Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Haja pulmão para o momento!

25 de março de 2023, 17:56

O comunicado da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, nos dá conta de que a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à China, cercada de boas expectativas, não apenas do ponto de vista comercial, mas também do diálogo que se estabeleceria, na região, pela paz entre a Rússia e Ucrânia, além de outros acordos na área de tecnologia, está cancelada. 

Em boa hora. Embora se lamente o motivo – Lula foi acometido pela gripe influenza A -, quando tentam imobilizar o seu governo, e que a grande mídia restabelece uma cobertura de guerra, como fez no passado recentíssimo, é prudente que o presidente esteja atento e próximo aos fatos. 

De acordo com o texto oficial, o cancelamento se deu: “Em função de orientação médica”, o que foi imediatamente repassado para o governo da China, com a reiteração do desejo de marcar a visita em nova data”.

O mal que acomete Lula, é nos pulmões, como fica claro em nota da Dra. Ana Helena Germoglio, que assina o documento: “O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu entrada no Hospital Sirio-Libanês – unidade Brasília, em 23/3/2023 com sintomas gripais. Após avaliação clínica, foi feito diagnóstico de broncopneumonia bacteriana e viral por influenza A, sendo iniciado tratamento.” 

Ainda assim, dois dos nobres colegas jornalistas de veículos de projeção tentam, pela linha da insinuação, dizer que a emoção de Lula – demonstrada desde a sua primeira posse, quando lembrou que aquele era o seu segundo diploma, o primeiro foi de torneiro mecânico, e naquele estava escrito: Presidente da República Federativa do Brasil -, que ele chora por desequilíbrio. 

Lula se emociona como todo ser humano, sem se impor freios, censura ou mesmo o estigma de que “homem não chora”. Chora ao lembrar que passou fome na infância e enfrentou enchentes que levavam para dentro de sua casa, um metro e meio de água. Chora ao falar da mãe, D. Lindu, que lhe ensinou a ser forte, mas também deu espaço para que crescesse sensível e preocupado com as questões sociais de seu país. Chora ao lembrar do neto, Arthur, que por pouco teria sido proibido por Sergio Moro e sua turma, de velar, e do irmão, Vavá, do qual não pôde se despedir. Tudo isto, há muito pouco tempo. 

Por muito menos, depois de uma demissão por racismo explícito, o jornalista que ousou dizer que Lula está “desequilibrado”, precisou de um período sabático, até se reequilibrar e assumir novas funções no jornalismo. Da moça, não se tem muita informação, mas o suficiente para saber que é mãe e avó. Como reagiria com tantas perdas, privada de sua liberdade injustamente? Como retornaria do fundo de uma saleta de 2 X 2 e todas essas desditas, depois de ter frequentado palácios atapetados, e ser recebido com honras oficiais? No caso de Lula, não pelo luxo, mas pelo contraste, pelo que a injustiça lhe tirou e pelos constrangimentos que lhe foram impostos. 

Esse passado está muito recente e a emoção de ter conseguido uma vitória especialíssima, ainda não foi totalmente digerida, justamente porque Lula é um homem público, sensível e sobre o qual todos os olhos se voltam. Os magros e os “gordos”, se é que me entendem…

A cada retorno dele ou do seu partido ao governo, o cerco preconceituoso, conservador e elitista se fecha, apertando o nó de sua gravata até o limite do suportável. Não por acaso o mal que lhe acometeu foi nos pulmões. Lula está sem ar. O jogo, se antes foi pelo Judiciário, agora é pelas vias econômicas. Lhe trancam o cofre, lhe congelam as pautas e as iniciativas. Lhe impõem chantagens. Sim, seu Lira, é disso que se trata. Um dia a sua conta chega… Não se joga com o destino de milhões de miseráveis impunemente, visando apenas o poder pelo poder. 

É isso que Lula tem para hoje. Um presidente da Câmara que tomou para si a pauta do governo – chutando para o lixo a regra constitucional de 1988, que rege as medidas provisórias -, um presidente do Banco Central que manda às favas o bom senso, desde que vigore as leis do mercado financeiro a que serve. Um presidente da Petrobras que pisa em ovos para não quebrar regras estabelecidas pelo antecessor, ao mesmo tempo que finge atender a uma nova política. Um estatuto amarrado, cheio de armadilhas impostas por Paulo Guedes, com o intuito de não permitir que fosse desfeita a falcatrua da venda da Eletrobras, na mão de um trio de espertalhões que expropria o povo e joga tênis na Suíça. Haja pulmão! 

E houve, ainda, nesta semana que se encerrou, a marola tentando ressuscitar um personagem insignificante do cenário político: Sergio Moro, o cavernoso, que começa a ser novamente desmascarado. No dia de hoje, o site Conjur veio a público com esclarecimentos importantes.  “Justiça Federal do Paraná não é competente para conduzir a investigação sobre o suposto plano para sequestrar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Como os delitos em averiguação não seriam praticados devido ao fato de ele ser parlamentar, nem em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, o processo cabe à Justiça estadual.”

Tal como em tempos de Lava-Jato, os dados não batem, o cheiro não é bom. A velha mídia que até então costeou o alambrado, tentando ignorar o que nem o ministro Gilmar Mendes e os seus colegas de STF conseguiram (vejam o voto da ministra Carmem Lúcia), não poderá mais fingir que não se deu conta dos dados da Vaza-Jato. Terá que atravessar a ponte para o passado e rever posição sobre os fatos que vêm à luz com a rapidez que o G-5 permite. Sim, ou metem a mão nessa lama e passam a limpo a história recente, ou se perpetuarão de golpe em golpe, num triste papel de coadjuvantes da desgraça nacional. 

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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