Tarcísio é desafiado a ser o Bolsonaro sem tornozeleira

18 de julho de 2025, 12:00

Bolsonaro é um presidiário de pijama, Eduardo está perto de um surto e o bolsonarismo em desalento se enfia onde houver um buraco. Seria a hora de Tarcísio de Freitas dizer: deixa comigo.

O governador tem fatos e sinais novos para, se tiver coragem, seguir em frente e assumir a bronca de 2026. Um dos sinais está na última pesquisa Genial/Quaest com intenção de voto. 

Confirmou-se o que um trainee da Genial/Quaest poderia prever. Tarcísio não depende tanto das bases mais inflexíveis do bolsonarismo para manter a ambição de enfrentar Lula no ano que vem.

Mas essa vantagem em relação a Michelle e Eduardo, como mostra a pesquisa, pode colocá-lo mais dentro de um dilema do que facilitar sua vida.

Lula bate todos no segundo turno: 43% a 36% contra Michelle, 43% a 33% contra Eduardo, 42% a 33% contra Zema e Caiado, 41% a 36% contra Ratinho e Eduardo Leite e 41% a 37% contra Tarcísio e Bolsonaro.

O trainee diria que, numa olhada rápida, Lula mantém de 41% a 43% contra todos e que a direita está na faixa dos 33% a 37%, o que parece quase tudo a mesma coisa. 

O trainee diria mais: se tirassem Michelle e Eduardo e os outros que hoje não têm chances de chegar ao segundo turno e colocassem outros nomes, os números de qualquer figura da direita seriam semelhantes. Talvez até com Damares no lugar de Eduardo Leite. Daria algo entre 33% e 37% para Damares.

O que significa que é sempre Lula contra eles, seja quem for o candidato, porque quase todos se parecem. Menos Tarcísio, que é hoje, no conjunto de fatores que definem apostas, o nome forte da direita que é de centro, de meia-direita e de extrema direita. 

Não tem como não ser, como governador de São Paulo, pela imposição como nome nacional e pelo apoio da velha direita, mesmo que nos últimos dias esse seja um apoio sempre questionador das suas posições pró-Trump.

E agora vamos aos dados que provam o que o trainee esperto pode ter dito aos chefes. O bolsonarismo desistiu de Bolsonaro, muito antes da tornozeleira, mesmo que ele apareça com 37% no segundo turno na Quaest. 

O que importa é esse dado, que comprova o desprezo pelo líder avariado: para 62% dos bolsonaristas ouvidos, Bolsonaro deve parar com a história de que é candidato. Que salte fora e indique um nome.

Para 33% deles, Bolsonaro deveria apoiar Michelle em 2026, para outros 22% o escolhido deveria ser Eduardo e, por último, para 20%, Tarcísio mereceria a bênção do líder. 

Tarcísio, o lanterninha dos três, está 13 pontos atrás de Michelle. Mas, mesmo assim, sem ter a fidelização da base da extrema direita, sabe-se que é ele quem se apresenta como o nome capaz de enfrentar Lula. 

Arranca muito atrás da ex-primeira-dama na base bolsonarista, decisiva para um plano de voo, mas sinaliza que ele, e não ela, e muito menos Eduardo, pode enfrentar Lula como nome identificado com o que ainda é o bolsonarismo. É o que tem melhor performance contra Lula em todas as pesquisas.

Tarcísio pode ser visto com desconfiança pelos bolsonaristas, mas não tem o teto baixo de Michelle e Eduardo. Ele é quem alarga alcances, por ser hoje muito mais um candidato da direita em geral e do centrão do que da extrema direita.

O trainee pode explicar melhor. Mas o que se tem hoje é que Tarcísio não precisa ser tão fiel ao bolsonarismo raiz, que de certa forma quase o esnoba, para manter a ambição de enfrentar Lula. 

Repita-se: Tarcísio é muito mais o candidato da antiga direita e por isso se mantém competitivo, mesmo tendo a simpatia de apenas 20% dos bolsonaristas, se colocado num confronto com Michelle e Eduardo. 

E Zema, Leite, Caiado, Ratinho? Esses não são herdeiros de nada no bolsonarismo, apesar de se esforçarem para mostrar que têm afinidades, e têm mesmo, com os bolsonaristas.

Mesmo que não esteja curtindo a vida de exilado, Eduardo pode estar condenado a ficar para sempre nos Estados Unidos, mais ainda com o novo cerco sofrido pelo pai. E Michelle já deve se imaginar senadora por Brasília, com voto e mandato e sem a sombra do marido agora em prisão domiciliar. 

Assim, com caminho livre, Tarcísio pode se apresentar como o candidato da direita, e não do patrão com um pé na cadeia, seguir em frente e enfrentar Lula em 2026. 

É possível? Pelos números da Quaest hoje, sim. Mas o trainee vai dizer o seguinte. Quando insinuar que está se desconectando do bolsonarismo mais desvairado e abandonando a ideia da anistia e jogando fora o boné de Trump, Tarcísio provocará reações imprevisíveis.

E aí os números, os humores e os odores podem se mexer de novo. A recomendação da Faria Lima e dos jornalões, principalmente pela voz do Estadão, é clara: deixa de se intoxicar com Bolsonaro, larga esse vício e vem para o nosso lado.

A decisão de Tarcísio pode abalar as estruturas da extrema direita, se a resolução do dilema do fica ou foge atiçar o núcleo alquebrado mas ainda vivo do bolsonarismo fiel a Bolsonaro.

E como ficam as bases bolsonaristas no Congresso e nos municípios, se Tarcísio for visto como um homem livre, mas terrivelmente ingrato? Isso se ajeita com a força e a boa vontade do centrão, como se ajeitou antes com o próprio Bolsonaro. 

Se tiver coragem, Tarcísio pode matar o velho e criar o novo bolsonarismo. Desde que não tire foto ao lado de Bolsonaro com tornozeleira.

  • Imagem do governador Tarcísio de Freitas. Foto: Mônica Andrade/Governo do Estado de SP

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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