Português oferece 500 euros ‘pela cabeça’ de brasileiros no país

1 de setembro de 2025, 14:32

O português João Oliveira, identificado como “Pasteleiro Linçe”, ofereceu 500 euros “pela cabeça” de brasileiros que residem em Portugal. A ameaça foi publicada em vídeo no perfil do TikTok no último sábado (30/08). Segundo fontes ouvidas por Opera Mundi, o autor foi demitido de uma das padarias onde trabalhava, na cidade de Aveiro.

Nas imagens, gravadas no interior de um veículo, João exibe uma nota de 500 euros enquanto oferece o valor para cada português que lhe trouxer a cabeça dos “zucas” que vivem no país, de forma regular ou irregular, “cortada rente ao pescoço”.

Não satisfeito, ele continua: “já que é para esculhambar o português, então o português também tem que começar a usar as mesmas armas para esculhambar os zucas, essa raça maldita”. O termo “zuca” é a abreviação de “brazuca”, um jeito informal que os portugueses utilizam para tratar os brasileiros no país. Alguns brasileiros também utilizam “tuga” para se referirem aos portugueses.

Horas após a exposição, João continuou gravando vídeos ameaçando e ofendendo mulheres brasileiras, além de desafiar as polícias portuguesas que eram marcadas nos comentários por internautas indignados com a situação. Por volta das 20h30 (horário local) do mesmo dia, o português mudou o perfil para privado.

A página de João no Facebook também revela que ele já viveu em Anápolis, Goiás, onde teria se casado no ano de 2011. Registros também mostram que em 2024 ele estava trabalhando em Genebra, Suíça. Já no seu TikTok, há uma série de publicações em apoio ao Chega, partido que representa a extrema direita no Parlamento português.

Discriminação e incitamento ao ódio e à violência contra uma pessoa ou grupo devido à sua raça, cor, origem étnica, religião, gênero ou orientação sexual é crime em Portugal, com pena de prisão de seis meses a cinco anos, conforme o artigo 240º do Código Penal.

A denúncia feita pela Hedflow Mídia no Instagram já atingiu mais de 450 mil visualizações. Outros influenciadores brasileiros também ajudaram a espalhar o vídeo, como o entregador antifascista Paulo Galo, a atriz Luana Piovani e o comunicador popular Jones Manoel.

João Oliveira ameaçou brasileiro, enquanto a padaria em que trabalhava esclareceu o episódio Reprodução

A reportagem entrou em contato com o Ministério Público e a Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portugal, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta.

Em junho, o relatório divulgado pela Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI), órgão do Conselho da Europa, mostrou que os crimes de ódio em Portugal tiveram um aumento de 200% entre os anos de 2019 e 2024, de acordo com dados da justiça portuguesa.

Questionado sobre a razão de Portugal não contar com uma “força tarefa” especializada no combate a esses crimes, como acontece em outros países do bloco, o procurador-geral da República, Amadeu Guerra, disse que a falta de recursos no Ministério Público é um dos fatores que limita esse tipo de trabalho.

No início do mês, Opera Mundi noticiou a agressão sofrida pelo professor de educação física, o brasileiro Henrique Almeida, em Porto. Ele foi atacado com garrafadas por dois homens, um deles o português Pedro Alves, enquanto preparava uma aula. O paulistano recebeu atendimento hospitalar e teve que levar pontos na nuca.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima oferece no país um canal exclusivo para denúncia de crimes de ódio. O Ministério Público também disponibiliza uma página para cibercrimes.

Imgem de português João Oliveira nas redes sociais. Reprodução.
Fonte: Opera Mundi.

Escrito por:

Radicada em Lisboa, é jornalista correspondente de Opera Mundi e escreve em veículos como Jacobin Brasil, Jornal Expresso e Rádio TSF Portugal. Atuou em redações como Revista Brasil Já e Sapo Mag, além de contribuir para diversos meios, entre eles Brasil de Fato, ICL Notícias, Brasil 247, DCM, Correio Braziliense e Rádio Bandeirantes. Cobriu conflitos como as guerras da Ucrânia e do Líbano, as eleições presidenciais na Rússia, as eleições judiciais no México e a Cúpula do Brics, em Kazan e no Rio. Seus principais focos são guerras, conflitos, direitos humanos, migrações, habitação, política e cultura.

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