
Para Paula Lavigne

A mobilização de 21/09 não teria acontecido sem Paula Lavigne. Ponto. Foi ela quem costurou apoios, convocou artistas, cutucou políticos, articulou bastidores e fez a porra toda acontecer. Paula é foda. Ao longo dos séculos, mulheres brilhantes foram apagadas pelo peso da história escrita por homens. Rainhas reduziram-se a notas de rodapé. Intelectuais tiveram suas ideias atribuídas a outros. Artistas foram tratadas como meras musas, nunca como protagonistas. Quantas Cleópatras tiveram suas vozes abafadas, seus feitos diminuídos por serem mulheres? A fêmea genial sempre foi vista como ameaça, e, por isso, sufocada.

Paula criou o Procure Saber – uma mobilização de artistas que defende a dignidade dos compositores. Paula defende a democracia em momentos críticos e chama para si responsabilidades que ninguém mais teria coragem de carregar. Paula é foda.
Paula mete mesmo a cara a tapa. E como todo mundo que é foda, sofre ataques que não diferem muito do que as mulheres poderosas de outros tempos sofreram: ódio disfarçado de crítica, inveja disfarçada de ponto de vista, misoginia disfarçada de opinião.

Paula é foda.
Não se cala. Não se esconde.
Sua existência pública é uma resposta histórica ao silenciamento de séculos das mulheres fodas.
Esse texto é para celebrar a democracia. Para celebrar a mobilização de 21/09. É para celebrar Paula. Porque muitas falaram de Chico, Caetano, Gil, Djavan e Paulinho da Viola.
Mas Paula Lavigne tem que ser celebrada também, igualmente.
Se existir uma porra de uma chave desse país, entreguem logo a ela. Quando eu for imperador do Brasil vou fazer isso.
Quando Silva, aquele fofo querido disse que não tinha “a tia Paula por detrás de sua carreira”, ele não estava criticando Paula: ele estava lamentando. Quem não quer Paula ajudando, apoiando, abrindo aquele sorrisão gigante por perto?
Paula é legal pra caralho. Quem conhece, sabe. Quem ficar de papinho de “esquerda Leblon” que engula o recalque.
Paula Lavigne é uma justiça poética para todas as mulheres do mundo.
Marie Curie, que revolucionou a ciência e ganhou dois prêmios Nobel, teve de lutar para não ser lembrada apenas como “a esposa de Pierre”. Camille Claudel, amante e colaboradora de Auguste Rodin, terminou internada contra a própria vontade, tendo seu nome apagado por décadas, sendo que todos sabem que muitas esculturas famosas do marido foram criações dela. Frida Kalho durante muitos anos foi tratada apenas como “a esposa de Diego Rivera”. A história adora apagar as mulheres.
Paula poderia ser apenas a mulher rica. A esposa rica de um artista genial. Poderia estar em Cascais, de biquíni, tomando sol, com a preguiça de quem já não precisa lutar por nada. Ficar de boa na lagoa, vendendo shows e tomando uns vinhos legais. Mas ela escolheu a trincheira. Louca pra caralho! Preferiu usar o espaço que conquistou para mobilizar políticas sociais, defender autores, erguer a voz contra injustiças.
Paula é foda.
Neste 21/09 provou ser a mulher mais foda do país.
Branquinha.
Carioca de luz própria. Luz só dele.
Que ilumina um país.
Porra, Paulinha. Você é foda!
- Ao lado de Caetano Veloso, sempre, Paula Lavigne, empresária, produtora cultural, ex-atriz e uma uma das principais articuladoras, por meio do coletivo 342 Artes, do ato contra a Anistia e a PEC da Bandidgem, em Ccopacabana, domingo, no Rio – mas que varreu o país. Redes sociais/Reprodução.