A Faria Lima conseguiu: infiltrou-se no crime organizado

28 de agosto de 2025, 14:56

Os jornais destacaram em manchetes os aplausos que o ministro André Mendonça recebeu de empresários e altos executivos, em palestra no Fórum Econômico do Lide, na semana passada no Rio.

Não há o nome de nenhum empresário que tenha se assumido como aplaudidor do recado de Mendonça a Alexandre de Moraes, para que seu colega de STF se dedique à autocontenção na condução dos processos contra os golpistas.

Por que não há nomes? Porque a elite empresarial anticomunista e antilulista, que já teve Mario Amato e Antonio Ermirio de Moraes como figuras célebres por suas posições públicas, hoje tem empresários e executivos com posições ocultas.

São da velha direita agora engajada ao fascismo, cada vez mais terrivelmente antilulista, mas não mostram a cara. Seus aplausos são manifestações genéricas, que os jornalões registram como se fossem coisa de torcida em estádio de futebol. Algo coletivo, de grupos, sem nome.

O extremismo empresarial brasileiro esconde o rosto e raramente irá assumir publicamente que aplaude o cerco do bolsonarismo a Moraes. Que deseja Tarcísio de Freitas como sucedâneo do chefe do golpe. E que se articula para ser golpista de novo, se tudo der errado mais uma vez para eles em 2026.

É nesse cenário que ficamos sabendo que a Faria Lima conseguiu finalmente o que deve ter tentado por muito tempo. Infiltrou-se no crime organizado e trabalha agora para o PCC.

Não é, como muitos pensam, o contrário. Não foi o PCC que conseguiu se infiltrar na Faria Lima. Temos, no reduto do dinheiro, a complementação de atividades criminosas que já envolviam figuras desse meio em negócios com ouro da garimpagem ilegal e com a grilagem de terras.

Teremos agora, como reação previsível, a tentativa de separar os puros dos contaminados. Vão tentar separar o que seria a legítima Faria Lima, que tem apenas o dinheiro do rentismo como vício, do resto que lida com qualquer forma de bandidagem que dê dinheiro.

Mario Amato, Antonio Ermírio e outros daquela geração, que acionavam o anticomunismo pós-ditadura com algum recato e certos limites, ficariam assombrados com o que vissem hoje. 

A Faria Lima esquenta dinheiro de traficantes do crime organizado, enquanto prega moralidades fiscais e patrulha o governo Lula em nome de bom senso e da racionalidade do mercado.

Chega a ser divertido ver a abordagem dos jornalões sobre a operação policial dessa quarta-feira. A Folha, por exemplo, informa o seguinte em manchete: “Força-tarefa realiza megaoperação contra atuação do PCC nos combustíveis e na Faria Lima”

Seria o PCC agindo na Faria Lima, e não a Faria Lima como parte do esquema do PCC. A Faria Lima é apresentada quase como vítima, e não como sócia do crime organizado.

A Operação Carbono Oculto vai mostrar a face de muitos dos que aplaudiram Mendonça de Barros e que preferiam o conforto do bolsonarismo oculto. E não tentem empurrar tudo apenas para o colo das fintechs.

Pode não mudar muita coisa, mas agora sabemos que traficantes e operadores do mercado financeiro não são diferentes mais nem na vestimenta. 

A extrema direita financista acumpliciada com o PCC desmanchou até o nó da gravata dos bacanas da Faria Lima.

  • Imagem gerada em IA

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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