
Eu ovo, tu ovas, ele ova….

Há alguns anos, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em entrevista à CNN – a pérola tem sido compartilhada fortemente nas redes sociais nos últimos dias, me dando esse gancho -, mostrou que sua cabeça não é feita só de ideias toscas, ética flexível, servilismo e absoluto apego ao poder- e o que dele deriva. Zema, formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (SP) – segundo o portal do Governo do Estado de Minas – , também tem graves problemas com a língua pátria, com matemática básica, literatura e até com a história e geografia do próprio estado que administra. Ao iniciar uma entrevista virtual com ele, a âncora Monalisa Perrone – veja e ouça -, pergunta, para saber se o áudio estava ok: “Me ouve bem?”. Depois de alguns segundos de hesitação, ele responde, com a convição de um sofomaníaco: “Ovo muito bem, Monalisa, e a todo o pessoal que está em casa”. Ovo? Ovo de galinha? De codorna? De pata? Frito? Mexido? Poché? Mollet? Benedict? O que se pode esperar, depois disso, da entrevista com o governador-omelete? Aliás, considerando o conjunto da obra, do governo dele?
E saber que faz parte de um rebanho direitista estadual, com pose acadêmica e mente neandertal, que disputa, numa luta de facas num quarto escuro, uma pré-candidatura presidencial em 2026, no vácuo da inelegibilidade do ex-mito Jair Bolsonaro. Todos visivelmente obtusos, como Tarcísio de Freitas, de São Paulo – bacharel em Ciências Militares e engenheiro civil, com passagem pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) – , Cláudio Castro, do Rio de Janeiro – bacharel em Direito -, Ronaldo Caiado, de Goiás – graduado em Medicina com especialização em Cirurgia da Coluna Vertebral-, Jorginho Mello, de Santa Catarina – outro de Direito -, e Ratinho Júnior, do Paraná – formado em Marketing e Propaganda – , para citar alguns. Tem gente que, com “com anel de doutor” e tudo, parafraseando o Paralamas, se cair de quatro, não levanta mais.
Voltando ao governador-omelete, sem elitismo linguístico, nem caberia, o que se percebe, ao longo dos anos, é que, ao desconhecimento da conjugação de um verbo básico, juntam-se a seu perfil outras digamos, dificuldades, típicas dos indivíduos que não têm o conhecimento necessário para opinar com propriedade sobre um fato e, mesmo assim, opinam. E o fazem se baseando em juízos de valor, em achismos, sem se aprofundarem sobre aquilo que se discute – um prato cheio para fake news. E toca a falar de política, religião, sexualidade, ensino, saúde, sempre revelando dificuldades em funções mentais essenciais, como memória, atenção, linguagem, raciocínio, percepção e tomada de decisões – algo não muito bom para, por exemplo, um político.
Zuma tem estocado tontices como essas. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Zema sugeriu que os estados do Sul e Sudeste deveriam se unir politicamente para contrabalançar a influência do Norte e Nordeste no Congresso. Ele comparou essas regiões a “vaquinhas que produzem pouco”, uma frase xenofóbica e divisiva. Em 2020, Zema afirmou que a violência doméstica é um “instinto natural do ser humano”, comentário machista, dos tempos da “legítima defesa da honra”, minimizando a gravidade do problema. Doca Street, assassino de Ângela Diniz, ficaria orgulhoso. Em outra ocasião, ao comentar sobre a atuação de João Amoêdo, ex-presidente do Partido Novo, Zema fez uma analogia considerada sexista, sugerindo que mulheres separadas tendem a se tornar obcecadas em destruir o ex-cônjuge. Durante a gravação de um podcast em Divinópolis, Zema foi presenteado com um livro da renomada poetisa Adélia Prado, que ali nasceu em 1935. “Ela trabalha aqui?”, perguntou, demonstrando uma ignorância literária quase inacreditável. Em agosto desse ano, Zema propôs a criação de um programa de transferência de renda com critérios de desempenho escolar para os filhos dos beneficiários. No entanto, essa exigência já existe no Bolsa Família desde sua criação.
A coleção não tem fim – e é o reflexo de um homem que passou a vida em uma bolha. Em uma visita à mineira Teófilo Otoni, Zema afirmou que a cidade fica “no Leste de Minas”, o que está geograficamente incorreto. A região administrativa em que se encontra é o Nordeste de Minas Gerais. Em outra entrevista, Zema afirmou que “os sete estados do Sul e Sudeste teriam 27 senadores” – erro simples de lógica, já que cada estado federal tem direito a 3 senadores, totalizando 21 para os sete estados mencionados. Durante entrevista na rádio Jovem Pan em 2023, ao falar sobre o apoio da Câmara dos Deputados, Zema declarou que a metade de 513 deputados seria 561 – e, ao tentar se corrigir, disse “556” – antes de retomar a conta correta (255). Há, pelo menos, uma ignorância histórica imperdoável: durante postagens sobre a Inconfidência Mineira, Zema usou expressões como “golpe” e qualificou os inconfidentes como praticantes de “crimes”, o oposto do que dizem todos os historiadores, transformando em pó a imagem de Tiradentes e todos os que se insurgiram contra as autoridades coloniais.
Zema é isso aí, uai. Ele é um fragmento dessa direita ignorante, que, ainda assim, segue sendo eleita. Por você. Tá surpreso? Votou nele? Vota de novo. Só que pra você, liberdade nem ainda que tardia.
- Imagem gerada em IA.