Brasileira afirma ter sido agredida pelo ex-marido em Portugal e critica falta de proteção
A brasileira Adriane Barbosa, de 38 anos, afirma ter sofrido violência doméstica dentro do apartamento onde vive com o filho de nove anos, em Vila Nova de Gaia, região próxima à cidade do Porto, em Portugal. A Opera Mundi, ela denunciou o ex-marido pela agressão.
Adriane contou que foi casada por 13 anos com Marcos F., que, segundo ela, não aceitou o fim da relação após episódios de agressões verbais e morais.
No dia da agressão, Adriane relatou que tentou se afastar do ex-marido, pedindo ao filho que fosse para a sala. O agressor, porém, fechou as janelas, aumentou o volume da TV e trancou a porta do quarto. De acordo com a denúncia, o ex-companheiro a enforcou sobre a cama e jogou o aparelho celular que estava com ela no chão. Após a agressão, Adriane conseguiu se desvencilhar, pegar o filho e fugir do local.
Ela afirma ainda que o ex-marido tentou agredi-la novamente em 1º de dezembro, no caminho entre o trabalho e sua casa.
“Quando ele começou a me seguir, tive que sair correndo na rua, porque não tinha ninguém e estava chovendo demais. Ele segurou a minha bolsa, fechou a mão como se fosse me golpear e disse que iria passar dos limites, que eu veria o que ele faria comigo. Desde então, não fui mais trabalhar porque não me sinto segura saindo sozinha do trabalho às 21h”, disse.

Adriane relatou as agressões nas redes sociais
Reprodução
O caso foi denunciado à Guarda Nacional Republicana (GNR), mas Adriane afirma sentir-se abandonada pelas autoridades portuguesas. Opera Mundi entrou em contato com o órgão, mas não obteve retorno. Após o contato da reportagem, a brasileira recebeu o “botão do pânico”, um sistema discreto criado para auxiliar na comunicação e localização de vítimas em situações de extrema urgência.
Atualmente, mais de 6 mil mulheres utilizam essa ferramenta em Portugal. Segundo o Portal da Violência Doméstica, atualizado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Gênero (CIG), o número de pedidos pelo “botão do pânico” triplicou desde 2018.
Violência contra as mulheres
Segundo o relatório anual do Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), da associação União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), 24 mulheres foram assassinadas em Portugal neste ano. Desse total, 21 foram feminicídios: 16 ocorreram no contexto de relações de intimidade (namoro ou casamento) e cinco em ambiente familiar.
O documento também destaca que, em mais da metade dos casos (57%), havia histórico de violência doméstica, e muitos episódios eram conhecidos previamente por terceiros, como familiares, amigos ou conhecidos.
Em maio, o Grupo de Peritos Independentes do Conselho da Europa sobre a implementação da Convenção de Istambul (GREVIO) reconheceu que Portugal tem realizado “progressos significativos” no combate à violência contra as mulheres. No entanto, apontou que são “necessárias ações urgentes em certas áreas” para que a convenção internacional, ratificada pelo país em 2013, seja plenamente cumprida.
Apesar da pressão de familiares para que regresse ao Brasil, Adriane mantém o desejo de construir uma vida segura no país onde vive há três anos, mas não descarta a possibilidade de retorno devido ao risco iminente que enfrenta atualmente.
“Tenho aqui as coisas encaminhadas, o meu filho gosta daqui e vai bem na escola. Nós nos estabilizamos”, disse, enfatizando que sua prioridade é romper o ciclo de vulnerabilidade: “não dá para viver à mercê de uma pessoa que já mostrou não ter capacidade de agir em conformidade com a lei e com os direitos humanos”.