
Eduardo compara o pai a um chefão do tráfico
Eduardo Bolsonaro é o general Heleno da família. Em entrevista desastrada a um canal bolsonarista, o filho que foi morar nos Estados Unidos poderia ter respondido com apenas sim ou não, mas decidiu elocubrar sobre a possibilidade da morte do pai e se saiu com essa:
“A gente tem que, entre aspas, aproveitar enquanto Bolsonaro está vivo, porque depois que ele morrer eu não sei o que vai ser da direita. Vai ser igual o dono da boca, o dono da favela quando morre, o dono do tráfico de drogas lá. Vai ser o gerente brigando com o fogueteiro, que vai brigar com outro, vai ser tiroteio para tudo que é lado, você vai ver só”.
O pai dele é fixado em analogias rasas e grotescas, geralmente associando interesses e laços políticos a namoro, casamento e sexo. Pois o filho decidiu que a melhor figura para definir a força do pai é a de um chefão do tráfico de drogas.
Poderia ter dito que, quando morre um líder político do tamanho de um Getúlio, um Kennedy, um Perón ou um Tancredo, as forças que gravitavam em torno dele se desorientam, se fracionam e se enfrentam pelo poder que ficou sem dono. É assim em toda parte, desde a Roma Antiga.
Mas preferiu dizer que o ambiente imaginado com a morte do pai seria o mesmo enfrentado na boca, quando os traficantes menores se matam pela ocupação do vazio deixado pelo grande chefe.
Na boca da extrema direita, Eduardo imagina uma mortandade entre fogueteiros e gerentes de Bolsonaro, todos assemelhados às figuras que ele usa para a comparação. Seria tiroteio pra todo lado.
A morte de Bolsonaro, que ele coloca entre aspas, surgiu na conversa com o canal Estúdio 5° Elemento, quando Eduardo mandava indiretas a Tarcísio de Freitas. Porque o governador já teria abandonado seu mentor para tentar viabilizar o projeto para 2026 à presidência.
Eduardo referiu-se a Tarcísio, sem citar seu nome, como expressão de uma “direita permitida” pela velha direita, ou seja, por todos os setores que expressam o que desejam via Globo, Folha, Estadão e Faria Lima. O establishment, disse ele, seguiria dando as cartas.
Sem o dono da boca, no cenário imaginado por Eduardo, até um Zema se atreveria a se adonar do espólio do morto. Mas foi na direção de Tarcísio, e não dos outros Zés Pequenos, que ele disparou os tiros de alerta antes do fim do chefão.
Referiu-se a quem o mercado anda elogiando demais e poderia ter dito, mas não disse, que a bajulação parte também da grande imprensa que Bolsonaro odeia. Eduardo depreciou quem já enterrou Bolsonaro:
“Então, o que pode ocorrer é uma torcida para que o Bolsonaro esteja fora do jogo, para que isso abra caminho para essa, entre aspas, nova direita. Mas acho que, cada vez mais, você vai depurando”.
O filho sabe que a nova direita ou novo bolsonarismo, que seria esse novo velho tráfico, finge que chora a morte do chefe, mas já trabalha para ficar bem com o mercado à espera da mercadoria.
É uma clientela bacana, que Eduardo conhece, mesmo que pareça esnobar, viciada em tudo o que foi oferecido em quatro anos de poder bolsonarista, com drogas liberais da melhor qualidade.
A clientela do livre mercado não quer saber quem é o dono do ponto, porque o importante é continuar tendo droga da boa e por bom preço. Eduardo já considera o pai quase morto, mesmo que entre aspas. O tiroteio corre solto na boca.
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