Folha entrevista Bannon e elogia o fascismo, mas não aceita que o governo combata fake news

3 de abril de 2023, 14:17

A Folha ficou incomodada com a decisão do governo de lançar um site para combater a mentira e a desinformação em abordagens sobre o setor público.

Para a Folha e boa parte das corporações da grande mídia, o governo não está habilitado a apontar o que é falso e verdadeiro, por não dispor de ferramentas pretensamente científicas.

É apenas mais uma manifestação de arrogância. Por que o jornalismo teria a exclusividade na luta contra as fake news? Por que teria a hegemonia?

Por que os donos das empresas e certos jornalistas se acham acima de todos os profissionais de qualquer outra área como tutores da informação séria?

O site que incomoda a grande mídia (gov.br/brasilcontrafake) foi lançado pelo ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação, há uma semana.

Por que o governo não pode dizer que uma notícia armada sobre o setor público é mentirosa? Por que o governo não pode defender a população?

A Folha teme que críticas sejam consideradas ataques às suas mentiras? Teme invertidas do governo quando recorre às mentiras de mafiosos internacionais, como Steve Bannon, para atacar Lula?

A Folha, que diz combater fake news, abriu espaço para que o maior propagador de mentiras do mundo dissesse que a eleição de Lula foi fraudada.

Se o site do governo informasse que as informações do gângster Bannon, na criminosa entrevista à Folha na semana passada, não eram verdadeiras, o que a Folha poderia dizer?

Poderia reagir alegando que o governo não pode se intrometer no que os jornais fazem?

O que a Folha diria se o governo tivesse citado no site, como atentado à verdade, o editorial publicado pela mesma Folha em que o grupo informa que o bolsonarismo é uma alternativa séria de oposição no Brasil?

O ombudsdman da própria Folha, José Henrique Mariante, escreveu nesse domingo que, por um erro da redação, o editorial foi publicado no jornal online com uma versão anterior “com uma conclusão diferente da aprovada para a edição impressa”.

Mariante escreve:

“A conclusão diferente, que as redes sociais salvaram e bombardearam de volta ao ombudsman, é a de que “o bolsonarismo pode dar vigor à política brasileira”.

O que o ombudsman não escreve é que esse trecho final do editorial foi mantido:

“O bolsonarismo até poderia, se abandonasse a violência e o autoritarismo, liderar uma oposição saudável ao PT. Esse não é, infelizmente, o desfecho mais provável”.

A Folha manteve a tese segundo a qual o bolsonarismo, cuja essência é o ódio, a violência e a arbitrariedade, poderia ser aceito se abandonasse o que é.

Com outro detalhe. No final do texto, a Folha informa que esse, infelizmente, não é o desfecho “mais provável”.

Que desfecho? Como mais provável? O que a Folha deveria concluir é que o bolsonarismo não pode ser considerado nunca uma oposição saudável. E o jornal teria de substituir a palavra improvável por impossível.

O que essa Folha, que faz malabarismos para dizer que apoia a direita acomodada na extrema direita e que produz manchetes diárias contra Lula, teme das ações do governo no combate às fake news?

A Folha sabe que a defesa do bolsonarismo como algo que pode ser saudável é uma fake news.

É como dizer, em meio à pandemia, que o negacionismo, se não fosse o que é, seria uma alternativa saudável à ciência e à vacina.

O certo é que os donos e certos jornalistas das corporações negacionistas se consideram acima de julgamentos e temem que um site do governo, para auxiliar no combate às mentiras, possa atingir suas certezas e seus negócios.

As corporações não podem ter a pretensão de que são as únicas com prerrogativas para identificar o que é falso e verdadeiro.

A verdade da Folha que faz harmonização bolsonarista está cada vez mais distante da verdade que interessa, não ao governo, mas à maioria da população não-extremista e não-bolsonarista.

https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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