Forças Armadas mandam novo recado a Lula, afirmando que prosseguirão com os EUA

25 de julho de 2025, 18:43

Nesta sexta-feira (25/07), os portais voltados para notícias sobre as Forças Armadas amanheceram coalhados do mesmo recado: “os militares vão prosseguir com as operações com militares estadunidenses, com os intercâmbios e a aquisição de armamentos fornecidos pelos EUA, e repudiam qualquer troca por tecnologias russas ou chinesas”. São tecnologias melhores? São Piores? São dados que parecem não importar para os comandos. O que parece importar, isto sim, é a ideologia dos países de onde vêm. 

Alguém precisa dizer a esses senhores, que não há nenhuma exigência para que parem ou prossigam com as manobras A ou B. O que se espera é que entendam que o mundo mudou. Guerras não se fazem mais com tiros e apenas troca de mísseis. Há sofisticação no confronto entre os países. Por exemplo, pode-se sufocar um Estado com sanções econômicas ou tarifaços. Porém, os comandos parecem ainda não terem se dado conta de que estamos sendo atacados, e a parafernália que eles tanto prezam, não têm espaço nessa luta. 

Um comportamento esperado por parte deles, seria, por exemplo, que ficassem, no mínimo, em compasso de espera, adiassem “manobras” ou “operações” em conjunto com militares dos EUA, até que o comandante em chefe, deles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no momento o ocupante do cargo máximo da Nação, abrisse diálogo com o governo que nos ataca e ameaça, para tomar qualquer atitude ou providência com relação a esse intercâmbio. Isto, se estivéssemos falando de comandos conscientes do dever cívico de prezar pela soberania, e não movidos apenas pelas suas antigas ideologias. Eles, sim, agindo com base em uma orientação ultrapassada no desenho geopolítico atual.

O site “Sociedade Militar”, veio com a seguinte manchete: “Forças Armadas reforçam laços com EUA enquanto China e Rússia intensificam assédio e disputam espaço no mercado militar”. Espalhafatosa, para dizer o mínimo, seguida da chamada:  

“Acordos de defesa, exercícios conjuntos e negociações bilionárias seguem ativos apesar da tensão entre Brasília e Washington, enquanto chineses e russos intensificam contatos com militares brasileiros para vender equipamentos e fechar contratos estratégicos”.

Já no corpo da matéria, esmiuçam as “vantagens” de dar continuidade a todos os programas com os Estados Unidos, com quem o Brasil negocia e se relaciona há 200 anos. De onde tiraram que – por enquanto -, algo vai mudar?

Nos últimos meses, o Exército brasileiro já encomendou 12 helicópteros Black Hawk, avaliados em US$ 451 milhões, e 222 mísseis Javelin, estimados em US$ 74 milhões, por meio do programa Foreign Military Sales (FMS), do Departamento de Estado dos EUA. Os contratos, firmados diretamente entre governos, ficam isentos de tarifas, o que os torna estratégicos para as forças brasileiras.

Um dos exemplos mais contundentes veio do site “Militarizando”. Num discurso que beira ao usado no período da guerra fria, dispararam: “Diante das tensões nas relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, as Forças Armadas brasileiras manifestam preocupação com o futuro da parceria estratégica. Oficialmente, as Forças Armadas comunicam ao governo que manterão sua política de aliança com os Estados Unidos, desvinculando-se das orientações ideológicas e priorizando a continuidade da parceria com os Estados Unidos, mesmo diante de eventuais divergências”. 

A “rebeldia” soa fora de hora e precipitada, quando questões muito além dessas estão em jogo. 

Os comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica tomaram a decisão de manter o alinhamento estratégico, militar e tecnológico com os Estados Unidos

E prosseguem: “As Forças Armadas brasileiras vivenciam um momento de tensão geopolítica, reforçando sua importância estratégica. Em meio à crise diplomática e comercial entre o governo brasileiro e a administração dos Estados Unidos, os comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica tomaram a decisão de manter o alinhamento estratégico, militar e tecnológico com os Estados Unidos e com os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), independentemente da postura ideológica do governo federal”. 

Belo exemplo dão aos comandados. Não surpreende que no processo que visa apurar os responsáveis pelo golpe de 2022, estejam vários oficiais do Exército na condição de réus na Justiça comum.

Tentando passar sobriedade na atitude que pode ser lida como desafiadora, enviam o recado: “A resistência dos militares brasileiros à aproximação com regimes autoritários, como China e Rússia, baseia-se em três pilares: doutrina, confiança estratégica e acesso à tecnologia de ponta. Mesmo com as ofertas de fornecimento de armamentos por parte desses países, incluindo sistemas de defesa aérea, mísseis, radares e drones, os militares brasileiros reforçam seus laços com os Estados Unidos, impulsionados pela praticidade e qualidade.”

Agem como se fossem um poder paralelo, à parte dos existentes no Brasil: Executivo, Legislativo e Judiciário, e exibem a subserviência aos ditames dos EUA, com argumentos técnicos, como se alguém tivesse a dizer a eles que haverá mudanças. Como dito acima, a preocupação no momento é com a soberania e a vida econômica do país, o que deveria incomodar a todos, e estar muito acima das simulações de “war” que, temem, sejam interrompidas. 

“A cooperação com a OTAN, especialmente com os Estados Unidos, garante ao Brasil acesso a tecnologias avançadas, permitindo que as Forças Armadas operem equipamentos compatíveis com os maiores exércitos do mundo. O programa do caça Gripen F-39 é um exemplo, desenvolvido pela Força Aérea Brasileira em parceria com a Suécia, com forte participação de empresas dos Estados Unidos e certificações compatíveis com a OTAN. O cargueiro militar KC-390 da Embraer, adquirido por diversos países, e a aquisição de mísseis antitanque FGM-148 Javelin reforçam a capacidade de defesa do país”, é o que está detalhado na matéria do “Militarizando”.

E arrematam com um recado cujo tom é desafiador. Tentam passar uma “independência” que não cai bem aos que têm armas (ou seja, poder contra a população) e não está descrita na nossa Constituição:

“Apesar da imposição de tarifas sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, os comandos das Forças Armadas mantêm sua postura estratégica. Fontes do alto comando indicam que a postura política do governo federal é ignorada, com a reafirmação da aliança com os Estados Unidos e o fortalecimento dos canais diretos com o Pentágono e centros de treinamento conjuntos. Para os militares brasileiros, o alinhamento com os Estados Unidos é essencial para a segurança nacional, garantindo acesso a programas de intercâmbio, satélites, apoio logístico em missõe internacionais e, principalmente, aos sistemas mais modernos em diversas áreas”.

O que é bom para os EUA é bom para o Brasil

É como se determinassem que o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, como nos tempos sombrios, inserindo no já turbulento cenário político, um ingrediente desnecessário. Como haver “tumulto” sem eles, não é mesmo? Se colocam como se fossem indispensáveis, quando a pauta não lhes cabe. Quem os chamou para essa conversa? 

“A não aquisição de sistemas antiaéreos indianos, influenciada pela necessidade de compatibilidade com os equipamentos da OTAN, demonstra a forte inserção do Brasil na lógica ocidental de defesa. A presença constante de militares americanos em território brasileiro, com exercícios conjuntos como o CORE, reforça essa cooperação estratégica. Os Estados Unidos também oferecem suporte direto em programas de inteligência e modernização do sistema de comando e controle das Forças Armadas brasileiras”. 

Isso significa ter em solo brasileiro, em novembro, centenas de militares estadunidenses no sertão pernambucano, aprendendo a se mover na caatinga nordestina.

E vão além: “As Forças Armadas rejeitam qualquer aproximação com regimes autoritários, considerando o alinhamento com o Ocidente uma linha vermelha. Embora o governo brasileiro demonstre divergências com os Estados Unidos, as Forças Armadas mantêm sua independência institucional, priorizando a aliança com as democracias ocidentais, com foco na cooperação com os Estados Unidos. Essa postura contribui para que o Brasil se mantenha entre os países com maior potencial estratégico no hemisfério sul, apesar da necessidade de investimentos internos para o desenvolvimento militar. Em resumo, enquanto a política brasileira enfrenta tensões diplomáticas, as Forças Armadas mantêm sua aliança com os Estados Unidos, impulsionadas por questões estratégicas”. Houve quem os obrigasse a adquirir algum equipamento chinês ou russo?

Ou seja, não é com eles o que o Brasil está enfrentando. Não estão nem aí para o que está sendo vivenciado e acompanhado com angústia e ansiedade por todo cidadão brasileiro consciente da realidade por que atravessa o nosso país. Soberania, ao que parece, não é mais matéria em seus currículos.

  • Imagem gerada a partir de IA

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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