
Pesquisa mostra apenas o Brasil que passa na TV
Contratada pela Genial Investimentos, a empresa Quaest divulgou nova pesquisa nesta quarta-feira (04/06) em que entrevistou presencialmente 2.004 brasileiros de 16 anos ou mais entre 29 de maio e 1° de junho. Segundo ressalta a empresa, a pesquisa tem índice de confiança de 95% e não trouxe boa notícia para o governo.
Os números colhidos apontam para a continuidade da trajetória de queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda que em ritmo mais lento, e os que desaprovam o governo oscilaram de 56% em março para 57%, a maior marca desde o início da atual gestão. Já a taxa dos que aprovam o desempenho do Executivo federal variou de 41% para 40%. Surpresa? Nenhuma. Susto? Tampouco. A disparidade entre os índices econômicos e a percepção do grande público, do trabalho do governo, é um sintoma da modernidade, assombrada pelo tsunami reacionário.
Todos nós nos lembramos do que houve nos Estados Unidos recentemente. Uma onda ultradireitista levou o país a acreditar, a partir da força da grana que “ergue e destrói coisas belas”, (como cantou Caetano), que Donald Trump era a melhor opção para o país, ainda que Joe Biden, tenha conseguido reerguer a economia e reduzir a inflação. Não é mais a economia, estúpidos. Agora é o discurso – ou aquela palavrinha que me recuso a usar -, de preferência disseminado nas redes das big techs, dos mega empresários, que tal como acontece nos desfiles das grandes grifes, disputaram a primeira fila na posse de Trump. Sim, ele chegou lá, empurrado por esses senhores que agora moldam o mundo, independente do desempenho do governo anterior.
Por aqui o que se vai delineando é o mesmo jogo de 2018, quando os movimentos inaugurados em junho de 2013 – conforme artigo de Leonardo Attuch, nesse portal: https://www.brasil247.com/blog/o-8-de-janeiro-de-2023-e-o-filho-bastardo-de-junho-de-2013-8axsgykz -, apontava na direção do então candidato pelo PSDB, Geral do Alckimin, na época o representante da “terceira via”. Como o mundo capota, e não apenas gira, quis o destino que Alckmin viesse a aportar na chapa vencedora de 2022, ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva e tudo vai muito bem, obrigada. Geraldo Alckmin surpreendeu como vice e Lula hoje o chama de “companheiro Alckmin”, dado o nível de camaradagem entre ambos.
Como se sabe, em 2018 Lula foi tirado do pleito por um twitte escrito pelo Alto Comando do Exército (liderado pelo general Eduardo Villas Boas) e, em seu lugar, na urna eletrônica, foi colocado o nome de Fernando Haddad. Embalados por uma mídia alinhada com o mercado financeiro e distante da realidade do país, os ecos de 2013 aportaram tão fortes no ano da disputa, que os efeitos dos editoriais e matérias acabaram por parir não a vitória da terceira via, mas a de um candidato fascista – com direito à slogan reproduzido e tudo. E assim amargamos quatro anos de horror, com aquele que se tornou inelegível.
E o que isso tem a ver com a pesquisa da Quaest, e com a eleição estadunidense? Tudo. Enquanto lá, as big techs trataram de fazer o trabalho sujo do convencimento de que, apesar do que se havia visto de Trump, ele era “o cara” do momento, aqui a mídia, esquecida de tudo que passou – sim, eles também tiveram a sua cota de desaforos -, volta à carga sobre Lula. O país que passa na TV e é mostrado em alguns grupos nas redes não é o país que se vê ao vivo, nos encontros de Lula com o povo, e nos indicadores. Pouco importa se o desemprego de 6,6% é a menor taxa para o trimestre desde o início da série histórica, em 2012. Pouco importa se o rendimento cresce 3,2% em um ano. E muito menos importa se o PIB do trimestre foi de 1,4. “Ninguém come PIB”, repetem alguns analistas, virando a pobre Conceição Tavares do avesso, para uso ao bel prazer. Estivesse por aí e ela passaria em todos uma “espinafração”, termo que adorava usar.
O resultado é que, de novo, da maneira mais irresponsável com a democracia, porque é disso que se trata, a mídia volta a se alinhar com o mercado e os altos interesses da elite e faz carga sobre um pretenso e ainda não decidido candidato, Tarcísio de Freitas, e agora já dá mostras de que embarcará ou irá tolerar, o filhote de cruz credo, do inelegível, Flávio Bolsonaro, o “menos radical”!
A pesquisa até tenta atenuar o que vem abaixo, com a seguinte explicação: “Trata-se de um cenário de estabilidade em relação ao de três meses atrás, considerando a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, mas que ajuda a prolongar um ciclo de deterioração da imagem do governo, que começou a se revelar nas pesquisas há quase um ano. São cinco rodadas seguidas de escalada do índice de desaprovação, desde julho de 2024”. Só falta terminar o parágrafo com um “Huhuuu”.
A pesquisa falseia com a verdade? Não. Devem ser esses os dados que colheram da boca dos leitores nas ruas. Não é possível ter cenário diferente, quando diariamente as “manchetes” são do tipo: “MapBiomas vê avanço no desmatamento, mas alerta para retrocessos”. Já sei. O problema do Lula são as adversativas…
E assim, de mas, porém, todavia, contudo, vamos traçando o rumo para o retorno dos que não foram, porque eles estão sempre ali, à espreita. E aí, surgem nas pesquisas questões como esta: “Hoje também há mais brasileiros que acham o atual governo “pior” que o anterior, de Jair Bolsonaro (PL). São 44% os que compartilham dessa avaliação, contra 40% que consideram a atual gestão “melhor”, e 13% que veem os dois governos como “iguais”. Já na comparação com as duas passagens anteriores de Lula pelo Planalto, a maior parte da população (56%) considera que o desempenho do petista está inferior agora”. Boa mesmo era a fase do negacionismo, das 700 mil mortes, dos sete anos sem reajuste do salário, da fila do osso…
E o erro não necessariamente está nas pesquisas. Elas são apenas o produto sujo do serviço feito diariamente na edição das laboriosas manchetes. Desde que se ouviu falar que jornalistas precisam ter espírito crítico, que os da mídia tradicional incorporaram o espírito de porco. Consideram que atacar o governo de plantão é seguir a cartilha, já obsoleta, como o diploma, cancelado pelo ministro Gilmar Mendes. Diploma? Para quê? Basta ter curso intensivo de alienação das desigualdades desse Brasil.
Imagem gerada em IA