
Ataques a Janja: foi machismo. E chega de enrolação
É tremendo o esforço de jornalistas da Globo para tirar das costas de colegas da corporação o peso do machismo que acionou o cerco a Janja. Tentam puxar a China para o centro de uma pretensa controvérsia política sobre controles e censuras.
O disfarce é manjado. Atacam os chineses, num mundo de democracias disfuncionais, como se ainda existisse um modelo americano de liberdade a ser seguido, pelo menos pela Globo.
Tentam fazer com que a conversa preconceituosa de compadres e comadres da GloboNews fique encoberta nos atenuantes do não foi bem assim. Porque, segundo a receita de diplomacia da direita (que também é disfuncional), Janja não deveria falar de controles do TikTok num lugar onde o que há é ditadura.
Não há como escapar do enquadramento das abordagens sobre o caso Janja como um episódio exemplar do machismo que contagia também as mulheres. Num meio em que o que prevalece é o feminismo de jardinagem.
Janja foi atacada por mulheres em atitude machista. Podem dizer que não são machistas, mas estavam machistas. Não há complexidade nenhuma no que aconteceu.
É simples. Jornalistas da Globo atacaram Janja porque se aliam aos que veem a esposa de uma figura pública como ajudadora. Copiam Michelle, com sutilezas e nuances, mas copiam.
Para os defensores da diplomacia dos bons modos, talvez no novo modelo Trump, Janja deveria sair do Brasil e voltar calada. Não para que evitasse deslizes diplomáticos, mas para que se comportasse como mera acompanhante do presidente da República. Janja não deveria se meter em conversas que só as mulheres da Globo dominam.
Uma delas sugeriu hoje no Globo que esquerda e fascismo se equivalem, ao tratar a extrema direita golpista como “inimiga”, não da democracia, mas do PT no poder. E se essa extrema direita voltar ao Planalto, diz a jornalista Bela Megale, seus inimigos hoje no governo, que pregam o controle das big techs, podem se preparar.
É o ameaçador jornalismo das corporações alinhando-se, em nome das liberdades absolutas da mídia hegemônica, aos argumentos do que existe de mais violento, cruel e repulsivo, não só nas redes sociais.
Não adianta dizer que o debate sobre os danos das redes entre crianças acontecem na China e são notícia nos jornais chineses, como mostrou Leonardo Attuch – que estava em Pequim –, aqui no 247, exibindo a prova do que dizia com um exemplar do China Daily.
Mas é inútil alertar os defensores dos compadres e das comadres da Globo de que, nesse ambiente virtual, a linha que separa o que seriam controles e censuras quase não existe, quando a pauta é a exposição e a exploração de vulneráveis. E que democratas e fascistas não são equivalentes.
O que os jornalistas e as jornalistas da Globo propagaram é o que é. Machismo, misoginia, discriminação explícita, para desqualificar Janja e atingir Lula. Não tentem encontrar algo que eles e elas tenham dito a respeito das fake news grosseiras sobre ‘as malas de dinheiro’ de Janja. Não há nada, nenhuma linha.
O pior é que o machismo como arma política contagia boa parte das esquerdas, incluindo mulheres que se consideram progressistas e são pautadas pelas confrarias da GloboNews. Como aconteceu quando Lula disse, em recado irônico ao bolsonarismo, que Gleisi Hoffmann, uma mulher bonita, assumiria o Ministério das Relações Institucionais.
Na simplificação rasa do jornalismo ‘feminista’, Lula depreciava a ministra. Porque esse jornalismo de notinhas só entende ironias básicas que partam do bolsonarismo e da direita das piadinhas repetitivas.
Que deixem de espernear e assumam o delito cometido. Jornalistas da Globo, com o conluio de colegas de outros veículos, foram machistas e fizeram o jogo do fascismo nos ataques a Janja, o cara que, na visão deles e delas, não controla a mulher ao seu lado.
Mulheres depreciaram a mulher que pode, por estar ao lado do homem mais poderoso do país, contribuir para afrontar inclusive os bons modos de regras da diplomacia do século 19, já destruídas pela truculência dos diplomatas do neonazismo do século 21.
Janja faz pelas mulheres o que as pretensas feministas de direita do jornalismo brasileiro fingem fazer com o decoro que lhes convém. Sim, foi machismo. E chega de enrolação.
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Fonte: Brasil 247