DCM. E criador, com meu irmão Paulo Henrique, da revista cultural Tablado, que durou 20 anos a acabou na pandemia. Premiado, entre outros, com Prêmio Esso, Embratel e Herzog. E, PRINCIPALMENTE, pai do Bruno e da Gabriela, orgulhos da minha vida.
