
A direita se enfrenta com seus sabres de luz e Lula “Yoda” assiste de camarote o colapso do bolsonarismo.
Sem menosprezar as consequências devastadoras do tarifaço político-econômico do algoz Donald Trump, que parece alimentar um ódio particular pelo presidente Lula, e uma paixão enrustida por Jair Bolsonaro – fora outros interesses mais primitivos que o deputado federal licenciado e fujão Eduardo Bolsonaro – “exilado” voluntário numa mansão no país onde queria ter nascido – pode estar prometendo à Casa Branca, um efeito colateral inesperado está movimentando placas tectônicas na direita brasileira. Falar em racha é subestimar esse belo espetáculo da geologia política. Não contavam com o “efeito borboleta” do tarifaço, originário na teoria do caos, só que quando a borboleta republicana sentada no Salão Oval bateu as asas, desencadeou um patriotismo a favor de Lula, com efeito súbito no aumento de sua popularidade, diante da defesa intransigente – e realmente patriótica – do país.
Escalado para a nova fase do governo – que começou em janeiro -, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência, Sidônio Palmeira, tem sido um enxadrista sagaz ao ver o oponente fazer movimentos erráticos do lado negro da força, entregando cavalo, bispo, torre, rainha e, finalmente o xeque-mate com o rei posto – pronto, inclusive, pelo andar do julgamento, para ser o “dead man walking” para a cela mais próxima – por conspiração e tentativa de golpe de estado. Sidônio havia antecipado que seu trabalho seria norteado no tripé comunicação, gestão e política. E a oportunidade veio no desastre da união estável Trump-Bolsonaro, em um momento em que a famiglia miliciana defendia o espólio político do seu pai, em particular Eduardo, contra o aventureiro governador de São Paulo, o carioca Tarcísio de Freitas, do Republicanos, que não tem o menor escrúpulo, e nem disfarça, o desejo de ocupar o lugar de Jair Bolsonaro na corrida presidencial das eleições de 2026, que já se avizinham.
Eduardo dá nova porrada em Tarcísio e o parquinho pega fogo
Na manhã desta terça-feira, 15, mostrando novamente que está sentido o golpe – sem trocadilhos – , “bananinha”, em publicação nas redes sociais, acusou Tarcísio de agir de forma “subserviente às elites” e o responsabilizou por não criticar com firmeza o que chamou de “regime de exceção” que estaria “comprometendo a economia e as liberdades no país”. “Prezado governador Tarcísio, se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades. Mas como, para você, a subserviência servil às elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda”, escreveu Eduardo em sua conta no X. Incrivelmente, não condenou as medidas de Trump contra seu país, algo que até Jair ensaiou, preferiu condenar o “clima golpista” no país no governo Lula. Não foi o contrário não, gente?
“O Tarcísio utilizou os canais errados. O filho do (ex-) presidente está nos Estados Unidos e tem acesso à Casa Branca”, afirmou Eduardo, em entrevista à Folha de S.Paulo. “Acesso à Casa Branca”, é isso mesmo? Que tipo de acesso? Pela porta de incêndio ou no colinho de Trump? Ele ainda acusou o governador de tentar “costurar por fora” um acordo que “vai acabar em mais um acordo caracol”. Eduardo Bolsonaro tem reiterado que não pretende retornar ao país enquanto o ministro Alexandre de Moraes, do STF, não for sancionado internacionalmente — e chegou a dizer que cogita renunciar ao mandato. “Muito provavelmente vou abrir mão do mandato. Eu não vejo a possibilidade de eu voltar, porque se eu voltar, eles chamam para me prender”, afirmou.
O ataque foi uma resposta a uma declaração de Tarcísio à CNN, em que o governador, questionado sobre o desagrado de Eduardo, que considerou sua atuação junto à embaixada dos Estados Unidos um “desrespeito”, afirmou “não ver problema” nas queixas do filho do ex-presidente. “Estou olhando para São Paulo, para o setor industrial, para a nossa indústria aeronáutica, de máquinas e equipamentos, para o nosso agronegócio, empreendedores e trabalhadores”, disse Tarcísio à CNN. Nesta terça, 15, foi a vez de Bolsonaro, o pai, reservar seu cantinho na CNN, no programa CNN Arena, numa entrevista patética em que afirmou que não pensa em “pedir asilo”. “Não pensa” é ótimo. De repente, quem sabe, semana que vem. Na segunda-feira, 14, a ressuscitada PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu a condenação do ex-presidente e de outros sete réus por organizar uma tentativa de golpe de Estado. Juristas defendem que Bolsonaro seja preso preventivmente porque é óbvio que vai vazar.
Para quem não lembra, Tarcísio, logo após o tarifaço, postou nas redes sociais – e rapidamente viralizou – foto com o boné vermelho da campanha de Trump, com as inscrições “Make America Great Again” (já conhecido peal sigla MAGA), a mesma indumentária que Eduardo usa dia sim, dia não. Inclusive é falso que Tarcísio, feita a cagada, tenha apagado de seus perfis o vídeo no qual aparece usando o boné com o slogan da campanha de Donald Trump. Para o estado mais afetado pelo tarifaço, o seu, São Paulo, Tarcísio arrumou um problema com seus empresários-patrocinadores. No desespero, o governador nesta terça, 15, reuniu-se com com exportadores paulistas – o que o vice-presidente Geraldo Alckmin já havia feito a pedido de Lula – e com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar. Com a presença cadavérica de Paulo Skaf, filiado ao Republicanos, mesmo partido do governador, que quer voltar ao comando da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a entidade dos patos golpistas, que presidiu de 2004 a 2021, quase um reinado, e que comandou, junto com o MBL, os movimentos populares contra Dilma Rousseff.
E a direita segue lavando sua roupa suja em público a caminho do cadafalso.
Imagem gerada em IA: enquanto o “lado negro” bolsonarista se enfrenta, Lula “Yoda” só observa.