“Inteligência artificial”, ou o “prometeu Moderno”
Desde Mary Shelley e seu Frankenstein, a humanidade reflete sobre o poder e a responsabilidade de criar.
Na história, o cientista dá vida à sua criatura, mas perde o controle sobre ela.
Hoje, o nosso “monstro” não é feito de partes humanas, mas de dados humanos: músicas, textos, vozes, imagens.
A inteligência artificial nasce do que nós criamos. Nosso desafio é garantir que essa nova criatura não destrua seus próprios criadores.
A inteligência artificial está transformando o mundo, e isso é fascinante, mas também traz desafios enormes, especialmente pra quem cria.
Porque o que está em jogo aqui não é só tecnologia.
É a sobrevivência do trabalho humano na cultura. É o valor simbólico e econômico da criação.
A CISAC – Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores – vem alertando: as perdas geradas pelo uso de obras humanas sem autorização, em treinos de IA, podem chegar a bilhões de dólares por ano.
Isso significa menos renda, menos independência e menos diversidade cultural.
Quando o criador deixa de ser remunerado, a arte deixa de ser sustentável.
A gente não é contra a tecnologia – muito pelo contrário. A inteligência artificial é uma grande ferramenta e pode ser uma grande aliada.
Mas ela precisa respeitar quem veio antes: as músicas, os roteiros, as vozes, os textos, as imagens que alimentam esses sistemas.
Se a IA aprende com a gente, é justo que a gente participe dos resultados.
Há um Projeto de Lei que está em discussão na Câmara que já traz avanços importantes, especialmente no capítulo que trata dos direitos autorais e conexos.
É essencial garantir que toda obra usada por IA seja identificada, autorizada e, quando for o caso, remunerada.
Mas a gente precisa dar um passo além: restabelecer o princípio do tratamento nacional – ou seja, que o autor brasileiro tenha o mesmo respeito e proteção que qualquer autor estrangeiro, e vice-versa.
Isso é básico, é o que garante igualdade no cenário global da cultura.
O que nós defendemos é:
– Transparência: os criadores precisam saber quando e como suas obras foram usadas;
– Remuneração justa: se há uso comercial de conteúdo humano, tem que haver compensação;
– Consentimento e crédito: o autor tem direito de autorizar, negar e ser reconhecido;
– Responsabilidade das plataformas: quem lucra com IA também tem que respeitar regras.
Regular a IA é mais do que necessário.
E já que falei em Frankstein, cito aqui outra grande obra da genialidade humanidade: Blade Runner. Como no filme, o que separa as máquinas dos humanos são as memórias e os sentimentos.
É isso que a gente precisa proteger: a memória emocional da cultura, o sentimento que dá vida à arte.
Que o avanço da inteligência artificial nunca signifique o retrocesso dos direitos humanos e culturais.
- Imagem gerada em IA.