
Bolsonaro cada vez mais próximo da hora da verdade
São muitos, incluindo os donos de murais de recados da grande imprensa, os que contribuem para o erro de que Bolsonaro não anuncia o seu ungido para 2026 porque pretende se manter vivo como candidato até quando for possível, mesmo se estiver preso.
O que Bolsonaro tenta é se afastar da realidade de que está morto politicamente, para adiar escolhas até o último minuto. Antes de passar mal em Goiás e retornar nessa sexta-feira a Brasília, ele admitiu em discurso que vomita 10 vezes por dia.
Bolsonaro não tem mais pique e saúde para almejar embates políticos pesados e intensos, nem na próxima semana, nem no ano que vem. Bolsonaro perdeu as forças.
Líderes e quadros do bolsonarismo tentam afastá-lo da arena, para que as coisas se definam. E o próprio eleitor bolsonarista já pediu, como mostram as pesquisas, que ele desista de fingir que resiste.
Mas, se abandonar o fingimento, se admitir que pretende sobreviver apenas como mito – e ainda capaz de interferir em escolhas da velha direita –, Bolsonaro terá que dizer quem afinal é o seu candidato. Hoje, seria Tarcísio de Freitas, o cara que já vestiu o boné do neonazismo de Trump e carrega nos ombros a bandeira de Israel.
O governador, que a Folha exalta como o menos rejeitado de todos os pretendeste à bênção de Bolsonaro, tem a seu favor o que Michelle não tem. Tarcísio desfruta do apoio aberto da direita que ficou perdida com o fim do tucanismo.
A maioria dos eleitores tem imagem negativa de Israel. É também a maioria que desaprova Trump, como mostram Datafolha e Quaest. Mas Tarcísio mantém suas adesões de alto risco.
Calculou que poderia colocar o boné vermelho da América grande de novo e voltou a calcular que seria bom aparecer enrolado na bandeira de Israel, na Marcha para Cristo. Nas duas situações, não há impulso, há cálculo político.
Para Tarcísio, o que importa é fidelizar o contingente evangélico, para não deixar Michelle sozinha nesse campo. Israel é ponto de conexão dos neopentecostais com a ideia do Jesus que voltará, mesmo com a confusão, por ignorância bem planejada, entre Cristo e judaísmo.
E Israel é também importante na conexão com as elites econômicas de direita, e não só com judeus, inclusive de esquerda, que associam sionismo ao fascismo brasileiro na luta contra palestinos e o mundo árabe.
E Trump? Tarcísio marcou, com o boné, seus laços com a imagem do líder da extrema direita mundial, e não precisa mais falar nisso. Não precisa voltar a colocar o boné nem andar de novo com a bandeira de Israel nos ombros. O recado foi dado. A rejeição a Israel e a Trump não preocupa, porque se dilui em meio a outros problemas e interesses.
Com boné e bandeira, Tarcísio fideliza a base e começa a pensar no que importa. Alargar esse lastro na direção da direita antiga, que pretende usá-lo, como usou Bolsonaro, como o cara capaz de inviabilizar Lula em 2026.
Com uma diferença importante sobre como os dois são vistos. Em 2018, Bolsonaro foi uma gambiarra pura, genuína, e seria de novo em 2022, mas Tarcísio, não.
Tarcísio é a aposta de que vem aí uma nova direita nascida de uma costela de Bolsonaro, dependente do bolsonarismo, mas aceitável pelas velhas elites ressentidas, desamparadas e hoje sem a menor chance de ter um Zema ou um Eduardo Leite como alternativas viáveis.
Por isso, o Bolsonaro que voltou a passar mal em Goiás se aproxima, sem volta, da hora da verdade, quando terá de dizer publicamente: cansei, estou saltando fora e indico meu preferido.
Porque ninguém mais acredita, nem na família, que possa continuar interpretando o líder fascista que finge estar vivo, enquanto todos desejam que ele se aceite como morto.
Jair Bolsonaro durante interrogatório no STF. Foto: Gustavo Moreno/STF.