Ministro Alexandre de Moraes (Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE) Ministro Alexandre de Moraes (Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE)

Alexandre de Moraes levanta o fogo da panela que cozinha os manezões

22 de agosto de 2023, 18:44

Há um recado na decisão de Alexandre de Moraes de manter sob investigação apenas dois dos oito tios do zap flagrados, em agosto do ano passado, trocando mensagens pró-golpe.

O ministro informa, um ano depois da abertura do inquérito, que está apartando do grupo os desimportantes, para ficar só com os que interessam.

Seis não teriam cometido crime e tampouco têm relevância para a compreensão do que faziam antes da eleição, quando alguns deles assumiam posições golpistas explícitas.

Dois continuam sob os seus cuidados. São os empresários multimilionários Luciano Hang, o autoproclamado véio da Havan, e Meyer Nigri, da Tecnisa.

E esses são os que estão livres da acusação de que tramavam um golpe, se Lula fosse eleito: José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Sierra), Marco Aurélio Raimundo (Mormaii) e Afrânio Bandeira (Coco Bambu).

Por que só dois continuam de castigo? Porque a Polícia Federal confirmou em relatório a Moraes que Nigri entregou a senha de um celular apreendido em batida na casa dele.

E que a partir daí a polícia descobriu que ele reproduzia mensagens golpistas e fake news vindas diretamente de um celular de Bolsonaro.

Luciano Hang fica no inquérito porque, nesse caso, é um arquivo parcialmente aberto. Teve um celular apreendido, mas não forneceu a senha. Se não colaborou, continua sob investigação.

É interessante que Moraes tenha feito essa apartação a dois dias do aniversário da operação de busca e apreensão contra o grupo de tios ricaços, no dia 23 de agosto de 2022. Lula tinha 47% das intenções de voto, e Bolsonaro, 32%, segundo o Datafolha

Desde então, todos os oito ficaram de fora das redes sociais. O que foi uma punição de Moraes, ao tirá-los da exposição e da militância na internet, pode ter sido uma trava salvadora.

O ministro tirou do ar um grupo de bolsonaristas poderosos, dois meses antes da eleição, e pode ter evitado complicações maiores para a turma.

O sinal dado agora é este: Hang e Nigri continuam na panela e podem estar saindo do cozimento em banho-maria e entrando em fogo alto.

Pode ter chegado ao fim o purgatório que manteve o grupo sob vigília, mas sem avanços aparentes, durante um ano.

Hang já havia sofrido busca e apreensão no inquérito aberto em abril de 2019, também sob os cuidados de Moraes e que engloba fake news, atos antidemocráticos, gabinete do ódio e milícias digitais.

E está na lista dos 79 nomes do relatório da CPI da Pandemia, enviada ao Ministério Público, como suspeito de participação no gabinete paralelo do Ministério da Saúde.

O empresário defendia o tratamento precoce e ao mesmo tempo participava de um grupo de amigos que tentava comprar a vacina para as suas empresas. É citado no relatório sob a acusação de incitação ao crime.

Ele e todos os outros 78 da lista estão livres de indiciamento até hoje. A entrega do relatório completa dois anos em setembro. Todos estão impunes.

A dispensa do grupo de tios do zap que agora se vê livre de Moraes, e do qual restam apenas dois ainda investigáveis, reforça o cenário que prevalece até o momento.

O sistema de Justiça ainda não alcançou os manezões, em meio à abertura de centenas de processos contra manezinhos.

Se os dois que restam também escaparem mais adiante, estaremos todos constrangidos diante de uma constatação terrível para a autoestima da democracia.

Se isso acontecer, no segmento desse e de outros agrupamentos de ativistas civis golpistas, terá sobrado só para os manezinhos do 8 de janeiro e para empresários de uma linha intermediária.

Sabe-se muito bem o poder de destruição da eventual impunidade de manezões endinheirados que, desde muito antes do 8 de janeiro, ajudaram a articular, financiar e operar o golpe.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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