Greve geral paralisa Portugal e mobiliza milhares contra reforma trabalhista
Milhares de pessoas tomaram as ruas de Lisboa nesta quinta-feira (11/12), em um dia de greve geral no país. A concentração começou por volta das 10h (7h pelo horário de Brasília), na Praça do Rossio, região central da capital.
A paralisação, que uniu os dois maiores sindicatos de Portugal — a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) e a União Geral de Trabalhadores (UGT) —, foi convocada após o governo do premiê Luís Montenegro apresentar uma proposta de reforma trabalhista. Se aprovado, o pacote laboral pode trazer retrocessos aos direitos de quem vive do próprio trabalho, incluindo medidas que permitem demissões ilegais, diminuição de salários e aumento da jornada de trabalho.
Nas primeiras horas desta quinta, a greve geral interrompeu hospitais, escolas, transportes aéreo, ferroviário e rodoviário, além de muitas fábricas. A Ordem dos Economistas de Portugal chegou a prever um impacto direto e indireto de 700 milhões de euros (cerca de R$ 4,4 bilhões) ao país, valor equivalente a quase 85% de um dia do produto interno bruto.
Na montadora Volkswagen AutoEuropa, a adesão à greve foi massiva. Os trabalhadores afirmaram a Opera Mundi que a linha de produção estava completamente parada. Eduardo Florido, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul (SiteSul), disse que cerca de 90% dos operários do turno da noite cruzaram os braços, sem “produzirem um único carro”.
Atualmente, a Volkswagen AutoEuropa representa aproximadamente 1,3% do PIB português, sendo a maior fábrica de automóveis do país. De acordo com Florido, se houver adesão dos trabalhadores do turno da tarde, o impacto será grande o suficiente para chamar a atenção do Parlamento. “Estamos dando a resposta que este governo merece”, completou.

Trabalhadores marcharam pelas ruas de Lisboa até o Parlamento do país
Stefani Costa
A partir das 14h30 (11h30 pelo horário de Brasília), a multidão marchou até a Assembleia da República, entoando gritos de ordem como “o pacote laboral é retrocesso social”, “o custo de vida aumenta, o povo não aguenta” e “o ataque é brutal, a greve é geral!”.
Diante da multidão, Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP-IN, afirmou que a paralisação era um “momento único de afirmação”. “Estamos diante de uma das maiores greves da história, se não a maior. Mais de 3 milhões de trabalhadores pararam. Perante a dimensão do ataque, maior será a nossa resposta. Envio uma saudação a todos os trabalhadores, em especial aos mais jovens, que fizeram sua primeira greve. A reforma trabalhista seria atacar a própria democracia e o direito à greve. Seria mais um golpe diante de tantos outros. Querem nos condenar a uma vida sem direitos.”
Ao lembrar que o primeiro-ministro Montenegro foi eleito sem mencionar a reforma durante a campanha, milhares de pessoas acompanharam o secretário-geral aos gritos de “mentiroso”.
A brasileira Tânia Graniço, de 71 anos, decidiu somar forças à luta dos portugueses por acreditar que essa é uma solidariedade universal entre trabalhadores. Segundo ela, não importa o país: “Minha experiência como sindicalista no Brasil me ensinou que só conquistamos direitos pela luta. Nada nos é dado. Eles tentam sempre piorar nossas condições. Por isso, nossa tarefa é resistir, unidos, até assumirmos o poder que por direito é nosso. O mundo pertence a quem o constrói”, disse.
Em alguns pontos da greve, também foram registrados momentos de tensão. No Estaleiro Municipal da Amadora, região metropolitana de Lisboa, uma funcionária da prefeitura avançou com o carro sobre o piquete, atropelando um trabalhador devidamente identificado.

Greve geral rechaça pacote de reforma trabalhista do governo Montenegro
Segundo Milene Vale, que presenciou a cena, apesar do incidente houve adesão de aproximadamente 80% dos trabalhadores. Ela relatou ainda que, “por vingança”, a Polícia de Segurança Pública (PSP) aplicou multas nos carros estacionados junto ao estaleiro.
“Os agentes arrastaram um trabalhador e tiraram o telefone das minhas mãos; por isso, não tive tempo de registrar muita coisa. Houve ainda maus-tratos com pessoas mais idosas.”
Durante a manifestação entre o Parlamento e a marcha, a reportagem de Opera Mundi não registrou incidentes, apesar do forte policiamento.