Guilherme Boulos (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

Boulos medita na encruzilhada a um ano da eleição de sua vida

18 de outubro de 2023, 19:46

Guilherme Boulos reuniu  pela primeira vez nesta semana o comando completo de sua campanha a prefeito de São Paulo, com todos os partidos que o integram: PT, PCdoB e Rede, além do PSOL. A adesão de PDT e Avante depende de conversas.

Para Boulos, a campanha já começou até porque o prefeito Ricardo Nunes precisou precipitá-la para tentar reverter os baixos índices de aprovação de sua gestão.

O grande dilema de Nunes é como herdar os votos do bolsonarismo sem herdar também sua rejeição. Se se associar à imagem de Bolsonaro em São Paulo, ele perde.

O bolsonarismo optou por lançar candidaturas puro-sangue nas cidades em que tem chance clara de vitória. Onde a rejeição a Bolsonaro tem mais peso, como a capital de São Paulo, a intenção é apoiar quem, na direita, tenha condições de derrotar a esquerda.

Por essa razão, Bolsonaro fulminou a candidatura bolsonarista raiz de seu ex-ministro Ricardo Salles em São Paulo.

“Nunes corre atrás agora do prejuízo causado por sua gestão desastrosa. Agora acelera a gastança com um programa que chama de emergencial, para dispensar licitações,  o que permite falcatruas necessárias para destravar sua campanha. Tem à disposição um orçamento municipal recorde de R$ 95,8 bilhões neste ano, o terceiro maior do Brasil, superior não só ao de qualquer outra cidade, mas também ao de todos os estados, com exceção de São Paulo e, claro, do governo federal. Só para gastar com publicidade,  marketing e relações públicas são uns R$ 200 milhões. São números que abrem portas e compram simpatias.

Por lei, o gasto de 2023 é usado para calcular o que será despendido em 2024, quando a derrama eleitoreira será ainda maior”, diz. O orçamento de 2024 deve saltar para R$ 110 bilhões.

Ter a máquina e as verbas, porém, não garante a vitória quando a candidatura de direita flutua sobre a polarização. O ex-governador paulista Rodrigo Garcia, por exemplo, disputou a reeleição sem a benção do fascismo e chegou em quarto lugar.

Boulos, de seu lado, tem consciência de que a vantagem de que desfruta nas pesquisas é pequena e pode se evaporar. Até agora dispõe apenas de sua verba como deputado federal e precisa tomar a iniciativa na criação de fatos políticos que ditem o ritmo da campanha. Já abriu 5 processos denunciando esquemas nas obras emergenciais de Nunes.

Para repercutir precisa do engajamento agora da mídia de esquerda e com ela da militância de esquerda, que já elegeu alternadamente três prefeitos progressistas na cidade. Não pretende renegar seu berço, o movimento dos sem-teto. Ao contrário, quer politizar o núcleo do debate sobre habitação e desigualdade, discutindo a importância de que todos participem dos benefícios da riqueza.

Há diversas propostas sobre a mesa em áreas prioritárias, as quais o coordenador do programa de governo, o petista Antônio Donato, vai se debruçar junto aos diversos comitês temáticos. Uma delas, se for considerada viável, tem potencial transformador e inúmeras implicações: a tarifa zero nos ônibus do município.

Há muitas ideias no lado programático nessa campanha que deseja ser ampla, engajar os especialistas e os movimentos sociais. Para Boulos, essa ampliação começa pela escolha de sua vice, que será petista, mas com potencial de atrair eleitores e lideranças de um espectro mais amplo.

Escrito por:

Jornalista, diretor da Casa do Saber, ex-secretário de Redação e ex-ombudman da Folha, ex-ombudsman da Folha e do iG. Knight Fellow da Universidade de Stanford. Doutor em Letras Clássicas pela USP

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