Saiba qual o papel de Derrite e Hugo Motta na trama que a Câmara arma contra a PF
Hugo Motta afirma que pretende votar o PL Antifacção ainda esta semana, apesar da ausência de acordo e das reclamações que vêm de todos os lados. “Vamos em frente com responsabilidade e a urgência que o tema requer”, disse ele no X. Ocorre que a pressa aqui é um eufemismo para a ação política procrastinatória do próprio Hugo Motta.
Os problemas começaram no momento em que o diminuto presidente da Câmara decidiu entregar a relatoria do projeto a um inimigo ideológico do Planalto, numa tentativa de fustigar o governo.
Mas quem é Guilherme Derrite, esse dublê de deputado federal e secretário de Segurança Pública de São Paulo, escolhido a dedo para criar confusão na seara ideológica?
Para simplificar, basta dizer que se trata de um troglodita. Ex-tenente da ROTA — uma das polícias mais violentas do mundo — Derrite fez carreira especializando-se em matar, algo de que se orgulha quando descreve sua trajetória político-policial.
Violento ao extremo, e justamente por isso alçado ao posto de deputado federal pela mais selvagem extrema-direita do País, foi conduzido por Motta à relatoria do projeto a pedido do governador Tarcísio de Freitas.
Um levantamento da Revista Piauí encontrou 16 processos em que o ex-PM aparece como responsável por mortes ocorridas durante suas rondas.
Foram tantas mortes que Derrite acabou expulso da ROTA por excesso de letalidade. “Eu matei muito ladrão. A real é essa, simples!”, admitiu o parlamentar e secretário licenciado de Tarcísio ao explicar por que foi afastado da tropa mais temida do País.
Seu comportamento sanguinário começou a se delinear logo no início da carreira. Em 2006, recém-formado na Academia de Polícia, Derrite já era acusado de integrar um grupo de extermínio conhecido como “Eu sou a morte”.
O gosto descontrolado pela violência o levou, inclusive, a pugnar por comportamentos abomináveis dos colegas de farda: segundo ele, um policial deve matar ao menos três pessoas em cinco anos para não ser considerado uma “vergonha” na corporação.
Quando Tarcísio o escalou para tentar retirar do governo Lula o protagonismo do PL Antifacção, Derrite demonstrou sua completa inadequação para a relatoria já na primeira das quatro versões do substitutivo.
Em nome do combate às facções, afastou quase completamente a Polícia Federal de qualquer investigação sobre crimes cometidos por organizações criminosas — algo que nem a direita tradicional, a que come de garfo e faca, admite.
A aversão de Derrite à Polícia Federal
O desprezo do grupo político ao qual Derrite pertence pela independência da PF remonta ao início do governo Bolsonaro. Na tentativa de blindar o filho Flávio das investigações sobre rachadinhas e outros delitos, Bolsonaro tornou explícita sua aversão à polícia judiciária da União — uma instituição que não conseguia controlar. É dessa origem que surge o fetiche destrutivo que alimenta os constantes ataques da extrema direita à Polícia Federal.
Esse comportamento acabou rendendo a Derrite certa simpatia entre parlamentares apavorados com o avanço de investigações conduzidas pela PF por ordem do STF — e não são poucos. Hoje, ao menos 96 deputados federais estão enredados em inquéritos e investigações por malversação de recursos públicos, especialmente envolvendo as chamadas Emendas Pix.
Derrite também encontrou eco entre parlamentares como Marcel Van Hatten e o Delegado Bilinskyj, que defendem criar condições para um golpe clássico, com intervenção norte-americana em nome do combate ao crime organizado. Daí a obsessão por qualificar crimes de facções como terrorismo.
Mas a direita não bolsonarista — e os parlamentares genuinamente preocupados com o combate ao crime organizado — não aceitaram a vingança política arquitetada pelo relator e seus aliados.
As revisões que não resolveram os problemas
Sob pressão da opinião pública, Derrite foi obrigado a revisar e revisar seu substitutivo — já são quatro versões, e uma quinta deve ser apresentada — na tentativa de dar alguma consistência ao texto. Mesmo assim, manteve intacta sua sanha anti-PF.
Na primeira versão, ele simplesmente excluiu a Polícia Federal de qualquer investigação sobre crimes atribuídos aos estados. Na segunda, flexibilizou parcialmente a regra, mas subordinou a atuação da PF à autorização de governadores. Na terceira, abandonou essa exigência, mas criou entraves orçamentários destinados a sufocar a instituição.
Fica evidente que o objetivo de Derrite não é fortalecer o Estado contra as facções criminosas, mas neutralizar a Polícia Federal.
A quinta versão da quimera derriteana está no forno. Não se sabe o que fará com os inúmeros aleijões institucionais propostos ao longo dessa relatoria tormentosa.
Enquanto isso, Hugo Motta — o responsável pela escolha desastrosa do ex-PM que gosta de matar — está com pressa. Foi sua decisão lamentável que fez o País desperdiçar mais duas semanas na tentativa de avançar no combate organizado ao crime.