CPMI dos Atos Golpistas de 8 de Janeiro (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Falta alguém no banco dos réus: a cúpula das Forças Armadas

28 de junho de 2023, 10:05

O deputado Rogerio Correia (PT-MG) reagiu ao depoimento do coronel Jean Lawand Jr  na CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro chamando o militar de mentiroso.

Como se sabe, o coronel enviou mensagens ao ajudante de ordens de Jair Bolsonaro,  tenente-coronel Mauro Cid, suplicando que ele extraísse do ex-presidente uma ordem de golpe de Estado em dezembro passado, nas vésperas da posse de Lula.

Outro deputado, Aliel Machado (PV-PR), reservou para Lawand, ex-subchefe do Alto Comando do Estado-Maior do Exército, o qualificativo de “covarde”.

Lawand já foi subchefe do Estado Maior do Exército e, de acordo com as investigações da Polícia Federal, implorou a Mauro Cid convencer Jair Bolsonaro a não permitir, por meio de um golpe, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomasse posse em 1º de janeiro deste ano.

Lawand escreveu assim a seu colega: “Cid, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem! Se a cúpula do Exército não está com ele, de divisão pra baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus.”

 Na sessão da CPMI desta terça-feira,  Lawand saiu-se com a versão de que essas mensagens tencionavam na verdade “apaziguar”, obter uma palavra de aceitação de Bolsonaro do resultado das urnas.

Ninguém acredita, e o mais patético é que um militar na iminência de tornar-se general depois de evidentemente rogar  pela virada de mesa pela força das armas apele agora para versão tão descabelada e acovardada.

  Cada um escolhe o seu ridículo.

 De fato, na hora h, como a mensagem sugere, nem Bolsonaro nem o Alto Comando das Forças Armadas deu a ordem de golpe.

Que não tenham dado a ordem não os exime de culpa, porém. 

 Bolsonaro deve ir para o banco dos réus por promover o golpe, mas isso é pouco.

O Alto Comando militar tolerou, incentivou e agiu em favor da fermentação golpista.  

 Os quartéis em todo o país hospedaram acampamentos golpistas ao longo de várias semanas.

O comando do Exército em Brasília impediu em diversas ocasiões, inclusive na noite depois das depredações na Praça dos Três Poderes, que a Polícia Militar do Distrito Federal dissolvesse a turba endemoniada.

 Quando se fala Alto Comando do Exército a referência é a este órgão que está no poder, intacto. 

 Essencialmente é o mesmo que manteve o tenebroso incentivo à agitação golpista. Os generais,  com poucas exceções, são os mesmos. O atual chefe da Força,  general Tomás Paiva, chefiava o 2⁰ Exército, onde igualmente,  com sua simpatia, a agitação crepitava. 

 Insuflaram nacionalmente em unidade coesa e disciplinada, partindo de cima para baixo, do comando maior para os destacamentos médios e inferiores. Parentes de generais confraternizaram com a subversão. 

 Agora, o Alto Comando deve uma satisfação ao país por ter incentivado a  baderna. Vai se ocultar na covardia de não assumir suas responsabilidades? Que não tenha apoiado o golpe pode ser até evidência de um oportunismo e conveniência diante da correlação de forças, mas não de convicção democrática, respeito às urnas e a lei. 

 Houvesse condições e apoio político,  dariam a ordem que Lawand e outros tanto ansiavam. O alto comando segue incólume fingindo inocente, sem coragem de admitir que fez o que fez. A cúpula das Forças Armadas precisa ser responsabilizada.

Escrito por:

Jornalista, diretor da Casa do Saber, ex-secretário de Redação e ex-ombudman da Folha, ex-ombudsman da Folha e do iG. Knight Fellow da Universidade de Stanford. Doutor em Letras Clássicas pela USP

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