
Folha informa que Fux recebeu lição de liberdade de expressão de Bolsonaro
Esse trecho é de editorial da Folha, que virou manchete na versão online, com ataques à decisão de Alexandre de Moraes de conter Bolsonaro com tornozeleira e prisão domiciliar:
“A liberdade de expressão é direito que não abandona nem sequer quem cumpre pena – lição que o ministro Luiz Fux, que no passado censurou a Folha numa tentativa de entrevistar o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cárcere, parece agora ter aprendido com Bolsonaro
Para atacar Moraes e defender o chefe do golpe, a Folha exalta Fux. Seu herói é o ministro que tenta se contrapor, como única voz dissonante na primeira turma do STF, ao consenso em torno do colega dedicado ao processo contra os golpistas.
O que a Folha não diz, mas se sabe há muito tempo, é que Luiz Fux negou a Lula, e não à Folha, o direito de falar quando esteve preso.
Egocêntrica, autocentrada e arrogante, a Folha entende que o jornal, que ouviria, e não Lula, que tinha o que dizer, foi amordaçado. Vamos repetir: o editorial informa que Fux “censurou a Folha” na tentativa de entrevistar Lula.
Fux censurou um ex-presidente condenado e preso pelo lavajatismo. Um político que nunca atentou contra a democracia nem fez ameaças a autoridades e à imprensa.
Mas agora, no editorial pró-Bolsonaro, a Folha diz: “Moraes errou ao pretender silenciar Bolsonaro numa ordenação kafkiana, impossível de cumprir”.
Para a Folha, Bolsonaro é censurado e silenciado quando manda recados pelos filhos e por asseclas contra o Supremo. Mas, quando Lula tentou falar, foi a Folha que sofreu censura.
O que a Folha não diz, e nenhum jornalão vai dizer, é que um criminoso comum, sem o peso político de Bolsonaro, não continuaria fazendo impunemente as ameaças que ele fez. Seria contido pelo sistema de Justiça.
Nenhum traficante célebre e poderoso diria o que Bolsonaro diz. Nenhum chefão de milícia, sem peso político, ameaçaria as instituições, ministros e famílias de ministros do STF.
Mas Bolsonaro pode, porque tem lastro político e dispõe dos benefícios da democracia para atacar a democracia.
E porque a Folha, o Globo, o Estadão e todos os jornais analógicos das corporações dependem, não só da direita antiga, mas também do novo fascismo, para prolongar a sobrevida.
É mais do que ultraconservadora, é conectada com a extrema direita a audiência que sustenta os jornais. Uma audiência de maioria reacionária, como a clientela de todas as mídias tradicionais brutalizada pelo bolsonarismo.
Essa audiência que pede golpe como ação permanente, e que depende agora do poder do neofascismo americano para conspirar contra o STF e contra Lula, sustenta os jornalões e inspira seus editoriais.
É preciso continuar batendo em Lula em busca de ‘outro’ nome salvador. Uma missão impossível, que tenta se renovar desde o fim do governo de Fernando Henrique Cardoso.
São mais de 20 anos à procura de uma figura que não existe e que as corporações não conseguem criar. Folha, Globo e Estadão fazem o caminho inverso do percorrido depois do golpe de 64.
Nos anos 70 e 80 da ditadura, foram empurrados pelos movimentos pró-democracia para as lutas pela reabilitação dos direitos de ir, vir, falar, votar. Os negócios das corporações foram salvos pelos democratas.
O nicho que disputam hoje, como mercado, é o da audiência da velha direita engolida pela extrema direita. Há menos ideologia e mais o marketing da fidelização de um público que as três organizações disputam com um jornalismo precário e sem escrúpulos.
É o que leva a Folha a enxergar na mudança de postura de Fux a inspiração de Bolsonaro, o paladino das liberdades, da pátria e da família. E assim a Folha, que dizia ter o rabo preso com o leitor, volta a abanar o rabo para o fascismo.
- Imagem do ministro Luiz Fux. Foto: Fellipe Sampaio/STF.