
O erro que não pode ser cometido

Repetem, quase sempre em tom assertivo e até de lacração, que Alexandre de Moraes não pode deixar Bolsonaro em casa. Bolsonaro em prisão domiciliar é um problemão para muita gente.
Todos os argumentos para que preservem a saúde do sujeito se diluem no argumento maior, que juntou as expectativas até o julgamento: a condenação de Bolsonaro ficará pela metade, se ele não for preso.
Condenar Bolsonaro e tirá-lo do jogo da política não basta para que o país se convença de que houve reparação. Não haverá reparação sem cadeia, é o que mais se ouve e se lê. Até porque Bolsonaro já estava, antes da decisão do STF, fora do jogo e inelegível por condenação no TSE.
Mas ganha eco a ladainha de que pedir cadeia é aderir ao punitivismo. Quando pedir cadeia é estar ao lado das demandas represadas de pelo menos metade da população. Bolsonaro precisa ser preso, para que se complete a certeza de que não haverá impunidade.
Nem Bolsonaro, nem Braga Netto, nem Alexandre Ramagem, nenhum deles pode ter o acolhimento de desculpas para que não seja preso. E não se trata de comparar a situação deles com a de Lula, que ficou 580 dias encarcerado.
Esqueçam Lula. Pensemos no estrago que haverá se, depois de todo o esforço da polícia, do Ministério Público e do Judiciário, Bolsonaro ficar em casa.
Não há como não reconhecer como legítimo e razoável o desejo de ver Bolsonaro preso. De poder dizer que também o caso dele, ao contrário do que alguns previam, cumpriu todas as etapas até ser enjaulado.
Não há como pensar que, daqui a alguns anos, a memória do golpe possa ter essa página inquietante e até desmoralizadora: Bolsonaro foi julgado em sessão histórica do STF, mas não foi preso.
Não dá. Como não dá para imaginar Bolsonaro em casa, quase solto, fazendo reuniões e rearticulando golpes, porque essa situação não seria apenas uma afronta à Justiça. Bolsonaro em casa é um problema para direita e extrema direita.
O chefe da organização criminosa se tornará insuportável para os próprios parceiros, na reacomodação do bolsonarismo. Bolsonaro ativo, achando-se forte e articulador, tira de Tarcísio de Freitas a possibilidade de calibrar a própria fala e suas ações de pré-campanha.
Tarcísio precisa buscar equilíbrio entre os muitos tons e semitons de Marcos do Val, Malafaia, Valdemar Costa Neto, Sóstenes e Gilberto Kassab, com nuances de Carluxo. Com Bolsonaro considerando-se vivo e patrulhando o que ele diz, fica difícil.
Será quase impossível para a Justiça gerir os pedidos de visita e controlar o entra e sai de gente na casa de Bolsonaro. E será um inferno para os vizinhos.
Mas, em meio aos dilemas sobre o que fazer com Bolsonaro, um erro não pode ser cometido. Se for preso em ambiente militar, mesmo que no mais modesto quartel de Brasília, poderemos nos preparar para situações imprevisíveis.
Bolsonaro dentro de um quartel transformará todo o entorno em trincheiras de acampamento. A partir das aglomerações, o bolsonarismo poderá criar um ambiente, de um dia para o outro, que exigirá mais do que os ajuntamentos de antes de 8 de janeiro.
Dirão que o bolsonarismo está sem forças. Ouçam também os que sabem que eles estão se rearticulando e planejando o que fazer quando Bolsonaro for preso.
Tem gente torcendo mais pela prisão no apartamento de um quartel do que em casa. Já há grupos organizando excursões a Brasília. O estoque de golpes e de manés é inesgotável.
- Imagem gerada em IA.