
Bolsonaro é um homem sem forças

Bolsonaro é o único chefe de organização criminosa, já condenado, que cumpre agenda de visitas em casa, antes de saber onde irá cumprir a pena de 27 anos de prisão. É uma agenda autorizada pela Justiça, que inclui a visita de gente com pendências na própria Justiça.
Logo depois da decretação da prisão, em 4 agosto, e mesmo após a condenação, em 11 de setembro, a programação dos visitantes de Bolsonaro era destacada em chamadas de capa dos jornais online.
O entra e sai atendia à curiosidade dos que desejavam saber quem ainda ouvia Bolsonaro. E assim foi até agora, com Sóstenes Cavalcante, Tarcísio de Freitas, Damares Alves, o senador Astronauta, Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto, deputados, os filhos e os advogados.
Mas hoje ninguém sabe quem visita Bolsonaro, porque a agenda não tem tanta divulgação e as figuras passaram a se repetir. E porque Bolsonaro pouco ou nada tem a dizer a visitantes confusos, divididos e deprimidos.
É um cenário que abala as especulações, só mantidas pela inércia de certo jornalismo, de que a inspiração, o respeito e a fala de Bolsonaro e mais a sua bênção a um candidato ainda teriam relevância para a força eleitoral da direita.
É possível que Bolsonaro já saiba o que o entorno que o protege e parte da mídia desorientada teimam em esconder. Que ele já não significa muita coisa para ninguém.
Bolsonaro não tem mais a mesma imposição sobre os liderados. Não por estar contido em casa, porque Lula se manteve líder durante e depois de 580 dias encarcerado. Mas porque Bolsonaro não tem condições de transmitir influência e poder.
Bolsonaro é um homem doente, mas também não é só por isso que passa fragilidade. No momento em que enfrenta uma situação desfavorável, depois de perder a eleição, de fracassar como golpista e ser condenado, Bolsonaro se revela um sujeito sem ferramentas para reagir.
Nunca teve turma, nunca liderou articulações como parlamentar, nunca teve expressão alguma como voz no Congresso, mas mesmo assim se elegeu presidente. Não aprendeu muita coisa.
Agora em situação difícil, Bolsonaro é desafiado a ser um político com capacidade de preservação do que teria conquistado como líder fascista que liderou pelo menos metade do país. E isso ele não tem.
Bolsonaro perdeu base social, como mostram as pesquisas, por não ter condições de se reerguer politicamente como referência para toda a direita, e não só para o bolsonarismo. Bolsonaro é um homem sem forças.
É possível que sua manifestação, quando decidir indicar o ungido, não se sabe quando, provoque algum efeito. Mas hoje Bolsonaro é muito mais um traste do qual Valdemar, Kassab e Ciro Nogueira não sabem ainda como se livrar.
Durou pouco o tempo o esforço para vender a ideia de que Bolsonaro seria candidato até o fim, porque o imponderável e a anistia dariam um jeito e ele, a família, os militares e os manés seriam salvos.
Se Valdemar visitar Bolsonaro hoje, a agenda deve ser muito mais escondida do que divulgada. O dono do PL não pode e não quer fazer mais nada por Bolsonaro. Poucos se esforçam para salvá-lo, enquanto Eduardo finge que o pai é sua prioridade.
Sabe-se agora que Caiado pediu para visitá-lo. Uma visita a Bolsonaro hoje só teria alguma utilidade se Caiado fosse escutá-lo sobre a situação do Palmeiras depois da derrota para o Flamengo.
- Ex-presidente Jair Bolsonaro em sua casa em Brasília onde cumpre prisão domiciliar. Foto: Diego Herculano/Reuters