
Eduardo não é um moleque, é um golpista perdedor
O estagiário do Supremo sabe por que Eduardo Bolsonaro não será preso. Porque, dirá o estagiário a quem perguntar, o Brasil não consegue fazer valer nem mesmo uma ordem de prisão contra Allan dos Santos.
Sim, mas dirão que o general Braga Netto foi encarcerado. Alexandre de Moraes conteve o mais poderoso general da era Bolsonaro, ex-ministro da Defesa, ex-candidato a vice na chapa do líder golpista e ex-chefe militar do golpe.
O estagiário responderá: Braga Netto está preso porque não tem base política, não tem voto e não tem nem quem vá bater panela por ele na frente do quartel onde está preso no Comando da 1ª Divisão do Exército, no Rio.
Ninguém se lembra que Braga Netto está preso preventivamente há cinco meses e ninguém espera que Nikolas Ferreira faça vídeos para defender sua libertação. Ninguém defende Braga Netto. Ninguém fala de Braga Netto, nem de bem nem de mal.
O estagiário sabe que, para o sistema de Justiça, a farda não importa mais. A versão que ficou, de um amigo do general preso, é a de que os militares jogavam vôlei no posto seis de Copacabana enquanto os manés invadiam Brasília no 8 de janeiro. Os outros que não jogavam vôlei jogavam dama no Clube Militar.
Ninguém mais teme os militares. O estagiário do Supremo sabe que hoje os militares não confiam uns nos outros. O que resta de poder na extrema direita é a força civil, com voto. Por isso Eduardo foi buscar refúgio nos Estados Unidos, para mandar avisos e se fortalecer nas suas bases.
E esse, o filho de Bolsonaro, ninguém pega. Não pegam porque está fora do país e porque todos os que fugiram para os Estados Unidos e para a Europa tiveram pedidos de extradição negados.
Todos são vistos como perseguidos políticos. Vale para Allan dos Santos nos EUA e também para Oswaldo Eustáquio na Espanha. As instituições locais e a Interpol não enxergam nenhum dos dois como criminosos.
Os únicos fugidos alcançados pelo sistema de Justiça brasileiro, a partir de pedidos de extradição, foram os manés que se esconderam na Argentina. Porque eram a parte fraca do golpe. Acamparam ao lado de quartéis, invadiram prédios e quebraram o patrimônio público.
Réus ou já condenados, foram se refugiar em Mendoza. Se apenas mantivessem blogs e TikToks ameaçadores e se tivessem fugido para o Texas, poderiam estar na mesma situação de Allan e Eustáquio.
Eduardo, que os jornais tratam como se fosse apenas um moleque, atribuindo a definição a ministros do Supremo, não será preso lá fora e mandado de volta para o Brasil. E, se decidir voltar, talvez não seja preso aqui dentro.
O que o estagiário também sabe é que a situação hoje é a mesma do jogo de damas no Clube de Militar. Alguém espera um movimento falso do adversário, ou que o outro cochile. É assim no xadrez, no futebol, no tênis e na política.
É preciso jogar em cima do vacilo do outro. No pôquer com Moraes, Eduardo tenta mostrar que tem cartas e que estaria fazendo movimentos externos que o fortalecem.
Ninguém, nem ele, nem o pai, nem os trumpistas que o protegem sabem se é isso mesmo. Eduardo joga com o blefe e investe no charme do autoexílio, que pode não funcionar hoje como funcionou nos séculos anteriores.
O pai dele, que fugiu no fim de 2022 para o mesmo país, fez o cálculo de risco mais elementar. Se o 8 de janeiro desse errado, ele estaria fora. Se desse certo, voltaria e nem precisaria mais do dinheiro das joias que o avião da FAB levou para Orlando.
Eduardo está onde o pai já esteve e não faz molecagem, como repetem os colunistas do Globo. Faz o que sobrou para a família e os réus golpistas. Acolhido por Trump, vê Marco Rubio mandar recados que serão repercutidos aqui por Deltan Dallagnol e William Waack. Vem aí o inferno, dizem eles.
O estagiário sabe que Eduardo quer manter o bolsonarismo atento e mobilizado. Quanto maior sua agressividade nas afrontas a Alexandre de Moraes, maior a fidelização da sua turma. Está fora porque não pode contar com os generais.
Nem um cabo e um jipe Eduardo tem mais. Tem um governo assumidamente neonazista que o protege, para que, blefando dos Estados Unidos, paute a extrema direita e o colunismo dos jornalões.
Eduardo é, desde 2022, um perdedor. Perdeu a aposta contra as eleições. Perdeu a eleição. Perdeu como golpista e está perdendo mais um duelo contra Moraes. Pode até não ser preso. Solto, continuará sendo um perdedor.
Foto: Elizabeth Frantz/Reuters