A ascensão do AuriVerde Brasil, canal de Bauru, nicho bolsonarista – inclusive dos “foragidos” – e que ajuda a confinar o gado

4 de junho de 2025, 02:50

A deputada Carla Zambelli (PL-SP), a segunda foragida do antigo bunker bolsonarista para o exterior, não teve dúvidas – seguindo os rastros do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Mal recuperou o passaporte – quem devolveu o documento dela? Quero nomes -, escafedeu-se para um “tratamento médico” na Europa, o novo exílio de quem sabe que vai em cana. Eduardo preferiu Arlington, no Texas – bang! bang!. Mal pousou na Europa – em endereço incerto, mas a decoração de fundo é linda – embargou sua voz num veículo que só os bolsonstistas devem conhecer. Mais do que os ratos pulando do navio, o ratão logo pula junto, o “rádio-transmissor” que consideram hoje confiável para se “comunicar” com seu gado é o canal AuriVerde Brasil, no Youtube.

Carla Zambelli, na rádio Auri Verde, logo depois de um longo anuncio para ereção: “Quem está no Brasil hoje teme omitir suas opiniões. Quero voltar a a ser a Carla ativista. Estou muito feliz. Meu tratamento não é médico, é destravar o que eu sinto”. Imagem: Canal AuriVerde, de Bauru.

Entreposto fascista, Bauru (SP) – mais conhecida por um sanduíche que leva o mesmo nome – é um desses nichos bolsonaristas, onde o ex-presidente teve 61,04% dos votos em 2022, e a prefeita Suéllen Rosim (PSD), eleita com o seu apoio, está agora sendo caçada pela Polícia Civil por desviar doações do Fundo Social para uma igreja ligada à sua família, o Ministério Público Produzindo Esperança (MIP). Engraçado as siglas MP -as mesmas de Ministério Público – na igreja dela.

Nesse cenário de faroeste bovino, prospera uma “rádio” do esgoto bolsonarista, que já tem 2,27 milhões de inscritos, 7 mil vídeos postados, comandada pelo diretor e também apresentador Alexandre Pitolli, do programa News da Manhã Brasil. Amigo pessoal de Bolsonaro, e seguidor de suas pautas negacionistas – inclusive na pandemia. Foi na AuriVerde que Zambelli desabafou, para dizer que estava em sua resistência do exterior – mais uma a escapar-, aliás, reparem, confessou que não está doente. “Meu tratamento não é médico, é destravar o que eu sinto”, disse, na cara-de-pau de praxe. Está destravada, pode voltar.

Alexandre Garcia, Rodrigo Constantino, Didi Red Pill, Jorge Serrão, Cristina Graemi, Tomé Abduch – a maioria deles expulsos da Jovem Pan – são alguns dos vermes que estão sempre na programação do canal AuriVerde Brasil. São todos vergonhas do jornalismo. A Auriverde dá espaço a influenciadores que são alvo do STF (Supremo Tribunal Federal). No ano passado, a rádio entrevistou os jornalistas Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, foragidos no exterior. Depois, entrevistou Paulo Figueiredo, investigado por suspeita de apoiar uma tentativa de golpe pela cúpula do governo Bolsonaro. Eduardo e Zambelli são pautas obrigatórias.

Relação umbilical: Pittoli (segundo à direita) com a ex-primeira-dama Michelle e políticos bolsonaristas: participam na Marcha Pró-Vida, em Washington. Instagram.
Alexandre Pittoli, diretor da Auriverde Brasil, com Jair Bolsonaro em São Paulo, bons amigos. Reprodução: Facebook da Rádio Auriverde.

Auriverde – ou simplesmente ouro e verde – remete, originalmente, a uma música composta por Castro Alves, trecho de “Navio Negreiro”. Esta é uma das estrofes do famoso poema onde o autor revela em grande parte sua obra, de egocentrismo patriótico que marcou a geração ultra-romântica.

“Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança”.

No mundo real, hoje, trata-se de uma emissora de rádio de Bauru, fundada em 1956, que tinha uma programação local focada em transmissões esportivas e prestação de serviços. Em 2017, a rádio se juntou à Jovem Pan News e migrou da frequência AM para FM. A parceria com a Pan durou seis anos. O YouTube decidiu, em novembro de 2022, desmonetizar todos os canais da Jovem Pan por fake news. Em junho de 2023, o MPF pediu o cancelamento das outorgas de rádio da Jovem Pan, por divulgação de desinformação no período eleitoral. Foi um rebu. A Auriverde fez pressão para que o assunto fosse pautado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara durante a presidência da deputada Caroline De Toni (PL-SC), e só se ouviu a ladainha falsa sobre “liberdade de expressão” – ainda que isso custe vidas.

Pittoli em audiência na Comissão de Comunicação e Direito Digital do Senado, em agosto de 2024. Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Com as apurações das eleições municipais em andamento, a emissora também lançou desconfiança sobre as urnas no dia do segundo turno das eleições. A Aurivede afirma que comentaristas trataram de “situações incomuns” e expuseram dúvidas. Se ferraram.

Pittoli fez gesto de “50”, com as mãos, para sugerir que urnas poderiam favorecer Boulos.

Fato é que hoje a AuriVerde Brasil tornou-se uma das principais plataformas do ex-presidente Jair Bolsonaro, seus seguidores e o gado que o rumina. Opera no dial FM, na frequência 97,5 MHz, originada da migração da antiga AM 760 kHz. Como uma pequena emissora de rádio se tornou porta-voz do bolsonarismo é um pouco discutir como esse país se tornou esse lixo midiático, na casa das pessoas, com redes sociais e canais de bate-papo, com seus muitos grupos, como midia reborn: o berço para fake news, com centenas de veículos do interior ordenhando diariamente suas mentiras, e as redes sociais, na carona, espalhando o feno pelo gado.

Créditos já mencionados.

Escrito por:

Jornalista há 40 anos, já foi repórter e editor nos maiores veículos do país - O Globo, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, Istoé - assessor de imprensa, analista sênior de informações e/ou ex-diretor de agências de comunicação corporativa - FSB Comunicação, Santafé Ideias, entre outras -, ex-professor de Jornalismo da PUC-RJ, trabalhou no Senado Federal e na Prefeitura do Rio. Já foi assíduo colaborador dos sites Os Divergentes e DCM. E criador, com meu irmão Paulo Henrique, da revista cultural Tablado, que durou 20 anos a acabou na pandemia. Premiado, entre outros, com Prêmio Esso, Embratel e Herzog. E, PRINCIPALMENTE, pai do Bruno e da Gabriela, orgulhos da minha vida.