Chamem de volta o Valdemar
Valdemar Costa Neto, a mais serelepe figura da direita, a mais confiante, a que mais bajula Bolsonaro antes de se livrar dele, voltará várias casas no jogo do golpe. Alexandre de Moraes gritou alto, na sessão do Supremo que julgou o núcleo 4: peraí, Valdemar.
O dono do PL entrará de novo, por alerta de Moraes, na turma dos que enfrentarão o estresse de um inquérito como golpista. Uma fila que ele conhece e de onde escapou de fininho. Assim, uma sequência de perguntas terá repostas.
Se o engenheiro Carlos Cesar Rocha, dono do Instituto Voto Legal, vendeu informações falsas sobre as urnas para o PL de Valdemar em 2022. Se Valdemar e suas facções disseminaram essas informações.
Se o PL de Valdemar pagou uma multa de R$ 23 milhões ao TSE por ter usado essas informações manipuladas para acionar a Justiça Eleitoral, o que caracterizou litigância de má fé.
Se essa ação do PL foi definida agora por Alexandre de Moraes como “uma das coisas mais bizarras que a Justiça Eleitoral já recebeu” como questionamento grosseiro e criminoso das urnas e das eleições.
Se Rocha virou réu e agora foi condenado pelos crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e como participante de organização criminosa.
Se tudo isso aconteceu, encadeado no roteiro do golpe, a pergunta é: como Valdemar, que contratou Rocha, que usou as mentiras de Rocha e que tentou ludibriar a Justiça Eleitoral, não é réu?
Sabe-se que não é porque, apesar de indiciado pela Polícia Federal, não entrou na lista de golpistas denunciados pela Procuradoria-Geral da República, enviada ao Supremo em fevereiro.
Ao defender nesta terça-feira que Valdemar seja investigado de novo, por coerência com a condenação de Rocha, Moraes seguiu o raciocínio do advogado do engenheiro.
Como estratégia de defesa, o advogado Melillo Dinis do Nascimento assim defendeu seu cliente no STF, dia 14 desse mês, ao alegar que as mentiras do relatório haviam sido divulgadas pelo PL e por Valdemar:
“Quem geriu toda a comunicação (a partir do relatório) foi exatamente o Partido Liberal. E eu repito: cujo presidente não está presente em nenhuma ação penal”.
Nascimento fez a pergunta que pelo menos metade do Brasil fazia, desde a decisão da PGR de deixar o presidente do PL de fora da lista de denunciados: cadê o Valdemar?
Moraes recoloca Valdemar no lugar de onde não deveria ter saído numa boa. É um recuo e tanto para quem já andou bastante em direção à impunidade desde a passada de pano da PGR.
Valdemar vai se incomodar. O incômodo dessa vez pode ser maior do que o enfrentado quando foi indiciado. A Polícia Federal vai retomar e fortalecer o que já fez, sabendo agora que o engenheiro autor do relatório foi condenado.
A partir do trabalho da PF e com a condenação de Rocha, a PGR não mais poderá menosprezar as provas que também incriminam Valdemar.
PF e PGR vão jogar de novo, agora pra ganhar. Não há como imaginar Valdemar livre, pela segunda vez, porque Paulo Gonet não pode reprisar o constrangimento de ouvir de Moraes a mesma pergunta feita pelo advogado: cadê Valdemar?
(No último dia 14, o JD publicou meu texto: “A pergunta incômoda: por que Valdemar não está aqui como réu golpista?”)
- Valdemar Costa Neto: STF está de olho. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil