“Bolsonaro se dedica a expandir a base da velha direita e do fascismo no Congresso, para controlar todas as instituições”, escreve Moisés Mendes

A nova missão do chefe do golpe

7 de maio de 2025, 20:19

A Câmara terá mais 18 deputados, se o projeto que aumenta o número de cadeiras avançar no Senado e a direita conseguir o que deseja. Dois terços dessas cadeiras, pelo que tem acontecido nas últimas eleições, terão ocupantes do conservadorismo e do fascismo.

Isso quer dizer que direita e extrema direita poderão contar com pelo menos mais 12 deputados, numa Câmara em que essa é a proporção atual, de dois por um em relação às esquerdas, entre os 513 parlamentares. Com a ampliação, serão 531 congressistas.

A matemática é de quinta série. Quanto mais eles mesmos aumentarem o número de deputados, com o argumento do aumento da população, maior será o alargamento, na mesma proporção e, claro, em números absolutos, da base da direita. Com mais cadeiras, temos mais representantes de bois, grileiros, milicianos, Bíblias e militares.

Já o Senado tem 81 cadeiras e não muda nada, porque todas as unidades da federação têm três representantes. Na eleição de 2026, acontecerá a escolha de dois terços, ou 54 senadores. A direita já fez as contas de que irá obter maioria de senadores depois de 2026.

Alguns cálculos mais otimistas mostram, por exemplo, a possibilidade de a direita (e com a maioria da extrema direita) eleger todos os seis senadores do Sul. É improvável? Não é.

A direita já teve no Senado nomes da elite da política, no tempo em que o suporte à ditadura era assegurado por Marco Maciel, Magalhães Pinto, Daniel Krieger, Petrônio Portela, Tarso Dutra, Gustavo Capanema, Teotônio Vilela (que depois se voltaria contra os generais), Virgílio Távora, João Calmon, Jarbas Passarinho.

Hoje, o Senado tem Cleitinho, Mourão, Damares, Doutora Eudócia, Magno Malta, Flavio Bolsonaro, Sergio Moro, Romário, Jorge Seif, Marcos do Val e o Astronauta. Poderá agregar a essa turma nomes como Coronel Zucco, Carol de Toni, Julia Zanatta, Michelle Bolsonaro, Guilherme Derrite, Onyx Lorenzoni, Eduardo Bolsonaro.

Enquanto isso, Bolsonaro se levanta e anda e vai ao comício pela anistia, que foi um fracasso em Brasília. A extrema direita bate o bumbo nas ruas, liderada por um sujeito sem condições físicas de receber um abraço.

Mas Bolsonaro tem uma missão. Levou quase cem deputados do PL à Câmara em 2022 e só ele pode assegurar a expansão da direita no Congresso. Bolsonaro planeja, como compensação que vale ouro, se perder de novo o governo, ter uma base ainda maior na Câmara e no Senado.

A direita, que hoje perderia a eleição para Lula, em todos os cenários de pesquisas sérias, pode transferir seus esforços para a eleição para as duas casas legislativas.

A partir do alargamento dessa base no parlamento, a direita fortalecida, e não só a bolsonarista, pode dominar todos os movimentos da política, achacando ainda mais o governo, desviando verbas das emendas sem medo de represálias e acossando Alexandre de Moraes.

Bolsonaro, que não sabe o que será da sua vida na semana que vem, insiste em fingir que ainda pode concorrer. Mas deseja mesmo criar condições para que a velha e a nova direitas tomem conta do país com mais deputados e senadores que terão essa dívida com ele para sempre.

A estratégia de Bolsonaro é seguir atuando como um líder que orienta movimentos, como fez, como último gesto no poder, no golpe fracassado. Sua ambição é assustadora, porque é factível: atacar de novo as bases da democracia usando tudo o que a democracia oferece. Agora via Congresso.

E sem necessariamente chegar ao governo, como Trump conseguiu. Mas elegendo os que vão controlar o poder executivo e todas as instituições, a partir da Câmara e do Senado. 2026 já nos espera na esquina.

Foto: Adriano Machado/Reuters
Fonte: Brasil 247

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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