Tarcísio depende do chefão e da estrutura da organização criminosa

9 de setembro de 2025, 18:28

A radicalização de Tarcísio de Freitas, na tentativa de calibrar retórica e ação política, provoca uma série de dúvidas que conduzem a uma resposta bem singela, com desdobramentos previsíveis. Vejam as perguntas.

Se a mais recente pesquisa CNT/MDA confirmou que a maioria (49,6%) quer Bolsonaro condenado e preso, como Tarcísio se arrisca a defender que seu líder fique solto, como desejam apenas 36,9%? Livre, solto e anistiado para concorrer em 2026.

E se pesquisas anteriores mostraram que o brasileiro não quer saber de anistia e que também deseja ver Bolsonaro aposentado e fora da política, que história é essa de Tarcísio assumir a liderança do indulto e da afronta ao Supremo?

Se a maioria também já avisou que não vota em candidato indicado por Bolsonaro, o que leva Tarcísio a buscar, com a defesa de Bolsonaro e da anistia, a bênção do chefe do golpe? Que história essa?

Por que Tarcísio correu o risco de radicalizar, como fez na Paulista ao chamar Moraes de tirano e ditador, podendo desperdiçar a imagem de extremista moderado do bolsonarismo?

Uma tentativa de resposta em poucas linhas: Tarcísio entrou no modo Malafaia por ter certeza de que, se fidelizar a base do eleitorado conectado a ideias fascistas, que representaria ao redor de um terço do eleitorado, o resto virá atrás.

Hoje, Tarcísio não está interessado na maioria. O que ele quer agora é a minoria inflexível, mas confiável. Precisa da base raiz de Bolsonaro, para se apresentar como candidato capaz de enfrentar Lula.

Essa é a primeira etapa, por mais arriscada que seja. E, a partir daí, com esse alicerce, Tarcísio sai em busca da confiança do eleitorado da velha direita e do que resta de centro e de tudo que caiba no antipetismo.

Sabe que não há outra saída. Funcionou assim com o próprio Bolsonaro em 2018, quando diziam, pelo que indicavam as pesquisas, que o teto do sujeito era de 18%. Repetiam que ele era inconfiável e não conseguiria passar dos 18%.

Pois Bolsonaro fidelizou um contingente que estava à espera de um líder ‘disruptivo’ e antissistema, mesmo que moralmente precário, violento e extremista. E, a partir dali, habilitou-se a ser o candidato que finalmente derrotaria o PT, com Lula preso, e foi o que aconteceu.

A direita que não pretendia ser bolsonarista fechou o nariz e engoliu Bolsonaro, sabendo que consumia coisa estragada. O importante é que havia uma gambiarra que funcionava.

Assim como hoje a direita toda, incluindo os jornalões, sabe que Tarcísio é um combo, que vem com Jair, os filhos, Malafaia (que o patrulhou na fala na Paulista) e toda a estrutura da organização criminosa, assim definida pelo ministro Alexandre de Moraes, que governou e depois tentou o golpe. Grande parte dessa estrutura continuará impune e intacta.

Nesta terça-feira, Folha, Globo e Estadão publicaram editoriais no mesmo tom, lamentando que Tarcísio tenha radicalizado seu discurso. Mas todos se referem ao sujeito como um moderado.

O que significa apenas que todos preferem o autoengano de que torcem por um praticante da moderação na direita. Mesmo sabendo que ele não é nada disso.

Tarcísio é até agora o único nome capaz de enfrentar Lula, e isso é o que importa aos jornalões, à velha direita, a antigos tucanos e aos que ainda se consideram de centro. Não importa se deixou de ser moderado, o que é apenas uma pauta para editoriais.

Mas uma dúvida os atormenta. Com que Tarcísio eles poderão contar, sabendo que, se eleito, será tutelado por seu criador, mesmo que de dentro da cadeia, como fazem alguns chefes do crime organizado?

Globo, Folha e Estadão dão pistas de que, se Tarcísio fingir que voltará a ser um moderado, se dispõem a se submeter à sua liderança, sabendo que estarão sendo subjugados pelo comando maior de um chefão preso.  

  • Imagem gerada em IA a partir de foto de arquivo.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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