
Um mar de indecisos aponta que voto útil pode não ter tanta utilidade assim
O país está em “ponto morto”. Nem mesmo a eleição do próximo domingo foi capaz de mobilizar o eleitorado depois de um ano em que, por conta da pandemia, para grande parte da população, 2020 foi visto da janela. Os problemas se avolumaram e os itens de preocupação são tantos que mal deu tempo de “entrar no clima”, para o pleito. Ninguém teve cabeça para pensar em quem votar – com desemprego, mortes e crianças fora da escola -, a tendência é a de que esta não seja uma eleição de renovação. Será a de deixar como está para ver como é que fica. Ou seja, em muitos municípios do país estima-se que haverá reeleição, uma escolha mais cômoda, segundo o sociólogo e diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, em entrevista ao 247, no programa Giro das 11, conduzido pelo editor Mauro Lopes.
A consequência foi a de um crescimento do índice de indecisos. Entre 40 e 50% dos entrevistados nas pesquisas disseram não ter candidato, não saber em quem votar. Um recorde, na opinião de Coimbra, acostumado a ver a indecisão na casa dos 25%.
Em São Paulo um contingente da ordem de 37% não tem candidato quando a pergunta é para a declaração espontânea do voto. Em Fortaleza, 40%; no Rio, 41%; em Porto Alegre 44%; em Recife, 42%. Para se ter uma ideia da gravidade desse quadro, ele citou a cidade de Santarém, município do Pará, o terceiro mais populoso do estado – atrás somente da capital, Belém e de Ananindeua -, onde a pesquisa apontou que 70% da população não têm candidato. Ele prevê, também, um alto índice de abstenção, por conta do medo demonstrado por 30% dos pesquisados, de ir votar, por conta do contágio. Com um cenário desses as pesquisas ficam comprometidas. Dificilmente elas irão refletir o resultado das urnas, desta vez, sim, verdadeiras caixinhas de surpresa.
Em sendo assim, a opção pelo “voto útil”, que vem sendo receitado em algumas capitais, acaba sendo muito mais lotérica do que prática, para os que buscam tirar a ultradireita do caminho. Em alguns casos a opção pode até ser contraindicada, como por exemplo, no caso do Rio de Janeiro. Há um bloco de eleitores de tendência progressista se organizando em torno do nome da candidata Martha Rocha (PDT), com 11% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa Datafolha, mas nada garante que isto vá funcionar. Até agora o que está claro, pela mesma pesquisa, é a posição de Eduardo Paes (DEM), na frente, com 34% e a rejeição do atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), na casa dos 62%, o que o coloca em posição dificílima, mesmo apresentando 14% das intenções de voto estimulado.
Mergulhar de cabeça no voto útil, para a segunda vaga, abrindo mão da escolha ideológica é uma aventura. Com tamanha indefinição não se pode garantir que o empate técnico entre a candidata do PT, Benedita da Silva, tida como detentora de 8% do eleitorado, segundo a mesma pesquisa, espelhe o quadro real. Quem garante que ela não tem os mesmos 11% de Martha, ou até mais, num universo com tantos indecisos? Tampouco se pode afirmar que a opção por Martha está mesmo em 11% e não os 8% em que aparece Benedita. Há no horizonte dos cariocas um mar de 41% de votos sem dono. Direcioná-los para torná-los úteis pode, na verdade, transformá-los em frustração. Melhor ir na fé.
Resposta estimulada e única, em %
Eduardo Paes (DEM)
34
Crivella (Republicanos)
14
Delegada Martha Rocha (PDT)
11
Benedita da Silva (PT)
8
Luiz Lima (PSL)
5
Renata Souza (PSOL)
4
Bandeira de Mello (Rede)
2
Paulo Messina (MDB)
2
Clarissa Garotinho (Pros)
1
Fred Luz (Novo)
1
Glória Heloiza (PSC)
1
Cyro Garcia (PSTU)
0
Henrique Simonard (PCO)
0
Suêd (PMB)
0
Em branco/nulo/nenhum
14
Não sabe
(Fonte – F. de SP)