(Foto: Alan Santos/PR)

Agora, sim, Michel se juntou à sua turma

5 de outubro de 2022, 15:15

Acabamos de ter a melhor notícia do dia. Michel estará do lado que sempre esteve: no do golpe e sua continuidade. Declarou – para zero surpresa de ninguém -, apoio a Bolsonaro. 

O que esperar de alguém que jamais enfrentou situações de embates? O que esperar de um homem que se acostumou a se esgueirar pelos corredores do poder, agindo nos bastidores? Aliás, é bom que se registre, não interessa ter ao nosso lado alguém que leva o rótulo de traidor. Não queremos nos ombrear com traidores. Não soma, não acrescenta, ter em nossas fileiras alguém que nos atirou num fosso histórico sem tamanho, por pura ambição pessoal, aliada a um projeto de entreguismo do seu país, em troca de alguns privilégios. 

Não há o que esperar, de quem não aprendeu a apreciar a cultura (matou-a, em seu primeiro ato), o trabalhador (destruiu os direitos), a educação (deixou à míngua as universidades). Não soma, alguém que faz picadinho do Brasil e serviu em uma bandeja aos interesses internacionais. 

Agora, sim, Michel foi ao encontro da sua turma. Vai se confraternizar com os homens brancos, ricos e conservadores. Os mesmos que estão estampados na sua foto de “posse”, onde não coube nem sequer a sua mulher “bela e recatada”, como ele pensa que devem ser as mulheres com quem consegue dialogar. 

Quando se sentiu abandonado pela presidente Dilma Rousseff, a primeira mulher a comandar o país, tendo-o como vice, Michel usou da mídia tradicional para publicar uma cartinha em papel perfumado e banhado com suas lágrimas de lamúria. Não se dignou a pedir uma audiência e fazer uma DR (discussão da relação). Por quê? Porque os homens como ele odeiam DRs. Acham que vão acabar em choro e eles não suportam ver mulheres chorando. Com Dilma, não. Ela argumenta. Ela olha nos olhos e o desconserta. Ela tem o poder de colocá-lo diante do espelho que o acusa: fraco.

A imagem que melhor o traduz é ele, em toda a sua insignificância, afundado em uma poltrona do avião presidencial vazio, que o levaria a Brasília no dia 8 de setembro de 2021, rumo ao closet do palácio da Alvorada, de onde resgataria entre scarpins e vestidos de Michelle, a figura apática e acovardada de Bolsonaro. 

Os dois golpistas ficaram frente a frente. Michel na condição de confidente, Bolsonaro na condição de pedinte: “fiz m…”. Ali, nesse momento, é possível que Michel tenha se sentido poderoso. Tomou-se de uma caneta e escreveu o “indulto” solicitado por Bolsonaro á nação. Chamou Alexandre de Moraes e fez presidente e ministro do Supremo cruzarem os mindinhos, numa trégua que pouco durou, porque o seu “afilhado” tem na essência a índole dos transgressores e o ímpeto do retrocesso.

Vá, Michel, terminar o seu serviço, o de ghost Writer de pedido de desculpas. Coisa que, aliás, quem deveria pedir é você. Desculpa por ter nos metido nesta sinuca de bico. Desculpa por nos empurrar ladeira à baixo. Desculpa por sair das sombras dos corredores do Congresso, onde você sempre soube trafegar bem, com suas ofertas a deputados do baixo clero, para se segurar no poder. E poder aí, vai desde os seus pequenos poderes, até o poder máximo, de onde você quase despencou abraçado a algumas postas de carne de primeira. E só não caiu porque gastou 14 bilhões para ficar na cadeira.

Vá, Michel, comer picanha à beira da piscina do Alvorada, ao lado de Bolsonaro. Assim, garantirá a sobremesa (leite condensado), modelos de próteses penianas e caixas de Viagra. Um futuro e tanto. 

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Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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