
Tarcísio posa de esfinge, mas é só um político medíocre, que deixou cair suas bolas num malabares na Faria Lima
Por trás da fachada técnica e da retórica de gestor eficiente – que não é -, o governador carioca de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por hora no Republicanos, não passa de um malabarista desastrado de semáforo, que, ao invés de tentar uma acrobacia com as bolas nas mãos, sem nenhuma técnica, acaba arremessando tudo para o alto, sem coordenação. É um trapalhão da política, fazendo cara de macho alfa, cabelo ralo já grisalho, rosto inchado e cheio de acnes, que é capaz de frases como dizer que pobres não sabem o que é direita e esquerda na política – declaração feita em evento do banco BTG Pactual. Como governante é reacionário, como ator político é um desastre, mas tenta driblar a famiglia Bolsonaro e se viabilizar como candidato a presidente em 2026, diante da escassez de nomes. Mas segue inviabilizando-se com gestos imbecis como, logo após o país ser entubado com um tarifaço de de 50% por Trump – ferrando especialmente os exportadores de seu estado -, posar, nas redes, com o boné de campanha do “imperador” norte-americano, com o slogan “Make America Great Again”. Aliás, só assim pra ele usar um boné vermelho, cor do partido Republicano, representado, não atoa, por um burrinho.
Tarcísio se aninhou no coração político-econômico do país com o apoio decisivo de Jair Bolsonaro em 2022. Era como se fosse um substrato de direita, uma segunda geração do bolsonarismo, surfando na onda extremista de parte da população. À frente do Ministério da Infraestrutura, de 2019 a 2022, ganhou prestígio. Mas com o ex-chefe a um passo do cadafalso, o sobrevivente focou na carreira solo, para irritação do clã Bolsonaro, que o odeia por não defender a “anistia” do comedor de pão com leite codensado. Eduardo Bolsonaro, o deputado “exilado” numa mansão no Texas, e que segue defendendo as medidas de Trump contra o Brasil – para ele, contra Lula -, inclusive com visitas à Casa Branca, gostaria de ganhar a indicação do pai inelegível para a candidatura presidencial, mas não contava com o Centrão fechar com Tarcísio. Num gesto calculado, Tarcísio chegou a sugerir a que o Supremo liberasse Bolsonaro a ir para os Estados Unidos para “negociar diretamente” com o parça Trump uma “tributum pacis”, de onde jamais voltaria – o que agora está lhe custando o papel adicional de conspirador. E crápula, claro. Tentou limpar a área, mas cagou mais a própria casinha. Como comentou Leonardo Sakamato, no UOL, a aposta de Eduardo é que Trump tem que manter a “faca no pescoço” do Brasil até Bolsonaro ser “liberado” do julgamento no STF, coisa que não vai acontecer. Bolsonaro vai ser julgado e condenado por tentativa de golpe de estado.
Nos últimos dias, Bolsonaro disse que conversou e pacificou o clima entre seu filho Eduardo e o governador Tarcísio de Freitas, mas a essa altura já é a “A Guerra dos Roses” – quem lembra do filme? -, qualquer paz dura até a próxima luta por seus espaços de poder. Como no filme, ambos querem a casa e o seu espaço, e nenhum deles está disposto a ceder. Segundo pessoas próximas, o “técnico” e “político moderado” Tarcísio seguirá seu timing político, no caminho até o Planalto – as últimas pesquisas eleitorais, que o mostram como único capaz de emparelhar com Lula num eventual segundo turno, encorajam isso – , nem que para isso precise seguir sabotando o próprio padrinho nas posturas que afrontam os interesses econômicos do estado que governa.
Tarcísio nunca escondeu que posa, no fundo, de outsider político – , um “engenheiro”, desinteressado dos negócios mundanos, no comando da maior máquina estadual do país – e tenta tirar vantagem disso, como outros já o fizeram. Poderia ser até personal trainer ou terapeuta holístico que não faria diferença. Tarcísio é político raíz – tão engenheiro quanto Leonel Brizola, que manteve o diploma, mas fez sua trajetória política independente do canudo. Desde o início de seu mandato, Tarcísio tem trabalhado meticulosamente para se descolar de Bolsonaro e se projetar como uma alternativa de “direita racional” para 2026. O problema é que essa tentativa de moderação colide com seu próprio histórico e com a base que o elegeu. Assim, Tarcísio tenta se apresentar como uma terceira via dentro da direita, mas o espaço que almeja está atualmente ocupado – por Bolsonaro e sua família. A ruptura é latente e caminha para o inevitável: ou Tarcísio se submete à hierarquia familiar, ou assume o risco de se tornar traidor aos olhos do eleitorado bolsonarista. Ou não.
O curioso é que, ao mirar no futuro político, Tarcísio arrisca perder apoio tanto da direita raiz quanto dos setores moderados que desconfiam de seu passado ideológico. Ao querer agradar dois mundos, corre o risco de não conquistar nenhum. Tarcísio de Freitas caminha sobre uma corda bamba política. Sua tentativa de se transformar em alternativa nacional para 2026 exige um equilíbrio delicado entre a fidelidade ao bolsonarismo e o distanciamento que agrada ao centro. Mas, ao apoiar pautas como o tarifaço de Trump, ele demonstra que ainda não conseguiu romper com a lógica do seguidismo ideológico. A ambição presidencial é legítima – mas exige mais do que marketing e oportunismo. Requer coragem para romper com contradições, clareza sobre quem se pretende representar e responsabilidade com o cargo que se ocupa. Até agora, Tarcísio tem mais demonstrado hesitação do que liderança. E São Paulo – assim como o Brasil – não pode ser mais palco para ensaios de vaidade política. Chega de falsos profetas.
- Imagem gerada a partir de IA