Paulo Guedes, com faculdade de amigo, usa marketing agressivo nas redes para vender aula defendendo liberalismo contra “ameaça” chinesa

2 de outubro de 2025, 18:00

A falta de auto-crítica e senso de ridículo do “Posto Ipiranga” de Jair Bolsonaro, o lamentável ex-ministro da Economia Paulo Guedes – muito visto hoje caminhando no calçadão da zona Sul, perto do seu Leblon – só não são superados por seu ego e seu caráter plutomaníaco. É quase impossível assistir a algo relevante nas redes sociais hoje, especialmente no Youtube, sem cruzar – anúncio pago e frequente nos intervalos obrigatórios do que você está querendo assistir em paz – com o mais novo engodo do economista liberal de direita que aprendeu suas maldades na Escola de Chicago: ele oferece a quem sobreviveu à sua administração catastrófica na economia uma Aula Magna, ao vivo – clique aqui -, no próximo dia 20 de outubro, intitulada “O liberalismo sob ataque”. Preço: R$ 397,00 por cabeça, com um desconto para quem se matriculasse até 03/10. Fuja para as montanhas!

Entre os temas que serão abordados estão: “Alianças geopolíticas pesam mais que eficiência econômica”; “Os conservadores estão ganhando terreno da esquerda”; “Novas tecnologias, tarifas, barreiras migratórias e rearmamento”; “Como o Brasil deveria se comportar nesse cenário”. Deu pra sentir o tom, né. Sabe tudo esse Paulo Guedes. Ah, quem fizer o curso receberá um “certificado de participação”. Sua fobia claramente é a China – maldita seja, que “disputa a hegemonia” com sua querida América -, país que, nos anúncios pagos, é comparado – literalmente, com uma animação em IA- a um elefante tentando entrar na marra, em uma piscina inflável para crianças – onde outras potências são representadas por bolas de plástico. Ideia mais infantilóide e imatura impossível, mas ele deve enxergar seus alunos como divisa os brasileiros: uma mulltidão de idiotas de plantão prontos para aplaudir sua elite rica e nanica.

Com chamadas pela internet chamando para sua Aula Magna, Paulo Guedes coloca, no ar, um vídeo tosco – com o uso de IA – onde coloca a China, literalmente, como uma aberração, um elefante invadindo uma piscina de crianças, tentando pisotear os demais países. Reprodução/Redes sociais.

Responsável por um trabalho elitista e incompetente na economia, com deterioração fiscal, aumento da dívida pública, violento retrocesso no combate à desigualdade social e aval para gastos eleitoreiros do chefe, especialmente no último ano de mandato, Paulo Guedes é também o sujeito oculto por trás da negligência que levou ao genocídio de milhares de brasileiros durante a pandemia. Logo no início da tragédia anunciada, ele disse que R$ 5 bilhões seriam suficientes para “aniquilar” o novo coronavírus, o que foi ridicularizado dada a escala da crise sanitária. Também criticou o sistema de cotas, usando a expressão “filho do porteiro”, e sempre relativizou a ditadura militar de 64. Vai pra Chicago, verme!

“Chega de voo de galinha”, dizia o “posto Ipiranga” Paulo Guedes ao seu amigão Bolsonaro, mas suas medidas econômicas fizeram o Brasil rodopiar feito um peru com a garganta cortada. Erros graves na economia, frases preconceituosas e desatenção com a pandemia de Covid quando a mortandande começava a enfileirar caixões e abrir covas coletivas. Foto: Evaristo Sá/AFP

A Aula Magna, virtual claro, é oferecida com o selo de uma certa Faculdade HUB, que se apresenta como uma “escola de negócios” calcada no ensino à distância, voltada a quem quer se empregar no mercado financeiro. Mas nenhum “malabarismo fiscal” explica porque até 03/10 a Aula Magna cai em 20 vezes o preço e sai pela bagatela de R$ 19,00. Ou o “prestígio” de Guedes exige um “saldão” ou o fato de ser apenas o chamariz para algo bem mais caro – o valor não é revelado: um MBA Digital com o ex-ministro (detalhes abaixo).

A “faculdade” foi criada e é comandada pelo Grupo Primo, do “influenciador” milionário Thiago Nigro, dono do canal “O Primo Rico” e do podcast PrimoCast, que se apresenta, sem modéstia, como “um dos investidores mais inflentes do país”. Com promessas aos “alunos” de transformar suas vidas, tornando-os novos ricos, e, quem sabe, trabalhar para o Grupo Primo e seus parceiros, a XP Investimentos e Bruno Perini, a HUB afirma, em seu site, possuir mais de 20.000 alunos online. Atualmente, Nigro promove o curso “Do Mil ao Milhão”, nas melhores casas do ramo. Como diz o ditado, todo dia sai na rua – e agora nas redes – um otário e um esperto. Se eles se encontram, sai negócio.

Thiago Nigro, o milionário dono da “escola de negócios” HUB, do portal Primo Rico, que “emprega” Paulo Guedes. Foto: Reprodução/Primo Rico

Apesar de Guedes ter sido figura central no governo Bolsonaro, não há registro conhecido de filiação partidária de Nigro. Nem de haja uma sociedade formal entre os dois na faculdade ou outro negócio. Várias matérias recentes repetem o valor de aproximadamente R$ 22 milhões para o patrimônio de Nigro, como no Infomoney e Metrópoles. Algumas matérias juntam os patrimônios de Thiago Nigro e da empresária, modelo, “coach de emagrecimento” e ex-BBB (a edição 9) Maíra Cardi – já que eles se casaram em regime de comunhão total de bens -, estimando que, em conjunto, pode haver algo em torno de R$ 50 milhões.

Não é informado o quanto a HUB está investindo na Aula Magna de Paulo Guedes nas redes. Informa-se apenas, que ao final da aula – um negócio leva a outro -, Paulo Guedes vai abrir inscrições para a primeira turma de seu Programa Avançado em Macroeconomia, módulo de concentração de seu MBA em Macroeconomia & Portfolio Management. Mas é possível ter uma referência. Em agosto de 2023, quando Thiago Nigro e Paulo Guedes anunciaram publicamente uma parceria para lançar o tal MBA Digital na “faculdade” HUB – a publicidade do curso investiu pesado: foram gastos cerca de R$ 791 mil em impulsionamento nas redes da Meta (Facebook/Instagram).

  • Imagem de capa: reprodução do cartaz no site da Faculdade HUB chamando para a Aula Magna de Paulo Guedes.

Escrito por:

Jornalista há 40 anos, repórter e editor de grandes veículos - O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, Istoé - assessor de imprensa e ex-diretor de agências de comunicação corporativa. Trabalhou no Senado e na Prefeitura do Rio. Já colaborou em diversos sites. Ex-professor de Jornalismo da PUC-RJ.Premiado, entre outros, com Prêmio Esso, Embratel e Herzog.

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