Quem Tarcísio pressiona no STF, com carteiraços em nome de Bolsonaro?

12 de julho de 2025, 17:34

O governador do Estado mais poderoso do Brasil levanta o telefone e liga para ministros do Supremo com uma proposta indecorosa. Devolvam o passaporte do meu líder, que vocês pretendem prender como chefe de um golpe, porque ele pode nos salvar da enrascada com Trump.

Foi o que aconteceu. Usaram de novo todos os adjetivos disponíveis para definir a afronta de Tarcísio de Freitas ao STF. A ministra Gleisi Hoffmann definiu a atitude do extremista moderado como algo ‘surreal’

Surreal teria sido se ele tivesse desfilado de sunga e boné do Trump agora, em junho, com três graus negativos, em Gramado, na Serra gaúcha. É mais do que um gesto surreal, atrevido ou desrespeitoso.

É uma demonstração de força que o sujeito pretendia ter ou ainda acha que tem. Não precisa de adjetivo. Vamos para as informações substantivas.

Tarcísio telefonou para ministros do Supremo por achar que poderia assustá-los com a sua ideia. E a pergunta passa a ser essa: por que achou que tinha tanto poder?

A jornalista Monica Bergamo deu o furo dos telefonemas, mas não disse para quem ele ligou. Monica informa apenas que Tarcísio “telefonou para ministros do Supremo com uma proposta considerada surpreendente e esdrúxula”.

E acrescenta que “magistrados consideraram a ideia totalmente fora de propósito”. Que magistrados? Claro que a jornalista não precisa dizer quem são.

Mas fica a dúvida que é muito mais do que uma mera curiosidade. Para quem Tarcísio ligou com uma proposta que, com outros personagens sem tanto poder, poderia levar o proponente para a cadeia?

Com quanto ministros Tarcísio se sentiu à vontade para cometer a petulância de propor a liberação do passaporte e a possível transformação de Bolsonaro em herói nacional? Com dois, com três dos 11 magistrados? Falou só com integrantes da primeira turma, que julga os golpistas e tem cinco ministros? 

Por que Tarcísio teve a petulância de dar os telefonemas? Que intimidade leva um governador a se dirigir a ministros da mais alta Corte com uma ideia que há até bem pouco os brasileiros atribuiriam, como clichê, a republiquetas bananeiras? 

Que juízes ofereceram a Tarcísio a chance de ser mensageiro de uma proposta criminosa? Nunca saberemos. O que importa é que o sujeito ligou e que a informação sobre a ligação foi vazada para a imprensa e virou manchete.

A Corte máxima do país recebe telefonemas do mandalete de Bolsonaro e do mafioso Donald Trump, como se fosse normal ou apenas esdrúxulo, a partir do ponto de vista de que ele tem a pré-autoridade de quem pretende um dia governar o país.

Esse é o seu carteiraço: me tratem bem hoje, porque amanhã posso tratá-los mal, se tivermos o controle total do governo e do Congresso e eu for o novo preferido de Trump. Esse é Tarcísio de Freitas, o governador terrivelmente capacho, que sabe ou sabia para quem ligar no Supremo.

  • Imagem de Tarcísio de Freitas. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasiç

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.